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quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Heavy Metal: arte e cultura

That is not dead
Which can eternal lie
Yet with strange aeons
Even death may die - H. P. Lovecraft


Há cerca de dez anos, Greg Graffin, vocalista da banda punk Bad Religion, entrevistado pela revista Rock Brigade, declarava em tom apocalíptico que o fim do Heavy Metal estava próximo, pois, na sua visão, era um estilo musical absolutamente superficial. Um equívoco monumental, uma declaração extemporânea. Os anos 90 foram pródigos em tentativas sucessivas de derrubar o mais poderoso gênero musical do século XX, gente do próprio meio, tal como Rob Halford, vocal do Judas Priest, deu declarações semelhantes. No início da mesma década, o estilo grunge surgiu com força, fazendo estourar bandas como Nirvana e Pearl Jam. Apenas alguns anos mais tarde e um suicídio depois, o grunge havia morrido mais depressa do que apareceu. Ah sim, os fãs do Pearl Jam já irão colocar os dedos em riste e..., chega! O Pearl Jam é uma banda que nada representa na história da música.
Em 1999 a afirmação de Graffin já não condizia em nada com a realidade, não demoraria para que o próprio Halford voltasse ao Judas Priest, Bruce Dickinson havia lançado dois excelentes álbuns na companhia do excepcional Adrian Smith e, em abril daquele ano, ambos voltavam ao Iron Maiden. O lendário Black Sabbath se reunia novamente e tantas outras bandas históricas se colocavam com toda imponência no cenário, fazendo jorrar no mercado discos pesados e tecnicamente primorosos, como manda o bom Heavy Metal, além de porem pé na estrada e riffs no palco, estabelecendo memoráveis turnês, principalmente na Europa e na América do Sul. Os assassinos frustrados do Heavy Metal é que jaziam em suas covas, carcomidos impiedosamente, incautos que se mostraram. Após uma década, o poder hercúleo do Heavy Metal se revela mais intacto do que nunca. Os fãs são leais e a música imorredoura, pois não se rende às podridões e efemérides do mainstream pop contemporâneo e a perícia técnica da maioria dos músicos do estilo, algo que não acontece com o pop e com o que se pode chamar de "rockzinhos", é altíssima. Além disso, e esse é o fator principal, que contraria a declaração de Graffin, o Heavy Metal é um estilo profundo em sua arte.
O vocalista do Bad Religion apenas repetiu um chavão corrente entre muitos intelectuais de botequim, a saber, que a arte só tem valor enquanto mostra-se por meio de função sociológica. Lixo! Essa laia, escória das Humanidades, é incapaz de enxergar que a parte estética da arte é inerente a ela própria. A performance técnica dos músicos de Heavy Metal ocupa importante função entre os apreciadores do gênero, uma vez que a adrenalina descarregada quando da junção entre a própria música e os malabarismos executados por um Yngwie Malmsteen com sua Fender, ou por um Tommy Aldridge atrás de sua imensa bateria, faz com que muitos impulsos humanos sejam canalizados em direção ao elemento artístico. É possível, caso se queira assim, chamar isso de “função sociológica”, embora não seja preciso. Aqui, a expressão artística enquanto tal, se basta. Não se trata de parnasianismo, já me explico. Cabe antes destacar que a arte não precisa necessariamente vetorizar uma ação direta e prática, nem criar uma “consciência” mundana posta a serviço da sociedade. Isso soa ridículo. O punk sempre teve a pretensão de incitar ideologias políticas. Não me consta que tenha feito serviço algum nesse sentido, o mundo não se tornou mais politizado e nem mais justo por conta das letras de “protesto” do punk. Fora isso, o Heavy Metal não trata somente de dragões ou de idealizações da Idade Média (outro chavão), podendo inúmeras vezes conter letras mais voltadas para a temática política, histórica ou filosófica. Tem mais, isto é, não todos evidentemente, mas uma enorme parcela dos apreciadores de Heavy Metal, possui nível cultural acima da média.
Creio que já comecei a mostrar que o Heavy Metal está longe de ser um esteticismo parnasiano. Vale ir além e argumentar que o potencial do gênero para despertar, por exemplo, o gosto pela literatura ou pela história, é imenso. Nos anos 70 o Black Sabbath foi pioneiro na introdução da literatura macabra na música, remetendo às obras do mago Aleister Crowley e de H. P. Lovecraft. Um pouco mais tarde, os britânicos do Saxon utilizaram sagas medievais em suas composições. Nos anos 80, o Iron Maiden se aproveitou magistralmente de temas relacionados à ficção sombria de Edgar Allan Poe, da obra, também de ficção (científica) Dune, da poesia místico-romântica de Samuel Taylor Coleridge e de elementos históricos, traduzidos em figuras como Gêngis Khan, Alexandre, o Grande ou narrativas a respeito da Pré-História e da conquista do fogo. O Metallica (banda que não aprecio), recorreu novamente a H. P. Lovecraft, mestre da literatura-terror para dar título à faixa "The Call Of Cthulhu", (álbum Ride The Lightining - 1984) aludindo ao Necronomicon, obra máxima do escritor. O mesmo fizeram Mercyful Fate, Blue Oyster Cult, e os já citados Yngwie Malmsteen e Iron Maiden, entre outros. Manowar e Virgin Steele, também bandas oitentistas, são conhecidas por agregarem elementos da Antiguidade em suas músicas, tal qual se observa na faixa (do Manowar) que narra o combate de Heitor contra Pátroclo, bem como a morte deste na Guerra De Tróia, ou ainda a tragédia dos Átridas e o assassinato de Pompeu (Virgin Steele). No caso do Manowar, nota-se também a presença da mitologia nórdica nas faixas "Thor, The Powerhead", "Guyana," "Sign Of The Hammer" e tantas outras. A história Contemporânea igualmente marca presença, inaugurada pelo Running Wild quando conta epicamente a Batalha de Waterloo. Também aqui, uma vez mais, o destaque vai para o Iron Maiden, trazendo temática ligada à II Guerra Mundial no discurso de Churchill que serve de intro a "Aces High", nessa própria faixa, em "Two Minutes To Midnight" e em "Tailgunner", mencionando o Enola Gay e as bombas atômicas lançadas contra o Japão. Os exemplos abundam... Diante disso e considerando-se os gêneros musicais do século XX, apenas o Heavy Metal propicia um contato tão intenso com a alta cultura. Os sociólogos de plantão e os “graffins” não veem isso porque a relação, no caso, é mais complexa.
Deve-se frisar, por fim, que a cultura musical mainstream dos tempos atuais chega a ser tão pobre, que uma grande quantidade de pessoas não é capaz de notar as conexões do Heavy Metal com a música clássica, arregalando os olhos quando isso lhes é informado. Bach, Paganini, Tomaso Albinoni, Chopin, Beethoven, estão todos presentes nas composições para guitarra de nomes como o já mencionado Malmsteen, Vinnie Moore, Tony Macalpine, Borislav Mitic, Jason Becker e Eddie Van Halen. Só a argúcia técnica de tais guitarristas lhes permite emular e adaptar os gênios do Classicismo e do Barroco.
São óbvias, apesar de obscuras para tanta gente, as relações de parentesco e fonte de inspiração entre a alta cultura e o Heavy Metal. A sociologização fanática e rasteira não pode, evidentemente, dar conta de tal apreciação. Azar dos que assim pensam, podem promover suas análises desajeitadas, podem tentar matar o Heavy Metal, mas não se esqueçam que “não está morto quem vive eternamente”...

4 comentários:

  1. Parabéns, Leo! Um texto que serve de explicação para a maioria das pessoas. Todos torcem o nariz quando se fala em Heavy Metal, limitando-se a dizer que é apenas barulheira.
    É interessante mostrar a relação entre esse gênero e a música clássica, além das passagens históricas encontradas nas letras, capas e vídeos.
    Muito bom!!

    Fernanda

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  2. HEAVY METAL é arte!!! eu amo um bom heavy metal e concordo com quase tudo que você falou. mas acho que eu não sou extremista a ponte de concordar com algo como "O Pearl Jam é uma banda que nada representa na história da música"... mas eu também nem curto muito pra dizer muita coisa a favor deles. Eu sou apenas umajovem de 18 anos que tem o privilegio de viver numa epoca em que eu tenho acesso a todo tipo de música de todas as épocas passadas(hiperbolicamente falando). Reconheço que meu tempo também está cheio de lixo sonoro, mas tem muita coisa boa por aí também. Eu aprendi a valorizar a música... seja heavy metal(com todas as suas variantes), rock-pop, rock industrial, mpb, clássica, etc. Até os músicos da minha terrinha.
    Enfim, eu gostei muito do jeito como você escreve, muito inteligente e perspicaz. E ainda por cima é vegetariano e linkou o pea no site. Isso foi muito legal. Obrigada.

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  3. Bad Religion Rules!!esses "rocks"com um marketing de satanico sao uma merda,cresce um pouco!!!

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  4. "Marketing de satânico"? rsrsrsrs
    Quem precisa crescer, não um pouco, mas muito, é você, após um comentário rasteiro como esse.
    Seguindo o chavão, "maldita inclusão digital"!

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