No último dia 10, uma queda de grandes proporções no fornecimento de energia se abateu sobre o Brasil. Segundo as informações do site Estadão, o apagão atingiu dezoito estados e fez com que cerca de 70 milhões de pessoas ficassem às escuras, mais da metade no estado de São Paulo, o centro econômico-financeiro do país.
Como quase sempre ocorre, as autoridades brasileiras prontamemte apontaram fenômenos naturais como causa do problema. Raios provenientes de uma tempestade teriam atingido uma estação de fornecimento no Paraná. É fácil afirmar tal coisa, de forma que se passa a suposta (e evidentemente falsa) noção de que ninguém pode ser responsabilizado, ou ao menos admitir que há falhas no fornecimento de energia no Brasil. A natureza é impessoal e malsã. Quem administra o país, foge da raia.
Não posso cravar que as causas não tenham sido naturais, entretanto, uma origem de tal monta não seria facilmente identificável? Duas semanas passadas desde o apagão e nenhuma autoridade respondeu coisa alguma. Outra questão: raios causarem um efeito tão acentuado no fornecimento de energia, não denota justamente que o sistema requer, no mínimo, manutenção? Pelo que se vê, as autoridades brasileiras não são capazes de reconhecer isso.
Após o problema, já adentrando na madrugada, descobri uma rara utilidade no rádio do celular, (como já coloquei neste espaço, tenho dó de quem depende de MP3) o único aparelho que naquele momento de blackout poderia trazer informações a respeito do que estava a se suceder. Decorridas aproximadamente duas horas do apagar das luzes, eis que ouço o ministro das Minas e Energia, Edson Lobão, que é advogado e jornalista, sem a menor experiência em assuntos relacionados à sua pasta, alguém que só ocupa o cargo devido aos lobbies partidários que dominam a política brasileira, declarar em entrevista que a causa do problema havia sido na usina de Itaipu. Curiosa, a peremptória afirmação do ministro depois de duas horas. Se até hoje pouco foi esclarecido... Logo em seguida, o assessor de comunicação de Itaipu, Gilmar Piola, entrou ao vivo na rádio e disse que se a causa fosse em Itaipu, a energia não teria sido reestabelecida no Paraguai, o que já havia acontecido àquela altura. No dia seguinte, a hipótese de Piola se confirmava, desmentindo a afirmação do ministro.
Diante do apagão, afora os desencontros e incertezas, algumas colocações podem ser feitas. Em primeiro, evidencia-se o fato de que o Brasil é extremamente dependente de Itaipu. Um país de cerca de 194 milhões de habitantes que, não obstante o parco crescimento observado nas últimas décadas, demanda modernização urgente em seu sistema de fornecimento de energia, capaz de atender mais e melhor. Segundo, em tempos nos quais as questões relativas à natureza e à preservação dos ecossistemas se tornaram essenciais à qualidade e à continuidade da vida na Terra e das quais está atrelado mesmo o desenvolvimento econômico, (na contramão do contexto, Lula afirmou recentemente que não é possível o desenvolvimento sem devastação ambiental - é óbvio que ele está alheio ao que se vem fazendo na Coreia do Sul, na Holanda ou na Alemanha) é um aspecto lamentável que um país com tantas potencialidades naturais, cantadas em verso e prosa pelos próceres fossilizados do desenvolvimentismo trintista, mas pouquíssimo utilizadas hodiernamente, ainda dependa em alto grau de energia hidrelétrica, não-poluente, porém causadora de impacto ambiental em sua instalação e bem menos renovável do que se pensava há cerca de duas ou três décadas. E o investimento em energia solar e eólica? Um Brasil tropical e com várias áreas de incidência ventosa considerável, investir risivelmente nessas fontes alternativas e renováveis, é quase um crime. Isso, ao mesmo tempo em que o governo se desbunda com o pré-sal e com a Petrobrás. A reboque da segunda colocação, é absolutamente incompreensível notar que no início de 2009, a federação reduziu verbas para os ministérios das Minas e Energia e do Meio Ambiente. Nada poderia ser mais contraindicado no atual contexto! Por outro lado, o assistencialismo barato e inócuo continua a avançar. Tudo errado!
É por essas e outras que concordo integralmente com o jornalista Daniel Piza quando ele escreve “Porque não me ufano” ao responder com realismo as bravatas do presidente do “nunca antes na história desse país”. É a cara do Brasil.