Uma aluna minha faleceu após complicações resultantes de uma cirurgia cardíaca. Ela nasceu com um defeito congênito no coração e, de tempos em tempos, era necessário trocar uma válvula artificial que lhe passou a ser implantada desde os primeiros meses de vida. Seria a última troca, mas infelizmente ela não resistiu e o problema abreviou sua vida na tenra idade de 14 para 15 anos.
Chamava-se Daniela, para quem eu lecionava já há três anos. Ela não era uma aluna de desempenho brilhante, tinha muitas dificuldades e logo pude perceber que carregava uma carência de conteúdos fruto da má qualidade quase geral da educação brasileira. Tal quadro, no entanto, nunca importou. Nesse tempo todo como seu professor, jamais a presenciei reclamando dos deveres, fazendo corpo mole ou negando esforço em alguma atividade, muito pelo contrário, sempre se revelou uma aluna comprometida e participativa. Não foi surpresa para mim observar toda sua vontade e entrega pessoal quando de uma Feira de Ciências no ano de 2009, momento no qual eu era coordenador da classe onde ela estudava. O tema do evento foi o corpo humano e a Daniela mostrou um vívido interesse em dar explicações sobre o funcionamento do coração, parte que lhe coube na exposição. Ela tirou de letra! Invariavelmente, estava envolvida nos assuntos escolares, gostava dos desafios.
Certamente a Daniela tinha seus momentos de "encheção", sem dúvida, sentia cansaço muito mais do que os outros em vista de seu problema, contudo, para ela, a superação e a obtenção de realizações se manifestavam como prova de sua capacidade, de seu esforço e de sua aptidão intelectual, mesmo com as dificuldades que tinha e com a própria saúde debilitada. Sempre foi gratificante e gerador de emoção ver com que vontade e dedicação ela cumpria suas tarefas. Gratificante para os professores, mais ainda para ela, que aprendeu com as agruras da vida, a dar valor às oportunidades. É lamentável que muitas pessoas com a saúde em dia mal se habilitem a levantar um dedo quando são exigidas.
Fica o exemplo, fica a homenagem. Daniela, descanse em paz.
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