Pedra Furada - Urubici/SC
Estive visitando cidades do Sul do Brasil (Paraná e Santa Catarina) juntamente com minha namorada durante este mês de julho. Deixo a seguir algumas impressões que obtivemos em relação aos locais que nos receberam.
Curitiba, capital paranaense, foi o primeiro ponto de parada. Já conhecíamos essa bela cidade de uma viagem anterior, quando desde então, seu charme, seu clima frio, sua limpeza, suas áreas verdes e sua urbanização nos agradaram demais. Dessa vez, paramos apenas para almoçar no bairro Santa Felicidade, que oferece ao visitante grande quantidade de cantinões italianos nos quais o rodízio de massas é fartíssimo. Novamente, foi um prazer estar em Curitiba, ainda que por um período de menos de duas horas.
A viagem seguiu até que, finalmente, já no crepúsculo, chegamos a Blumenau, onde passamos duas noites. A cidade catarinense carrega registros da cultura alemã, identificados principalmente na arquitetura da Vila Germânica e nas cervejarias da região. Vale uma visita ao Museu da Cerveja, modesto e de acervo tímido, mas instrutivo e simpático. É curioso notar como os tempos mais antigos da história da cerveja vão em sentido oposto ao consumo imoderado que dela se faz hoje. Para se ter uma ideia, na Idade Média a bebida era fabricada nos mosteiros... Falando em instituições religiosas, a Igreja Luterana de Blumenau é merecedora de atenção por parte do turista que vai à cidade. De bonita arquitetura, o templo não deixa dúvidas quanto ao germanismo trazido pelos primeiros colonizadores da região, adeptos das ideias do reformador de Wittenberg.
Em termos gerais, Blumenau transmite organização e bom planejamento, mas ficou a impressão de que lhe falta um pouco de vida, pois no domingo em que passeamos por ela, a grande maioria do comércio, incluindo bares e restaurantes, estava fechada, passando acentuada sensação de desterro. A despeito disso, cabe observar que no fim de tarde e à noite, o agito aumenta um pouco, com a abertura de alguns restaurantes.
Após as duas noites em Blumenau, deixamos a cidade e fizemos uma parada em Pomerode, possuidora de certa fama devido ao rótulo de "cidade mais alemã do Brasil". Ao turista, no entanto, um aviso: essa propalada cultura germânica não é nada evidente ao sentido visual, ficando muito mais por conta da descendência dos habitantes; nada de arquitetura ou algo mais concreto. Como ficamos pouquíssmo tempo, talvez eu esteja sendo injusto e tenha deixado de procurar por algum museu, por exemplo. Apesar do pouco apelo turístico, há em Pomerode uma ou outra loja capaz de atrair o visitante em busca de chocolates e artesanato local.
Urubici/SC
Depois da breve visita a Pomerode, saímos da região do Vale Europeu e seguimos na direção da Serra Catarinense até a cidade de Urubici, onde permaneceríamos por mais tempo, quatro noites. O forte da região são as belezas naturais, representadas por formações rochosas de altitude, grutas, cânions, cachoeiras, lagos, riachos e a típica vegetação de campos, salpicada, aqui e ali, pelos capões compostos da majestosa Araucária, o inconfundível pinheiro do Sul do Brasil.
Gralha Azul em Urubici/SC
Aproveitamos a estadia mais prolongada para conhecer essas paisagens magníficas, pouco tocadas pela mão destruidora do ser humano e para descansar na estalagem onde nos hospedamos, situada igualmente em local de exuberante e paradisíaca natureza (se alguém quiser, passo o contato). Trilhas, ar puro, pássaros, Cookie e Bala, dois cães extremamente dóceis e companheiros, a ótima cabana com lareira, bem como as excelentes refeições que nos foram preparadas, isentas dos inúmeros malefícios da carne, proporcionaram toda satisfação e conforto.
Vegetação típica em Urubici/SC
Costumo afirmar que país nenhum possui belezas naturais tão fartas e variadas quanto o Brasil, talvez o único ponto positivo que temos a destacar nesta nação, todavia, até nisso há defeitos graves, visto que muitos acessos são ruins, perigosos e mal sinalizados. Hoje em dia, as nações desenvolvidas têm no turismo uma atividade altamente rentável, sendo que o caso específico do ecoturismo, - totalmente aplicável no Brasil se não fosse pela falta de visão e interesse - quando bem planejado, deve ser visto como fator essencial na preservação da natureza. Permanecemos atrasados, muita vezes na contramão do desenvolvimento. Se a mentalidade capitalista e progressista em nosso país chega a ser rara mesmo nos grandes centros urbanos, nos rincões, está completamente ausente. Tome-se como exemplo o produtor de geleias artesanais em Urubici: ele expõe seus produtos numa cabaninha em meio à estrada de terra, só se para no local com informação obtida de antemão, nenhuma publicidade, nenhum chamativo. Depois de adquirirmos potes de geleia, muito boa, por sinal, (alguém já se deliciou com geleia de Physalis?) sugerimos que ele devesse aumentar sua exposição, vender no centro da cidade, tornar a coisa mais lucrativa, e então ele nos disse que vende no Supermercado Urubici. Fomos checar e constatamos que havia meia dúzia de potinhos escondidos num canto de balcão no fundo da loja. Esse é o pequeno produtor que, além de tudo, ainda paga pesados impostos ao governo, enquanto isso, ainda há aqueles que falam em "neoliberalismo" e "marxismo revolucionário como alternativa para o século XXI"...
Nesses dias serranos, encontramos tempo para uma ida até São Joaquim, famosa pela ocorrência de nevascas, fenômeno que também se verifica na vizinha Urubici. Mais um exemplo de precariedade turística e ausência de desenvolvimento, a cidade possui aspecto cinzento e descuidado, o que revela inexplicável desinteresse das autoridades em explorar economicamente o turismo. É sabido que neva na cidade, mas ao mesmo tempo, improvável que um turista recomende São Joaquim depois de conhecê-la. Urubici é mais jeitosa, mas nem por isso mais procurada, ao contrário, poucos sabem da existência desse refúgio ecológico. E que não venha ninguém dizer que se houvesse divulgação, perderia a vocação ecoturística. Suiça, Noruega, Finlândia, Austrália e Nova Zelândia são exemplos que desmentem categoricamente as visões românticas terceiromundistas.
Nesses dias serranos, encontramos tempo para uma ida até São Joaquim, famosa pela ocorrência de nevascas, fenômeno que também se verifica na vizinha Urubici. Mais um exemplo de precariedade turística e ausência de desenvolvimento, a cidade possui aspecto cinzento e descuidado, o que revela inexplicável desinteresse das autoridades em explorar economicamente o turismo. É sabido que neva na cidade, mas ao mesmo tempo, improvável que um turista recomende São Joaquim depois de conhecê-la. Urubici é mais jeitosa, mas nem por isso mais procurada, ao contrário, poucos sabem da existência desse refúgio ecológico. E que não venha ninguém dizer que se houvesse divulgação, perderia a vocação ecoturística. Suiça, Noruega, Finlândia, Austrália e Nova Zelândia são exemplos que desmentem categoricamente as visões românticas terceiromundistas.
Forte de São José - Florianópolis/SC
Ao fim da estadia em Urubici, deixamos para trás o campo, naquilo que ele tem de natural e ecológico, seus traços positivos, para alcançar uma etapa mais bem mais urbana na capital de Santa Catarina, Florianópolis. Belíssima cidade, metropolitana, mas sem desprezar as áreas verdes e as bonitas praias, vazias nessa época de temperaturas mais baixas, por isso mesmo, mais atraentes ao turista que mantém aversão à bagunça. São passeios imprenscindíveis que vão além das praias: Forte de São José, - edificação do século XVIII construída em pedra, muito bem conservada, de grande valor histórico e que, como não poderia deixar de ser, oferece visão privilegiada do mar - mirante da Lagoa da Conceição, Centro Velho e Avenida Beira-Mar, local onde Florianópolis faz perceber de maneira clara que é uma cidade possuidora de urbanização e voltada para o lazer e conforto do habitante-cidadão. Oxalá possa permanecer assim, para tanto, o trânsito volumoso em alguns horários e as ocupações irregulares nos morros que circundam o perímetro urbano são problemas merecedores da mais alta atenção. À noite, o turista que vai à Floripa não deixará de contar com variada gama de restaurantes e pizzarias, presentes em praticamente toda a extensão da ilha. Tente tirar uma foto noturna da Ponte Hercílio Luz, o efeito pode ser bem interessante.
Arenitos em Vila Velha/PR
O último ponto do nosso roteiro constituiu-se de uma visita ao Parque Estadual de Vila Velha, em Ponta Grossa, Paraná. Impossível não ficar maravilhado com os Arenitos, formações rochosas que remetem aos períodos Paleozóico e Mesozóico, continuamente esculpidos pela erosão que lhes confere as mais curiosas e impressionantes formas. Se der sorte de estar um dia limpo, como foi nosso caso, a coloração avermelhada das rochas e sua geometria recortada se combinam singularmente com a vegetação de Cerrado/Campos e com o azul do céu, compondo paisagem de beleza intensa. Na segunda metade da trilha dos Arenitos, que é opcional, o visitante percorre um bosque no qual o silêncio é totalmente recomendável, único modo de aproveitar melhor o contato com a natureza e permitir a chance de ver alguma espécie da fauna local. Aos finais de semana é bem mais difícil contar com esse silêncio, pois se torna recorrente a presença de famílias numerosas e desavisadas que fazem a visitação juntamente com crianças barulhentas e mal educadas, assim como seus próprios pais. As Furnas, lagoas formadas pelo desabamento de rochas, e a Lagoa Dourada (nada dourada, dependendo da época do ano) completam o passeio, embora não sejam essenciais como os Arenitos.
Essas são as impressões que colhemos ao longo da viagem, reveladoras de parte das inúmeras belezas naturais de um país que ainda está longe de oferecer estrutura turística, cabendo ao viajante paciência, organização, informação, esforço, cuidado e espírito de aventura, aspectos exigidos para que se desfrute de momentos de lazer em harmonia com corpo, mente e com a preservação da natureza.