O tema indicado no título deste artigo não tem a mesma importância que discussões voltadas para a cultura, a filosofia, a história ou a política, no entanto, se o futebol do Palmeiras conseguir se reerguer através dos caminhos que estão à sua disposição, terá sido um acontecimento que, sem dúvida alguma, deixará lições em relação ao atual sistema que tanto aproxima futebol e política no Brasil. Se, ao contrário, o alviverde permanecer em seu profundo estado letárgico, o pão e circo continuará sendo a tônica, cada vez mais fortalecido.
Ninguém é estúpido o suficiente para deixar de pensar que o rebaixamento para a segunda divisão nacional consiste em motivo de enorme vergonha, sobretudo quando se trata de um time de tantas tradições. O fato é ainda pior por ser o segundo descenso em dez anos. As lições da primeira queda não foram aprendidas, os tumores que acometem o Palmeiras não foram extirpados e, se como afirma o jornalista Paulo Vinícius Coelho, houve nessa última década períodos diferentes nos bastidores esmeraldinos, sem que uma linearidade tenha preponderado, de modo geral, a administração permaneceu horrorosa, bem como a ideia de transformar a SEP em um clube exclusivamente social, vinda da mente podre de cartolas poderosos como o nefasto Mustafá Contursi, sempre pairou no ar.
O segundo rebaixamento poderia fazer com que o torcedor palmeirense desanimasse de vez e se visse exaurido de esperanças por alguma mudança interna que fosse capaz de reconduzir o time aos lugares mais altos nas disputas. De fato, pode ser que nada mude, todavia, tem me parecido que a queda de 2012, bem como a temporada 2013, se enquadram em outro contexto quando comparadas à de 2002. Naquela ocasião o Palmeiras vinha de uma década de 1990 recheada de conquistas e o exemplar e pioneiro acordo de co-gestão com a multinacional italiana Parmalat havia chegado ao fim. Ficaram os mesmos dirigentes retrógrados e de visão estreita que nada aprenderam a respeito de gestão moderna do futebol. Nesse sentido, o rebaixamento de 2002 poderia ser interpretado mais ou menos como um acaso e um sinal de que era preciso modernizar o Palmeiras. Aprendida a lição, nunca mais o descenso se repetiria. De lá para cá o alviverde obteve duas conquistas e colheu um número significativo de fracassos, desempenho risível em vista de seu passado campeoníssimo. Algo estava muito errado. E ainda está.
Paulatinamente, foi ficando óbvio que os problemas políticos do Palmeiras não foram sanados, pelo contrário, talvez tenham ficado ainda maiores. As brigas internas entre dirigentes e o descaso com o futebol da SEP foram responsáveis por falta de planejamento, contratações obscuras de jogadores sem a menor condição de vestir o manto esmeraldino e montagem de equipes cuja fraqueza fez inveja a times considerados de mínima expressão. Hoje em dia, qualquer torcedor palmeirense tem perfeita noção do quadro de insanidades políticas que toma conta do futebol alviverde. O rebaixamento de 2012, como todos sabem, não é um mero acaso, mas resultado de péssimas administrações e, agora, mais do que nunca, as cobranças são fortemente verificadas. O torcedor palmeirense carrega consigo o ardente desejo de expurgar da SEP os dirigentes ineptos que desgovernam a instituição. Uma conquista grandiosa como as eleições diretas já foi conseguida para 2014. O problema é que não há como ficar esperando até lá, pois as mudanças precisam ser para ontem.
O ano de 2014 marca o centenário do Palmeiras, momento histórico no qual a vontade de vitória fica ainda mais potencializada pelo torcedor. Para que os 100 anos da SEP não passem em branco, como aconteceu com o rival incolor, mesmo este já sendo beneficiário da ajuda midiátca e governamental, o rumo das coisas precisa ser alterado para já. O ponto mais importante seria a antecipação das eleições de janeiro/2013 para dezembro/2012, o que daria mais tempo para planejar a temporada seguinte, porém os esforços da coletividade palestrina ainda são insuficientes para tanto. Mesmo que a antecipação não vingue, ainda assim o futuro próximo do Palmeiras pode reservar elementos bastante positivos. Não, não é um paradoxo, basta que o próximo presidente saiba como conduzir o processo. Ao que parece, o fraquíssimo Arnaldo Tirone não será candidato à releição, ficando o pleito a ser disputado entre Paulo Nobre, Décio Perin e Wladimir Pescarmona. O primeiro deles, de longe o mais capacitado, inteligente e portador de ideias renovadoras e profissionalizantes, tem chances de vitória. Se isso acontecer, 2013 e o ano do centenário podem representar a volta do gigante esmeraldino ao topo da cena. Todos os esforços agora devem ser concentrados na eleição de Paulo Nobre e, caso ele não vença, a recuperação corre sérios riscos, haja vista que Perin é apenas mais um conselheiro de perfil retrógrado e Pescarmona, a despeito de gostar de futebol, parece não ter a visão e o tempero adequados para administrar a SEP como a modernidade exige.
Ainda que o melhor candidato não venha a se tornar presidente, algumas circunstâncias deverão ajudar o Palmeiras: o time disputará a Libertadores da América, a Copa do Brasil, que voltará a contar com equipes envolvidas no torneio sulamericano, o Paulista, que pode funcionar como importante laboratório na observação de jovens valores, além da própria Série B. Portanto, mesmo com o rebaixamento, as competições vindouras são de um time da elite, sendo necessária, evidentemente, a montagem de um elenco capaz de disputar tais campeonatos com chance de conquista. No momento, isso soa um tanto quanto utópico, mas não é impossível se as coisas forem feitas da maneira correta. Já é certo que muitos jogadores de nível técnico abaixo da ruindade serão dispensados, bons valores da base serão utilizados e, se tiverem personalidade, certamente renderão frutos dos mais positivos. Boas contratações podem ser feitas, ao contrário do que reza a cartilha da imprensa vendida ao establishment incolor, bastando oferecer contratos vantajosos e um discurso sedutor em função das competições que o time tem pela frente. Aqueles jogadores que tiverem culhões e gostarem de desafios, assim como os heróis de 1993, terão a chance de fazer história e virar ídolos. Como afirmou o craque e eterno ídolo Evair, "para jogar no Palmeiras você precisa ser mais homem do que os outros, não basta ser só um grande jogador de futebol, você precisa ser mais homem do que os outros!" Quem se habilita? Isso não é tudo: há ainda a Arena Palestra Itália, estádio que será um dos mais modernos do mundo e construído sem um tostão de dinheiro público, o que nunca é demais ressaltar. A nova casa será um enorme atrativo para a torcida e renderá cifras à SEP, mais um elemento com grande potencial de fortalecer o Palmeiras.
Logicamente, tudo ainda é muito especulativo e incerto, mas não tenho dúvida de que o próximo gestor do Palmeiras terá a faca e o queijo na mão para recolocar o time na rota das grandes conquistas, tendo para isso que administrar a instituição de modo totalmente oposto ao que se tem feito. É difícil, mas não impossível, repito, até porque se as coisas não mudarem a pressão do torcedor será cada vez mais insuportável. Minha apreciação talvez seja exageradamente otimista e, devido a tudo que vem acontecendo com o Palmeiras há um bom tempo, é altamente necessário estar vacinado contra decepções. E eu estou! Independente do que vier a acontecer no futuro da SEP, nunca se deve esquecer que mesmo com as administrações horripilantes, as idiossincrasias, a política desorganizada, as vendetas e consequentes insucessos - o que todo palmeirense quer que deixe de existir com urgência -, ainda assim a instituição existe por si mesma, motivo de orgulho, bem diferente do que acontece com um certo clube vendido ao poder instituído, protegido por amplos setores da imprensa, da CBF e do governo federal, instrumento inconteste do pão e circo da ditadura gramsciana PeTralha.