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sábado, 5 de junho de 2010

Quando a natureza agradece. Quando ela sofre.

Ontem (04/06) a Rede Globo exibiu no "Globo Repórter" uma reportagem sobre a Amazônia. Quando esse programa se propõe a abordar temas relacionados à natureza, torna-se um dos melhores da TV aberta no Brasil. A fotografia é excelente, o teor da reportagem, por si só já merece louvor. Viu-se ontem a majestosa Harpia, um dos maiores rapinantes do mundo, ameaçadíssmo de extinção, em seu trabalho reprodutivo. Cada vez que um filhote da ave se torna adulto, a natureza obtém uma vitória da mais alta importância. Viu-se ainda a enorme variedade de símios, quase 200 espécies diferentes, e outras que podem ainda ser desconhecidas dos cientistas, presentes apenas num nicho ecossistêmico próximo ao município de Alta Floresta, norte do Mato Grosso. Aves também estiveram presentes, belas na plumagem e/ou no canto. Um espetáculo de vida oferecido pela natureza.
Uma das coisas mais óbvias que sempre pude perceber quando em contato direto ou indireto com a natureza, é o respeito que devemos a ela. O ser humano, quando cego pela estupidez e pela soberba, acredita ser uma criatura que está na natureza, mas não percebe que faz parte dela. A diferença é grande e altera toda a relação que deve ser estabelecida para com o mundo natural. Se o tempo de existência da Terra fosse comparado a um calendário gregoriano, o Homem teria chegado ao planeta entre 30 e 31 de dezembro. Chegou depois dos outros seres vivos e em tão pouco tempo impôs uma trágica devastação ao meio natural. Devido à concepção errônea que mantêm para com a natureza, muitos de nós custam a perceber que a destruição dela, é necessariamente também a do ser humano. Os exemplos são claros e estão à vista, dia após dia.
Citei a Rede Globo no início da reflexão. Cito de novo, agora com conotação extremamente negativa. Se o "Globo Repórter" merece aplauso, o que pensar a respeito da matéria exibida no "Globo Rural" do domingo (30/05), na qual foi passada uma receita de guisado de tartaruga? Pasmem, é isso mesmo! A tartaruga, outro animal que corre sério risco de extinção, servindo de ingrediente principal no preparo de um prato da culinária amazônica. Em que lado joga a Rede Globo?
Se comer a carne do boi, do porco ou do frango, já traz prejuízos de larga monta à natureza, devido aos malefícios da pecuária, sem mencionar o próprio valor da vida de um ser senciente, imagine o consumo de tartaruga. A reportagem afirmou que as tartarugas provêm de criadouros, como se o consumo da carne do animal originário do cativeiro não pudesse incentivar a pesca predatória em ambiente natural. Afirmou-se também que esses criadouros ajudam a preservar a espécie. Ora essa, que balela, agora a preservação da tartaruga passa pelo consumo da carne do animal! Ajudariam se nenhum animal fosse morto, se fossem introduzidos na natureza, de acordo com o critério ecológico de capacidade limite. O que mata e o que incentiva o consumo da carne do animal, jamais irá ajudar a preservar. Se mais uma "modinha" culinária exótica e desnecessária cair no gosto do público, teremos restaurantes especializados em carne de tartaruga. Deplorável! Por fim, o Globo Rural tentou conferir sofisticação intelectual à sua reportagem nefasta e irresponsável, informando que o consumo da carne da tartaruga é uma tradição amazonense, desde os tempos pré-coloniais. Bingo! É lógico que o índio predava tartarugas, tatús, veados, macacos e o que mais lhe aprouvesse. Eram caçadores, apenas não geravam um impacto ambiental acentuado porque a quantidade de fauna na época era muito maior e porque o próprio contigente de população indígena não era massificado, mas não que o índio mantivesse uma relação harmônica com a natureza. Essa é uma ideia historicamente primária e absolutamente falha, pois estudos de ponta, como os de Warren Dean, já revelaram que o idílio índio-natureza nada mais é do que um produto de fantasias românticas e ideologias da esquerda festiva. A Rede Globo quis justificar historicamente o consumo de carne de tartaruga. Pífia tentativa, anacrônica e conceitualmente ultrapassada. Repito: em que lado você joga, dona Rede Globo?!
Se o atual exotismo cult na culinária, execrável em seus maneirismos em torno do consumo de carnes incomuns, estivesse, ao contrário disso, voltado para a alimentação vegetariana, isenta de sangue, dor, sofrimento, morte e prejuízos à natureza, o planeta estaria agradecendo.

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