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domingo, 3 de outubro de 2010

Brasileiro vai às urnas


Neste domingo, no momento mesmo em que escrevo estas linhas, o povo brasileiro se encaminha na direção das seções eleitorais para dar seus votos nas eleições presidenciais, estaduais e do Poder Legislativo. Na cabeça do brasileiro, o voto é o instrumento máximo da democracia, ideia que chega a ser corroborada até mesmo por boa parte da imprensa. As eleições são realizadas de tempos em tempos, tendo portanto caráter pontual, além do que, num país onde a consciência política de grande parcela de sua população é deficiente, se esquecendo em quem votou depois de alguns dias, e onde ainda os políticos formam uma casta privilegiada, não há democracia que possa se sustentar apenas esporadicamente em época eleitoral. Não, democracia não é isso, não apenas, pelo menos.
Em sociedades politicamente maduras, a democracia é uma questão cultural, o que enseja e desenvolve, por assim dizer, uma cultura democrática. Nesse tipo de sociedade, o cidadão é possuidor de liberdade politica não somente porque tem direito de votar, mas porque, sobretudo, tem a capacidade e a disposição de exercer sua cultura democrática no cotidiano, prática que se traduz pelo espírito associativo concernente ao diálogo e à cobrança em relação aos políticos. Cidadania, em outras palavras. E nisso, os canais participativos indiretos que hoje em dia são oferecidos ao cidadão, se mostram muito maiores, por exemplo, do que na Atenas clássica com sua democracia direta. Esse mecanismo revela também que o conceito de "democracia burguesa" não passa de falácia ideológica da velha esquerda autoritária.
No Brasil, em contraponto a esse sistema, a fragilidade do espírito associativo, como já elucidado por nomes do quilate de José Murilo de Carvalho, Roberto da Matta e Evaldo Cabral de Mello, não permite que o mesmo seja exercido dentro da política. Em nosso país, o maior exemplo de espírito associativo ocorre no Carnaval, festejo externo à política, que dura 5 dias por ano e que não possibilita nenhum ganho em termos de cidadania, muito pelo contrário. Não surpreende que em uma democracia coxa como a nossa, o voto seja obrigatório, pois além do próprio cidadão nutrir a ilusão de que votar faz dele um partícipe do processo democrático, muitos políticos necessitam do voto das massas em catarse para alcançar ou manter o poder. Em democracias consolidadas, o voto é apenas mais um dentre tantos mecanismos de atuação política, nem de longe o principal. Além disso, a representatividade abarca muito mais elementos do que o fato do cidadão ter votado ou não. O voto facultativo vigente em muitas democracias maduras é sempre um aspecto construtor de consciência política e a abstenção, um forte sinal de protesto quando há algum descontentamento em relação aos políticos. Já em países como o nosso, o voto obrigatório é fator essencial para o vicejar do populismo e do assistencialismo e para a perpetuação dos privilégios da casta política, amparada por votos conquistados na base do cabresto moderno, o marketing, ele próprio vetor de tantas políticas de "pai dos pobres", comuns no Brasil petista. Sendo assim, o que há de surpreendente na eleição de um Tiririca ou de um Netinho?
O paradoxo de nossa democracia de isopor atinge até mesmo detalhes mínimos, como o fato de que para se votar a partir de agora, já não basta apenas o Título de Eleitor, porém, para se obter um passaporte, esse documento deve ser apresentado, além dos comprovantes de votação na última eleição. É a cara do Brasil!
Pensando em resultados e nos prováveis eleitos, o quadro é ainda mais desanimador. No pleito presidencial, as pesquisas mostram que a maioria do eleitor brasileiro dará o voto mais conservador da Nova República, fazendo continuar a corrupção sistemática, o aparelhamento da máquina pública, o autoritarismo, a incapacidade gerencial e a ilusão do crescimento da economia baseado em commodities. Nunca antes na história desse país o eleitor foi tão cretino!
Aqui no Estado de São Paulo, para ficar apenas na análise da disputa pelo governo, sem  entrar no mérito da eleição senatorial, na qual  o resultado poderá ser aberrante, também o conservadorismo dá o tom. É lamentável observar como os paulistas não conseguem escapar à polarização PSDB-PT. Aloizio Mercadante, que pertence ao partido que tão bem representa o que foi escrito no parágrafo anterior, é o segundo colocado nas pesquisas. Já Geraldo Alckmin, um dos políticos mais anódinos de todos os tempos e que tal qual seu co-partidário José Serra, nada tem a dizer sobre urbanização, meio ambiente e tecnologia, lidera. Gente mais inteligente, como Fabio Feldmann, mal consegue atingir 1% na expectativa de voto. Isso também é a cara do Brasil!
É questão de horas para que a apuração seja completada e para que se confirme aquilo que já é previsto. E assim, mais um processo eleitoral estará findado, mais uma vez o ingênuo povo brasileiro será ludibriado e, como sempre, a democracia no país se mostrará apenas uma abstração a ser citada em vão por políticos corruptos, incompetentes, populistas, autoritários...

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