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sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Não gosto de gente consciente e moderna. Sou mesmo é alienado e retrógrado!


Nunca foi tão fácil, como atualmente, ser considerado consciente e moderno. É resultado do que costuma ser designado por "inclusão social", um eufemismo (e uma desculpa) para formação deficiente. Ao invés do estudo sistemático, da reflexão acurada a respeito dos problemas que permeiam a vida humana, discutidos pelos mais diversos pensadores, das mais variadas escolas filosóficas e da procura por um pensamento original, abrangente e de tendência universalizante, tudo o que é necessário para formar o cidadão culto, basta seguir como um autômato certos lugares comuns tão frágeis quanto um castelinho de areia à beira-mar, mas que repetidos à exaustão em um contexto massificado, no melhor estilo Goebbels, se tornam verdades absolutas. Nestes termos, pode parecer um tanto quanto abstrato para aqueles que estejam dispostos a ter seu intelecto moldado por imbecilidades, todavia, alguns comportamentos concretos verificáveis em nosso cotidiano funcionam como o melhor dos manuais. Senão, vejamos:
Um sujeito morre com quase 105 anos de idade, quase toda a imprensa cria um dramalhão sentimentalóide em cima do fato e a ralé segue atrás, tal qual um autêntico exército de zumbis. Se antes da morte do ancião comunista, oito de cada dez brasileiros mal possuíam informação sobre a pessoa, as ideias e a obra de Oscar Niemeyer, depois do barulho midiático, é possível que esse número tenha caído para sete, quem sabe seis entre dez?
Ouvi em matéria da Rádio Bandeirantes não sei qual jornalista consciente e moderno (são tantos!) afirmando que o próprio Niemeyer sempre declarava se preocupar não apenas com o lado estético de seus projetos, mas sobretudo com a destinação que seria dada aos mesmos. Será mesmo que ele foi tomado por um laivo sequer dessa tão correta preocupação quando projetou Brasília? Não sei, talvez ele fosse ingênuo quanto ao futuro da política no Brasil, de qualquer forma, não chega a ser o melhor exemplo. Mas e quanto à Arena de Barretos? Ora, seria demais pensar que um comuna pudesse se importar minimamente com a causa animal, mesquinharia tipicamente burguesa. Me ocorreu ser justo indagar se Niemeyer, tão cioso com a utilização ulterior de suas obras, teria se recusado a projetar algum calabouço para presos políticos de ditaduras comunistas, ele que tantas vezes esteve na URSS...
No Brasil, quando um famoso morre, vide Ayrton Senna, Hebe Camargo e agora Niemeyer, é alçado imediatamente à condição de santo imaculado, não importando nada além dos feitos profissionais e artísticos do morto, ainda que estes sejam perfeitamente passíveis de críticas ou relativizações. E ai de quem ousar fazê-las; prontamente é acusado de ofender a memória do morto, incapaz de entender seu legado, alienado e blasfemo. Sr. Niemeyer, "poeta das curvas", "gênio da arquitetura", me desculpe por palavras deveras indelicadas contra alguém que tanto lutou por seus ideais e ainda nos brindou com tão belas obras. Alcancei a consciência e a modernidade, viram como é fácil?!
E por falar em blasfêmia, o vocabulário de conotação religiosa andou passando pelas línguas da esquerda. Logo dela! O mesmo pessoal que não dá um descuido em patrulhar os discursos opostos aos seus cânones, (quatro anos de PUC, sei como poucos o que é isso!) que legitima quaisquer de suas ideias ou atos, por mais inescrupulosos e atrozes que sejam, simplesmente por crer que os mesmos atuem como vetores miraculosos da justiça e da igualdade, é também pródigo em se fazer de vítima. Salvo raríssimas exceções, o discurso esquerdista é só conversa mole: justiça, igualdade,... que nada! Falácias das quais a esquerda se apropriou na tentativa de maquiar sua verdadeira intenção: chegar ao poder, corrompê-lo, destruir suas instituições democráticas e nele se perpetuar. Qualquer leitor colegial de George Orwell com um pouco de personalidade para não se deixar doutrinar por professores amestrados e alinhados com o esquerdismo sabe disso. Mas lembre-se, o legal é ser "consciente" e "moderno", logo, nada de Orwell, que nunca foi capaz de vislumbrar o potencial transformador do comunismo...
No site de uma revista de qualidade inexistente, li uma postagem cujo teor era o seguinte: o STF fez reviver os tempos da Inquisição e de Torquemada, perseguiu arbitrariamente e puniu sem provas. Bravo! Moderníssimo! O autor do post tentou ainda conferir ares de erudição ao seu comentário e citou o ensaio O inquisidor como antropólogo, do historiador italiano Carlo Ginzburg, com isso procurando fazer entender que os ministros que julgaram a Ação Penal 470, exceto uns e outros, forçaram a condução e o desfecho do que já haviam concluído até então segundo interesses outros que não a lisura jurídica. Como se percebe, o comentário não fez mais do que papagaiar o fraquíssimo discurso do ministro Dias Toffoli proferido em uma das sessões do julgamento. Quem acompanhou minimamente a atuação dos ministros pôde notar com clareza a superficialidade das apreciações de Toffoli, - reprovado duas vezes em concursos para a magistratura estadual paulista - bem como seu conhecimento jurídico bem abaixo da média de seus companheiros de STF, mesmo aqueles que tentaram de todas as formas dar uma mãozinha aos envolvidos no escândalo do Mensalão. A idiotice da postagem salta aos olhos, pois continuar batendo na tecla de que o julgamento se fez sem provas é no mínimo imoral, é tapar os olhos para uma enxurrada de evidências, que aliadas ao contexto, como defendeu a ministra Rosa Weber, - até mesmo ela, que em muitos pontos foi condescendente com envolvidos no escândalo - levam sem margem nenhuma de dúvida à justa culpabilidade dos condenados. Isso é elementar, porém, as imprecisões históricas da argumentação nem sempre ficam claras aos olhos dos leigos ou menos atentos. Durante a Inquisição a Igreja Católica fez uso dos processos inquisitoriais para ajudar na construção de sua ortodoxia, ainda não plenamente definida à época. Um estudo das obras do historiador português Francisco Bethencourt, do próprio Ginzburg e do Malleus Maleficarum permitem compreender a base subjetiva e não-evidencial que pautou a ação dos inquisidores, o que nao é surpresa quando se leva em conta que estavam em jogo questões religiosas e minúcias teológicas inseridas no alvorecer da Idade Moderna. É mais do que óbvio que isso nada tem a ver com as práticas que deram forma ao Mensalão e ao seu julgamento. Ressalte-se também que naquela época a Igreja Católica representava o poder estabelecido na maior parte da Europa ocidental, condição que tornava algo fácil a manipulação de seus interesses, já hoje em dia quem está no poder de forma bem enraizada é o PT. Se o autor do post fez uma (péssima) leitura de O inquisidor como antropólogo, estamos autorizadíssimos a inferir que ele nunca ouviu falar em Mitos, emblemas, sinais... ele e o ministro Dias Toffoli. Entretanto, na visão dos conscientes e modernos nada disso é válido, uma vez que o julgamento sofreu pressão da mídia golpista (a mesma que adere ao governo federal até no quesito futebolístico e que teceu loas ao comunista Niemeyer).
Ah, a imprensa! A imprensa requer a mais profunda e imbuída de consciência e modernidade análise caso se queira romper com o pensamento conservador dominante. Conservador, dominante? Hummm, deixa para lá... Cada vez com mais frequência nota-se nas redes sociais ou em situações ao vivo o pedantismo ideológico e o  tom professoral dos falsos intelectuais, os mesmos que louvam Niemeyer e que ainda se prestam ao sórdido papel de reverenciar o PT. Tal prática é especialmente recorrente quando se trata da revista Veja, que pode ser criticada normalmente desde que o viés puramente ideológico não seja o parâmetro, o exato contrário do que fazem. Eles reputam a si próprios a capacidade exclusiva de instruir a multidão sobre o que ela deve ou não deve acreditar. São os intelectuais orgânicos de Gramsci. Ou os ideólogos do establishment, leitores do Manifesto Comunista, do Dezoito do Brumário, nunca de O Capital, muito extenso e complexo. Desta obra, só retêm e difundem, como um relógio de repetição, os clichês hiperbólicos. Adoram também as teses de Walter Benjamim, marxismo poético enfadonho, os livros de Eric Hobsbawm, marxismo fast food e de Foucault, mistura psicodélica de pós-modernismo orgiástico com marxismo e sua crítica à "sociedade burguesa". Haja! O problema deles com a Veja é por ela contar com articulistas de direita e por não ter rabo preso com o governo do PT, independentemente do que o veículo noticia, tudo mentira com vistas ao golpismo, segundo os tais. Quanto a outros veículos que sabidamente recebem verbas do governo, não têm nenhuma crítica a levantar. Será mesmo que estão preocupados com a imparcialidade jornalística? Receio que não! Mas não importa, postar no Facebook que quem lê a Veja não tem cérebro e que esse veículo é o mais vil, golpista e preconceituoso, é sinal inconfundível de consciência e modernidade.
E os acontecimentos que se sucederam no intervalo da partida entre SPFC vs. Tigre pela final da Copa Sulamericana, como fatalmente não poderia deixar de ser, trouxeram à tona a já manjada patriotada tupiniquim. Sem ninguém ainda saber exatamente o que teria provocado a confusão, presenciei colegas meus de profissão vociferando contra os argentinos, não contra o time do Tigre especificamente, - o que seria compreensível se viesse de torcedores são paulinos movidos pela paixão - mas contra os argentinos como um todo, como povo da Argentina. Tive a nítida sensação de estar diante de vários Galvões Bueno. Patético! Depois, fiquei sabendo por minha mãe que um apresentador da Record, cria de Datena e afins na maneira de se comunicar, afirmou ser o povo argentino mal educado. Educado é ele... consciente e moderno também!
Quando a imprensa adoça a vaidade dos conscientes e modernos, ela deixa de ser golpista... Mauro Cezar Pereira, da ESPN Brasil, é diferente, um verdadeiro oásis no meio de tanta baboseira. Em uma análise isenta e ponderada, ele perguntava se brasileiro é um primor de retidão, educação e polidez a ponto de se colocar em posição de superioridade junto aos vizinhos. Diria um cônscio e moderno: "ora, que se dane esse jornalista ranzinza, falar mal do Brasil, cospe no prato que come, não é patrioteiro..., ops, patriota!" Mauro ainda salientou a atitude do brasileiro Luís Fabiano no jogo de ida, responsável por criar tensão exacerbada. Todo sujeito que procura assumir ares superiores lançando mão de sua nacionalidade é para mim uma criatura das mais abjetas e desprezíveis. E geralmente brasileiro adora agir assim. Porém, ser patrioteiro, a despeito da tamanha carga de nacionalismo tacanha que implica, é também visto como conduta consciente e moderna perante a patifaria da ralé e de seus prescritores.
Quanta consciência, quanta modernidade! Eu, como sou alienado e retrógrado, estou na época e no lugar errados, bem melhor estaria se me deparasse no cotidiano com a crítica isenta, com análises livres de ideologização, com a intolerância face aos corruptos, com uma visão planetária ao invés de nacionalista, características tão odiadas pelos conscientes e modernos...

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