O técnico da seleção brasileira disse que ela nada tem a ver com a Copa fora do campo, ou seja, segundo Luiz Felipe Scolari, tudo de ruim que faz parte deste mundial e que não se relaciona com o que se passa exclusivamente dentro das quatro linhas não importa aos jogadores e à comissão técnica.
Evidentemente, o sr. Scolari, assim como tantos idiotas, pretende que a população torça para o escrete nacional, mas se ele e seus comandados nada têm a ver com a sujeirada nojenta que trouxe a disputa para o Brasil, como se não fossem, antes de tudo - ou pelo menos devessem ser - cidadãos, não há como desvincular os indivíduos e o corpo social dos fatores extracampo. Sendo assim, e assumindo que diante da enormidade de erros e falcatruas que envolvem a Copa 2014, há uma quantidade significativa de pessoas refratárias à descomunal tolice da pátria de chuteiras, conclui-se que muitos não irão torcer pela seleção brasileira. Repare por aí se há bandeiras nas janelas ou ruas decoradas com motivos verdes e amarelos. Eu não estou vendo nada aqui em São Paulo e cidades vizinhas. Menos mal.
O clima nada alvoroçado que antecede o início do torneio deixa claro que, bem ao contrário do que diz o chucro técnico da seleção brasileira, ela tem sim a ver com o que se passa fora do gramado. Qual o sentido da existência dos times nacionais? Ao se analisar a atual situação do futebol brasileiro e a própria declaração do sr. Scolari, a única resposta plausível indica que a seleção brasileira é um fim em si mesmo, um grupo de jogadores cuja maioria nem mesmo atua no Brasil, todos eles alheios a questões políticas e cujos objetivos em nada vão além das vantagens que cada um pode obter vestindo a camisa amarela. Inclui-se aí, logicamente, a comissão técnica que, além do comandante, conta com outra figura execrável, em relação à qual um pingo de respeito que seja, só pode ser visto como absurdo. O sr. Carlos Alberto Parreira, a meu ver um dos grandes responsáveis pela falência do futebol brasileiro, ao soltar uma pérola equiparável àquela que saiu da boca do diretor técnico, se mostrou em compasso com o mesmo. É de autoria do sr. Parreira a seguinte frase: "a CBF é o Brasil que deu certo". A CBF envolta em escândalos de corrupção, a CBF que há décadas virou as costas por completo à organização dos campeonatos, a CBF que não cuida de assuntos ligados à arbitragem, a CBF que não toma providência nenhuma em relação ao calendário bagunçado, em suma, o órgão máximo do futebol brasileiro que em nada exerce aquilo que deveria ser de sua responsabilidade. É essa a CBF que deu certo do sr. Parreira? A CBF que é a cara do Brasil, isto é, que compõe um pedaço da tragédia brasileira? Pior que é! E ainda tem gente que enxerga nesse sujeito alguém que mereça ser levado a sério.
De acordo com o sr. Scolari, seleção brasileira é uma coisa, já aquilo que a cerca em termos do país e do povo que representa, é outra completamente diferente. Segundo o coordenador Parreira, plenamente imbuído da famigerada e nefasta brasilidade, o errado é certo. Você terá coragem de torcer por esses caras? Ou você torce apenas pela seleção? Se respondeu "sim" à última pergunta, aconselho que preste bem atenção à fala do sr. Scolari, afinal, para ele, seleção não passa de um círculo fechado sem conexão com absolutamente nada que seja externo a ela. Trocando em miúdos, o comandante não enxerga vínculo entre o time e o torcedor-cidadão, que sofre na pele com a situação do país. Há três opções: caso concorde com o treinador, você é um Zé Ninguém que torcerá, se não concorda, mas mesmo assim acha que existe patriotismo envolvido na questão, torcerá porque é tonto, ou não torcerá e mostrará respeito por si próprio, assim como merecerá o respeito por parte daqueles que têm nojo disso tudo que está aí. A escolha é de cada um. Em tempo, fica mais outra indagação: por que a imprensa se dispõe a cobrir esse evento maldito?