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quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O peso dos dogmas e a libertação filosófica

A religião sempre foi e sempre será um assunto polêmico. Aqueles que se colocam como ateus, sofrem ainda hoje de forte preconceito, sem que a maioria dos crentes saiba que certas religiões não advogam a fé numa entidade criadora, primordial, onipotente e onisciente, com toda a contradição que esses dois últimos atributos implicam. Assim é o budismo, uma religião que está muito mais para a filosofia do que propriamente para uma questão de fé, daí minha inclinação e interesse pelos ensinamentos de Siddharta.
Religiões de revelação, tais como o cristianismo e o islamismo, me soam aterrorizantes, são autênticas prisões espirituais, uma vez que a carga de pecaminosidade que incide sobre o homem segundo seu corpo dogmático, não confere nenhuma possibilidade de construção espiritual ao crente. Resta a fé revelada e dogmática e aquele que não segui-la corretamente, está condenado à ira divina.
Essas religiões não servem às mentes inquisitivas, que buscam uma relação de interação com os mistérios, de forma que isso possa legar engrandecimento filosófico e espiritual. Deus, nas religiões reveladas, acaba se manifestando como um escape aos mistérios, uma entidade capaz de conceder o bem, caso o crente tenha uma postura de retidão religiosa. Já em caso da não obtenção da graça, fica o falso consolo de que "Ele sabe o que faz", "Ele quis assim", uma lógica perversa, pois Deus, por ser considerado acima de tudo, não permite a relação com nenhum mistério e, consequentemente, aquele engrandecimento filosófico espiritual inexiste. Assim, Deus é o próprio mistério. A mim não satisfaz, fica faltando algo.
Diferentemente da maior parte das tradicionais religiões de matriz judaico-cristã, o budismo traz consigo uma grande noção de responsabilidade individual, já que a pessoa deve procurar, a partir do diálogo com sua própria mente, a cessação, ou Nirvana, estado pelo qual se alcança a percepção da conexão de todas a formas de vida e, com isso, da impermanência e ao mesmo tempo da infinitude do Universo. É exatamente nesse sentido que a filosofia budista abre de modo inequívoco a possibilidade de engrandecimento espiritual. Ao contrário das religiões reveladas, o budismo ensina a busca da sabedoria, não fazendo pesar sobre ninguém pecados retroativos derivados de corpos dogmáticos que funcionam como tenebrosos sinais de alerta, sempre prontos a soar pelos "guardiões da fé".
O budismo não possui dogmas, apenas alguns princípios simples que auxiliam a fascinante jornada em direção ao Nirvana, dentre eles, o vegetarianismo, uma prática que, por preservar vidas, faz observar a conexão entre as criaturas sencientes e o consequente respeito pelas mesmas. É ainda por meio dessas práticas filosóficas que o budismo oferece uma relação muito mais saudável com os mistérios, porque nos ensina a não recuar diante deles, a não enquadrá-los em dogmas pré-fabricados, mas sim a encará-los com viés filosófico e espírito racional.
Experimentar o Nirvana é alcançar a mais perfeita e maravilhosa percepção de que somos todos uma única e grande entidade cósmica, é obter a compreensão de nossa finita existência individual, mas também de nossa infinitude enquanto partícipes de um processo de recriação que mantém o Universo. No momento mesmo em que se adquire a noção de que todo o Universo está interconectado numa flor ou num animal, seja ele um pequeno inseto ou um grandioso mamífero, o respeito à vida surge como consequência simples, clara e natural, respeito esse que nos responsabiliza pelo meio em que vivemos e que é parte íntima de nossa existência.

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