Protected by Copyscape Original Content Checker

domingo, 25 de novembro de 2012

O futuro do Palmeiras


O tema indicado no título deste artigo não tem a mesma importância que discussões voltadas para a cultura, a filosofia, a história ou a política, no entanto, se o futebol do Palmeiras conseguir se reerguer através dos caminhos que estão à sua disposição, terá sido um acontecimento que, sem dúvida alguma, deixará lições em relação ao atual sistema que tanto aproxima futebol e política no Brasil. Se, ao contrário, o alviverde permanecer em seu profundo estado letárgico, o pão e circo continuará sendo a tônica, cada vez mais fortalecido.
Ninguém é estúpido o suficiente para deixar de pensar que o rebaixamento para a segunda divisão nacional consiste em motivo de enorme vergonha, sobretudo quando se trata de um time de tantas tradições. O fato é ainda pior por ser o segundo descenso em dez anos. As lições da primeira queda não foram aprendidas, os tumores que acometem o Palmeiras não foram extirpados e, se como afirma o jornalista Paulo Vinícius Coelho, houve nessa última década períodos diferentes nos bastidores esmeraldinos, sem que uma linearidade tenha preponderado, de modo geral, a administração permaneceu horrorosa, bem como a ideia de transformar a SEP em um clube exclusivamente social, vinda da mente podre de cartolas poderosos como o nefasto Mustafá Contursi, sempre pairou no ar.
O segundo rebaixamento poderia fazer com que o torcedor palmeirense desanimasse de vez e se visse exaurido de esperanças por alguma mudança interna que fosse capaz de reconduzir o time aos lugares mais altos nas disputas. De fato, pode ser que nada mude, todavia, tem me parecido que a queda de 2012, bem como a temporada 2013, se enquadram em outro contexto quando comparadas à de 2002. Naquela ocasião o Palmeiras vinha de uma década de 1990 recheada de conquistas e o exemplar e pioneiro acordo de co-gestão com a multinacional italiana Parmalat havia chegado ao fim. Ficaram os mesmos dirigentes retrógrados e de visão estreita que nada aprenderam a respeito de gestão moderna do futebol. Nesse sentido, o rebaixamento de 2002 poderia ser interpretado mais ou menos como um acaso e um sinal de que era preciso modernizar o Palmeiras. Aprendida a lição, nunca mais o descenso se repetiria. De lá para cá o alviverde obteve duas conquistas e colheu um número significativo de fracassos, desempenho risível em vista de seu passado campeoníssimo. Algo estava muito errado. E ainda está.
Paulatinamente, foi ficando óbvio que os problemas políticos do Palmeiras não foram sanados, pelo contrário, talvez tenham ficado ainda maiores. As brigas internas entre dirigentes e o descaso com o futebol da SEP foram responsáveis por falta de planejamento, contratações obscuras de jogadores sem a menor condição de vestir o manto esmeraldino e montagem de equipes cuja fraqueza fez inveja a times considerados de mínima expressão. Hoje em dia, qualquer torcedor palmeirense tem perfeita noção do quadro de insanidades políticas que toma conta do futebol alviverde. O rebaixamento de 2012, como todos sabem, não é um mero acaso, mas resultado de péssimas administrações e, agora, mais do que nunca, as cobranças são fortemente verificadas. O torcedor palmeirense carrega consigo o ardente desejo de expurgar da SEP os dirigentes ineptos que desgovernam a instituição. Uma conquista grandiosa como as eleições diretas já foi conseguida para 2014. O problema é que não há como ficar esperando até lá, pois as mudanças precisam ser para ontem.
O ano de 2014 marca o centenário do Palmeiras, momento histórico no qual a vontade de vitória fica ainda mais potencializada pelo torcedor. Para que os 100 anos da SEP não passem em branco, como aconteceu com o rival incolor, mesmo este já sendo beneficiário da ajuda midiátca e governamental, o rumo das coisas precisa ser alterado para já. O ponto mais importante seria a antecipação das eleições de janeiro/2013 para dezembro/2012, o que daria mais tempo para planejar a temporada seguinte, porém os esforços da coletividade palestrina ainda são insuficientes para tanto. Mesmo que a antecipação não vingue, ainda assim o futuro próximo do Palmeiras pode reservar elementos bastante positivos. Não, não é um paradoxo, basta que o próximo presidente saiba como conduzir o processo. Ao que parece, o fraquíssimo Arnaldo Tirone não será candidato à releição, ficando o pleito a ser disputado entre Paulo Nobre, Décio Perin e Wladimir Pescarmona. O primeiro deles, de longe o mais capacitado, inteligente e portador de ideias renovadoras e profissionalizantes, tem chances de vitória. Se isso acontecer, 2013 e o ano do centenário podem representar a volta do gigante esmeraldino ao topo da cena. Todos os esforços agora devem ser concentrados na eleição de Paulo Nobre e, caso ele não vença, a recuperação corre sérios riscos, haja vista que Perin é apenas mais um conselheiro de perfil retrógrado e Pescarmona, a despeito de gostar de futebol, parece não ter a visão e o tempero adequados para administrar a SEP como a modernidade exige.
Ainda que o melhor candidato não venha a se tornar presidente, algumas circunstâncias deverão ajudar o Palmeiras: o time disputará a Libertadores da América, a Copa do Brasil, que voltará a contar com equipes envolvidas no torneio sulamericano, o Paulista, que pode funcionar como importante laboratório na observação de jovens valores, além da própria Série B. Portanto, mesmo com o rebaixamento, as competições vindouras são de um time da elite, sendo necessária, evidentemente, a montagem de um elenco capaz de disputar tais campeonatos com chance de conquista. No momento, isso soa um tanto quanto utópico, mas não é impossível se as coisas forem feitas da maneira correta. Já é certo que muitos jogadores de nível técnico abaixo da ruindade serão dispensados, bons valores da base serão utilizados e, se tiverem personalidade, certamente renderão frutos dos mais positivos. Boas contratações podem ser feitas, ao contrário do que reza a cartilha da imprensa vendida ao establishment incolor, bastando oferecer contratos vantajosos e um discurso sedutor em função das competições que o time tem pela frente. Aqueles jogadores que tiverem culhões e gostarem de desafios, assim como os heróis de 1993, terão a chance de fazer história e virar ídolos. Como afirmou o craque e eterno ídolo Evair, "para jogar no Palmeiras você precisa ser mais homem do que os outros, não basta ser só um grande jogador de futebol, você precisa ser mais homem do que os outros!" Quem se habilita? Isso não é tudo: há ainda a Arena Palestra Itália, estádio que será um dos mais modernos do mundo e construído sem um tostão de dinheiro público, o que nunca é demais ressaltar. A nova casa será um enorme atrativo para a torcida e renderá cifras à SEP, mais um elemento com grande potencial de fortalecer o Palmeiras.
Logicamente, tudo ainda é muito especulativo e incerto, mas não tenho dúvida de que o próximo gestor do Palmeiras terá a faca e o queijo na mão para recolocar o time na rota das grandes conquistas, tendo para isso que administrar a instituição de modo totalmente oposto ao que se tem feito. É difícil, mas não impossível, repito, até porque se as coisas não mudarem a pressão do torcedor será cada vez mais insuportável. Minha apreciação talvez seja exageradamente otimista e, devido a tudo que vem acontecendo com o Palmeiras há um bom tempo, é altamente necessário estar vacinado contra decepções. E eu estou! Independente do que vier a acontecer no futuro da SEP, nunca se deve esquecer que mesmo com as administrações horripilantes, as idiossincrasias, a política desorganizada, as vendetas e consequentes insucessos - o que todo palmeirense quer que deixe de existir com urgência -, ainda assim a instituição existe por si mesma, motivo de orgulho, bem diferente do que acontece com um certo clube vendido ao poder instituído, protegido por amplos setores da imprensa, da CBF e do governo federal, instrumento inconteste do pão e circo da ditadura gramsciana PeTralha.

sábado, 17 de novembro de 2012

A República de mentira. Ou as mentiras da República que nunca foi


Sempre que ocorre um feriado pátrio no Brasil, faz-se a manjada pergunta: "as pessoas sabem o significado do 7 de Setembro, do 15 de Novembro?" Em muitos casos não sabem, porém, o cerne da questão não é nem esse. O mais correto seria questionar se o brasileiro reconhece os caminhos históricos que produziram a Independência do país ou que levaram à Proclamação da República. Nesse caso, o desconhecimento de causa é dos mais gritantes. Enquanto isso, a execução do Hino Nacional em eventos esportivos é obrigatória, bem como dentro das escolas, isso sem falar no folder a respeito do Dia da Bandeira, que foi distribuído nesse mês de novembro para vários estudantes brasileiros; segundo o próprio, respeitar e cultuar a bandeira do Brasil denota educação e civismo. Só mesmo em um país débil como esse verifica-se esta idolatria das externalidades, estas tolas abstrações sem nenhum real significado político.
Considerando a Proclamação da República e o Dia da Bandeira, que se situam no contexto destes dias que estamos vivenciando, o besteirol patrioteiro um vez mais surge como uma espécie de falso consolo perante uma população que mal sabe o que se passou em sua história, o que leva muitos incautos a pensarem confortavelmente que cantar o Hino, reverenciar a Bandeira ou louvar uma República anódina lhes confere indulto moral. Haja besteira!
A República no Brasil foi proclamada por militares positivistas, o que é fato, ao contrário do que tem tentado transmitir um certo revisionismo republicano. Mais do que isso, o positivismo ditou os rumos da Proclamação em um período histórico no qual a filosofia positivista já se encontrava para lá de marginalizada no mundo desenvolvido, entretanto, como retardatário no que quer se refira aos processos de desenvolvimento intelectual, foi o paradigma a dar as cartas do republicanismo no Brasil. O lema "Ordem e Progresso" inscrito na bandeira é a marca indelével do positivismo republicano. Reverenciar o positivismo, uma filosofia rigorosamente falha, ainda por cima um positivismo extemporâneo? Definitivamente, algo está muito errado. O que denotaria educação e conhecimento cívico seria fazer a crítica da bandeira, não cultuá-la. Da mesma forma que o bom alvitre manda refletir criticamente acerca do nosso republicanismo de mentira.
A etimologia do termo "república" vem do latim res publica, isto é, "coisa pública". Daí pode se presumir corretamente que em uma república a população deva ter participação efetiva nas discussões políticas. Aqui é interessante recorrer à Antiguidade Clássica, dado que a própria expressão da cidadania se dá por meio da participação política, como ensinou o legado grego. O cidadão, desse modo, é aquele que debate política. Se grande parte da população brasileira nem sequer sabe ao que se refere o 15/11, nem o significado de "república", quanto mais o que é ser cidadão republicano, indaga-se: o Brasil é um país formado por uma maioria de cidadãos politicamente cônscios de deveres e direitos? O "não" que se faz resposta óbvia é capaz inclusive de oferecer pistas importantes sobre o atual regime político brasileiro, uma ditadura gramsciana implantada com tranquilidade pelo PT.
Montesquieu deixou um contributo essencial no entendimento de um regime republicano. Uma vez que um sistema do tipo deve guardar lugar para a participação efetiva da população nos rumos políticos, não pode de maneira alguma haver concentração de poderes nas mãos de quem governa. É daí exatamente que vem a separação dos Três Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário que, para o pleno funcionamento de uma República, precisam necessariamente atuar autônoma e separadamente. Fica então outra pergunta ao leitor: em quais conjunturas históricas desde 1889 até hoje teve-se no Brasil um quadro político com clara separação dos Três Poderes? Um rápido flashback de lá para cá nos mostra na sequência: uma República proclamada por militares de alta patente, o poder das aristocracias agrárias com seu viés claramente patriarcal, uma era de desenvolvimentismos, ora ditatoriais e populistas, ora mais abertos polticamente, mas sempre economicamente centralizadores, ditadura militar, abertura política da década de 1980, uma tentativa atrapalhada de construir a democracia, governo FHC, com controle da economia e fortalecimento institucional, todavia incapaz de reformas importantes, como a tributária, a partidária e a educacional e, finalmente, o gramscianismo PeTralha. Cento e vinte três anos no total, sendo que de republicanismo, não se contabiliza nem um décimo desse tempo.
A historiografia do revisionismo republicano, se é que pode assim ser chamada, pois se resume a poucos estudos, tem afirmado que a República representou um novo sistema político no qual a população depositava esperanças de melhora. "Esperança"?! Um termo dos mais vagos é o máximo que o republicanismo dos militares pode ter representado, o que basta para reforçar a fragilidade de uma conjuntura republicana sem participação civil. O erro é supor que a essência de um sistema político está na sua forma, não no conteúdo. Se a maior parte da população brasileira assistiu bestializada ao desfile militar de 15/11/1889, segundo o famoso dito de Aristides Lobo, tão bem estudado na obra de José Murilo de Carvalho, e nem mesmo sabia - e continua sem sabê-lo - os significados políticos do republicanismo, de que adiantaria depositar esperanças nele? Teria como cumprir deveres e exigir direitos? Assim como a democracia, a república, sua irmã xipófaga, depende de uma cultura a ser exercida no dia-a-dia. Em um sistema verdadeiramente republicano e democrático a população não vive sob ele, o que faria dela não mais do que uma multidão de súditos, a população o faz viver. Em termos hodiernos, a cultura republicana e democrática se traduz na busca constante do resguardo dos mecanismos de representatividade, no incessante debate político e na livre associação, elementos que devido à estrutura política brasileira, sempre pautada na ideia de que a sociedade existe para o governo, quando o correto seria o oposto, não podem ser colocados em prática.
Os mecanismos de representatividade pouco se fizeram solidamente desde 1889, hoje, estão totalmente viciados pelo gramscianismo. O debate político é quase inexistente em uma sociedade de massas dominada pela ignorância. A livre associação não se pode erigir sobre uma centralização tão avassaladora e onde não há federalismo algum. República e democracia no Brasil, só para quem acredita que a reverência aos símbolos pátrios pode fazer as vezes da correta atuação do cidadão em assuntos realmente capazes de propiciar desenvolvimento ao país. Só o que sobra para estes são o falso consolo e as patéticas manifestações patrioteiras de quem se furta a refletir sobre os tantos problemas que afligem esta combalida nação. É a cara do Brasil!

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Volume 4: os quarenta anos de um clássico nem sempre tratado como tal


Os assuntos relativos à política brasileira são aqueles que predominam neste blog e, por mais que se façam de extrema pertinência, de vez que todos os caminhos sejam válidos no combate à ditadura PeTralha que assola o país, devo informar que em vários momentos eles me causam profundo fastio. Seria preciso escrever sobre o cotismo desenfreado do governo federal, sobre o resultado das eleições norteamericanas e a relação com o Brasil e ainda sobre o julgamento do Mensalão e outros temas que abarcam tudo aquilo que se refere ao nosso cotidiano, todavia hoje pretendo, como se diz, dar um tempo nessas questões para trazer uma discussão mais leve e voltada para o tópico musical. É assim então que resolvo dedicar o espaço para resenhar, segundo estritas impressões particulares, um disco que considero dentre os mais brilhantes da década de 1970 e da história do Rock em geral: trata-se de Volume 4, do Black Sabbath, lançado no ano de 1972, há 40 anos.
Sempre manifestei abertamente minha preferência por coisas de caráter mais confidencial e afirmo isso em relação ao tema que ora escrevo porque me parece que Volume 4 não tem tido, ao longo de todo esse tempo, o devido reconhecimento, ainda que na época de lançamento a vendagem do disco tenha sido das mais expressivas. Talvez seja melhor assim: o que permanece oculto exige ser desvendado, não se manifestando fácil e abertamente sem que haja "esforço" por parte do explorador. Devo também dizer que em termos de Black Sabbath tenho predileção pela fase Dio, não só pelo fato do falecido vocalista ser infinitamente superior a Ozzy Osbourne, como também porque o pique de Heaven And Hell e Mob Rules me agrada mais do que o período setentista. Não é por isso que os trabalhos da fase Ozzy não mereçam louvores, muito pelo contrário, em especial a meu ver, exatamente quanto a Volume 4, o que o torna a mim ainda mais agradável devido às suas particularidades. Invariavelmente, quando se coloca o Black Sabbath em discussão, noto que Volume 4 não é citado de modo destacado entre os apreciadores da banda, que costumam se entusiasmar bem mais citando o disco homônimo de estreia do quarteto, ou Paranoid, Masters Of Reality, Sabbath Bloody Sabbath e Sabotage. De minha parte, contando todos estes, coloco Volume 4 em alguns patamares acima. A preferência, nesse caso, é obviamente subjetiva, sendo que o melhor a fazer é comentar a respeito dos motivos que me agradam tanto no referido disco.
Para começar, o trabalho encontra a mais empolgante abertura com Wheels Of Confusion (The Straightener), composição rica em arranjos, melodia, quebradas de ritmo e permeada pelos inconfundíveis riffs de Tony Iommi. A música dá claros indícios da maturidade atingida pela banda após os três primeiros trabalhos. O compasso de Wheels... soa majestoso e naturalmente marcante. Em seguida, Tomorrow´s Dream é responsável por oferecer o cartão de visitas sabbathiano: a atmosfera doom e os vocais sombrios de Ozzy dão o tom desta excelente composição.
Depois do início tipicamente pesado e da rifferrama, chega-se ao primeiro momento experimental de Volume 4, algo também típico da fase setentista do Black Sabbath. Ao contrário do disco como um todo, Changes se tornou difundida, não sem justiça, pois a considero muito mais acertada do que experimentações de outros discos, como Planet Caravan, Orchid, Solitude ou Fluff. Changes é uma das primeiras baladas do Rock pesado, apreciação que confirma igualmente neste sentido, o pioneirismo do Black Sabbath.
Não é preciso comentar acerca de FX, que não é uma música, mas apenas um interlúdio para as faixas intermediárias de Volume 4. O peso e os riffs retornam com tudo em Supernaut, de refrão pegajoso e improvisos surpreendentes vindos das baquetas de Bill Ward. Uma das dez melhores músicas do Black Sabbath em minha opinião. O disco prossegue fortíssimo com Snowblind, música de trabalho em Volume 4 que, juntamente com Changes, se tornou mais difundida do que as demais. É um grande som, marcado pelas qualidades características da banda e, infelizmente, quanto à letra, também pelo vício em drogas que levaria o quarteto a seríssimos problemas. A sétima faixa é Cornucopia, que mantém a peteca no alto e faz permanecer a excelente qualidade do disco, sem dúvida, o momento de maior destaque em Volume 4 para o baixo vigoroso e ultra pesado de Geezer Butler.
A fase final de Volume 4 começa com Laguna Sunrise, outra viagem que suscita torção nasal por parte de muitos. Nem de longe é minha opinião, já que embora esquisitona, a música possui inegavelmente lindos arranjos de violão e violino, servindo de calmo e introspectivo prelúdio para o poderosíssimo fechamento do disco. A penúltima faixa é St. Vitus Dance, minha predileta juntamente com Wheels Of Confusion e Supernaut. O riff é soberbo e a música combina magistralmente trechos rápidos e dançantes, como sugere o título, entrecortados por breves andamentos lentos. É o tipo de som que não se quer que termine de jeito nenhum e nisso está seu único defeito: curta em demasia, somente 2:21. Fica um tremendo sentimento de "quero mais"! E eis que se chega ao gran finale com Under The Sun (Every Day Comes And Goes), doom, obscura, pesada, dona do melhor solo do trabalho e "lentona", sendo esta última característica presente em muitas das músicas de encerramento dos discos da banda, até mesmo em fases distintas dos anos 1970.
Volume 4 é, segundo minha avaliação subjetiva - repito - , o terceiro melhor disco do Black Sabbath, ficando atrás apenas dos dois petardos da fase Dio no início dos anos 1980 (não reputo a mesma qualidade a Dehumanizer, de 1992). Um clássico setentista, um clássico do Heavy Metal, por mais que o termo seja detestado por Ozzy, um disco grandioso que revela detalhes ocultos a serem continuamente desvendados mesmo após 40 anos de lançamento, um dos grandes momentos do Rock. Para o apreciador de música pesada que ainda não possui Volume 4 em sua metalteca, o item é indispensável, valendo a pena adquirí-lo em CD remasterizado, com ótima qualidade de som ou em vinil, caso consiga se encontrar, afinal, um disco tão bom como esse não merece ser escutado em MP3, o radinho de pilha do século XXI.