Protected by Copyscape Original Content Checker

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Que educação?


Sempre afirmei que a educação é o fator primordial para que um país consiga se desenvolver. Continuo com a mesmíssima opinião, mas quando penso no Brasil, e isso já faz um certo tempo, sou obrigado a ressalvar, afinal, não é de modo algum a educação que aqui se tem hoje aquela que irá conduzir o país em bons rumos. Que educação, então? Eis a pergunta a ser colocada.
A resposta é bastante simples: a educação nos moldes da Coreia do Sul, da Finlândia ou da Suiça. Acontece que não é possível, evidentemente, aplicar a mesma educação dessas nações no Brasil como num passe de mágica. Seria preciso, isso sim, desenvolver uma educação propriamente brasileira mirando-se no exemplo fornecido por aqueles que possuem sistemas educacionais virtuosos, missão mais difícil ainda na medida em que a cultura da sociedade brasileira, ao contrário do que se observa nos países citados, não favorece a construção de um projeto educacional bem estabelecido. Ainda que pudéssemos implantar algo do tipo desde já, levaria no mínimo umas três décadas para que se colhessem os resultados.
Fui graduando no passado, sou professor e historiador no presente e, desde o momento no qual de alguma forma passei a estar envolvido com a educação, presenciei situações em que ela é tratada somente como um fim em si mesmo. Na sala de aula da faculdade topei com professores que não acreditavam que a educação fosse caminho para coisa nenhuma, a não ser para a perpetuação de um sistema econômico que eles julgavam falho. Viés ideológico que em nada contribui para pensar sequer na possibilidade de modificar o sistema, caso de perguntar, então, o que eles pretendiam com a atividade docente. Já verifiquei também quem não pudesse admitir que só a educação desse jeito no desenvolvimento de uma nação. Ninguém em sã consciência acha que é o único fator, mas pensa sim que uma educação sucateada e muitas vezes ausente, jamais irá permitir o florescimento e a manutenção de prerrogativas essenciais para a vivência individual e coletiva. Sendo assim, não consigo vislumbrar possibilidade de reflexão acerca de questões que estão na ordem do dia, tais como preservação ambiental, desenvolvimento tecnológico, liberdade política e cumprimento de direitos e deveres sem haver educação para tanto. Vem daí justamente a noção de que a educação não deve nunca ser entendida sem que se considerem seus desdobramentos positivos. Educação tem a ver com formação humanista, uma das únicas utopias que estamos autorizados a aspirar.
No Brasil, as instâncias governamentais têm discutido o aumento da carga horária no Ensino Básico sem atentar para o trivial: quantidade não significa qualidade. O número de dias letivos atualmente já é maior do que foi no passado e isso não melhorou o perfil do sistema educacional no país, pelo contrário. Há ainda aqueles que nunca passaram nem perto de uma sala de aula, mas que ainda assim se atrevem a emitir pareceres supostamente abalizados sobre o assunto, quase sempre atribuindo ao professor as responsabilidades pelo fracasso educacional. Não se nega que certos professores estejam mal preparados, mas nesse caso a culpa é também do próprio empregador que não investe em aprimoramento e em reciclagem, bem como da instituição de Ensino Superior que formou o docente. Nunca é demais lembrar que na maioria das vezes o professor não tem autonomia para poder escolher a melhor didática em situações específicas, é obrigado a trabalhar com alunos de perfil extremamente variado dentro de uma única sala, não raro superlotada, tem que resolver problemas particulares dos pupilos, tem que lidar com preguiça, desinteresse e desrespeito, não conta com apoio pedagógico da coordenação, não conta com boa infraestrutura oferecida pelas escolas, sofre com material didático viciado pela vulgata marxista, atua de acordo com uma legislação extremamente permissiva em relação ao corpo dicente, resultando em aprovações automáticas, e recebe salários baixos.
Além dos tantos problemas internos à escola, ocorrem prejuízos de caráter difuso e de matriz cultural muito difíceis de serem resolvidos. O termo “mercantilização” é exaustivamente utilizado quando se aborda o interesse das instituições de ensino pelos lucros, o que parece uma perspectiva douta, mas não passa de visão politicamente correta, quando muito. Quando se trata da educação básica, caberia aos pais estarem atentos à qualidade da instituição, determinando valor cobrado por qualidade oferecida. Quem quisesse dinheiro fácil sem oferecer bom produto, ficaria em maus lençóis. Infelizmente, esse contrapoder que o consumidor deve exercer não faz parte dos hábitos do brasileiro. Aqueles que condenam o lucro mesmo quando obtido com qualidade, são os mesmos que se veem sem argumentação quando precisam desaprovar o lucro sem razão de ser, patologia típica do capitalismo tupiniquim, que atinge tanto quem vende, como quem compra. No Ensino Superior, a proliferação de universidades seria até mesmo benéfica se a qualidade fosse uma meta, mas como não é, o simples desejo por diplomas acaba satisfazendo a alunos que mal precisam assistir às aulas. Eles pagam para obter a graduação e as universidades vendem canudos. Aqui, o governo que tanto cuida de assuntos que não lhe competem, peca por omissão, já que se os processos seletivos - que na prática não têm acontecido - se voltassem com maior ênfase para o desempenho dos alunos durante os anos de Ensino Básico, o público alvo seria melhor selecionado, forçando os vestibulandos a se comprometerem enquanto alunos escolares; já as escolas, por uma questão de reputação, se veriam mais condicionadas a preservar a qualidade.
Ninguém que analise com critério o panorama educacional brasileiro irá acreditar que esse modelo falido de educação possa resolver os problemas do país e abrir as portas para seu desenvolvimento. Tenho trabalhado repetidamente com meus alunos o tema discutido no presente artigo, sinto porém, que numa sociedade que se acostumou tão passivamente a acreditar em um governo falastrão, assim como criancinhas acreditam em contos de fadas, e para a qual a ignorância e a falta de conhecimento não são considerados prejuízos gravíssimos, nem façam muita diferença, falar de educação de qualidade como fator essencial de desenvolvimento é quase como pregar no deserto. Em tempo: enquanto o PIB brasileiro destinado à educação fica bem abaixo do recomendado pelos organismos internacionais, o governo do PT gasta atualmente, via BNDES, R$ 5,3 bilhões construindo obras em alguns de seus países vizinhos. É a cara do Brasil...

Nenhum comentário:

Postar um comentário