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terça-feira, 17 de novembro de 2009

Mais do mesmo. E o outro lado da moeda.

Escrevi há poucos dias sobre o caso Uniban e mostrei que, a meu ver, a aluna Geisy Villa Nova, apesar de ter dado, como se diz, sopa para o azar, foi a vítima do episódio em si. Isso parece óbvio.
Outro ponto que envolve a questão e que a faz ser analisada sob outro ângulo, é o fato da vítima estar se aproveitando do ocorrido para se autopromover debaixo dos holofotes da mídia. Geisy já recebeu convite para participar de filme pornô e para posar nua na Playboy. Deplorável!
Na atual sociedade de massas, contexto no qual, como bem destacou o crítico Lee Siegel em Against the Machine, a cultura já nem é feita mais para as massas, mas pelas massas, tudo se torna motivo para celebrização. Celebrização do grotesco, do ordinário, do mau gosto, daquilo que há de mais baixo na condição humana. O problema é que muitos caem nessa e defendem tais práticas, relutando em buscar os antídotos, que podem ser encontrados na alta cultura - nem seria preciso dizer que o que se entende por "alta cultura" é algo independente do fator econômico-classista; existe muita coisa valorosa na cultura popular de raiz. Todavia, devido à mediocridade intelectual e à incapacidade de sublimação diante das manifestações culturais mais herméticas ou que exigem mais da reflexão, da contemplação, que não são passivas de registro imediato e mais dependentes de um delay sensitivo e interpretativo, a alta cultura é tida pelos tipos comuns como chatice, já que exige esforço intelectual. Sinal dos tempos. Tudo que cai fácil no gosto das massas, vende bem e satisfaz de bate-pronto. Vai embora com a mesma facilidade, tornando quem é dependente, ávido por mais droga.
Quando finalizei o artigo de 12/11, coloquei que o pior no caso Uniban era o paradoxo da violência contra a mulher num país que costuma exaltar a coisificação do feminino. Também afirmei que muitas mulheres brasileiras, desatentas para o fato evidente de que a ideia da mulher-objeto pesa contra elas próprias, acabam em várias ocasiões contribuindo para perpetuar tal noção. Geisy Villa Nova o confirma categoricamente quando se expõe à mídia, aproveitando-se da execração sórdida da qual ela mesma foi vítima para tentar extrair disso algum proveito. Onde está o problema, poderiam perguntar alguns. Está simplesmente no absurdo de buscar se beneficiar a partir de um episódio que a tornou conhecida por meio de extrema violência, fazendo com que um ato covarde e criminoso possa adquirir status positivo na psicologia de uma sociedade massificada. A grosso modo, cai-se no chavão do "falem mal, mas falem de mim". Estar nos holofotes é o que importa, dane-se a perpetuação da imbecilidade, da violência, da coisificação da mulher... Quem cala consente, portanto, que ninguém que costuma compactuar com essas práticas, venha reclamar.

Pensando nisso tudo...
... cabe, a propósito, lembrar que o dia de hoje marca os 50 anos da morte de Heitor Villa-Lobos, ele que foi, sem sombra de dúvida, o melhor e maior músico e compositor da história do Brasil. A genialidade e o talento de Villa-Lobos lhe permitiram algo dificílimo, ou seja, a mescla entre elementos clássicos, historicamente estranhos ao universo musical brasileiro, e tipos sonoros característicos da natureza e da (alta) cultura local, também eles de complicada compatibilidade com o classicismo. Daí vem a obra ímpar deste artista monstruoso em sua capacidade e originalidade. Enquanto isso, a nefasta rede Globo promove um especial para homenagear Cazuza depois de 20 anos de sua morte. E assim vamos...

2 comentários:

  1. Leo,
    texto brilhante, nele esta o meu pensamento ,que jamais conseguiria transformar em palavras como voce foi capaz de fazer. se voce permitir gostaria de imprimi-lo e levar para um amigo que compactua com nossas ideias.

    Patricia

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