Protected by Copyscape Original Content Checker

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Lógica petista


A lógica do atual governo brasileiro, se não fosse trágica, seria cômica. Trata-se muito mais, na verdade, de um caso de ausência de lógica. Até nesse quesito o PT foi capaz de promover uma manipulação dos conceitos que faz o partido permanecer no poder, mesmo diante da incompetência administrativa, dos equívocos na condução da política econômica, da política externa e, evidentemente, da corrupção sistêmica, oficialmente organizada e, repito novamente, praticada não como desvio fortuito para favorecimento econômico-financeiro de agentes individuais, mas sim como modus operandi cujo objetivo é a obtenção de vantagens políticas por meio de cooptação com vistas à perpetuação de poder, arcabouço infinitamente mais grave, pois compromete seriamente as liberdades civis, as instituições e os próprios alicerces do sistema democrático. O PT representa um claríssimo retrocesso às formas tirânicas de governo, embora grande parte das pessoas que deveriam ter isso em mente, não conseguem notá-lo.
De acordo com a lógica abstrusa do petismo, a realidade é o contrário da forma como se apresenta: quanto mais corrupção melhor, já que assim o governo pode vender a ideia de que está preocupado em investigar tudo e punir os culpados. Isso, no entanto, é absolutamente falso. Não há como o réu investigar a si próprio, mas uma vez estabelecido o aparelhamento da máquina pública, os comandantes do governo continuam blindados e se escondem atrás do véu da suposta desinformação: "não sabíamos de nada". Aqueles poucos representantes das esferas de poder que ainda se mantêm independentes, tão logo ousam se posicionar a favor das evidências, da ética, das instituições, da sociedade, da democracia e da liberdade, mas contra o PT, prontamente passam a ser perseguidos: foi assim com a tentativa de barrar a prerrogativa de investigação do MP, foi assim com Joaquim Barbosa, foi assim que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, agorinha mesmo, manifestou a intenção de abrir inquérito contra delegados da PF que teriam incorrido em "desvio de conduta", entenda-se, criticar o PT. É sempre assim com a imprensa de oposição, um dos últimos bastiões de resistência à ditadura petista, a qual o governo procura amordaçar a qualquer custo.
Até mesmo nas situações em que membros do governo petista são punidos, dá-se um jeito de aliviar a barra dos condenados, haja vista o que se sucedeu quando da aceitação dos Embargos Infringentes pelo STF: depois da aposentadoria de Ayres Britto e com a indicação programada de dois ministros alinhados ao petismo, as penas do núcleo político foram abrandadas. Hoje, o mentor do Mensalão, José Dirceu, cumpre pena reduzida em regime domiciliar, enquanto Marcos Valério, o laranja em torno do qual o PT conseguiu jogar a maior responsabilidade, foi condenado a 37 anos de prisão. Esse governo quer mesmo investigar, julgar e punir culpados? Se você acredita nisso, não passa de um tolo completo!
Ainda que, sem correr risco de ingenuidade (há poucos dias chegou a notícia de que o ministro Augusto Nardes, presidente do TCU, avisou pessoalmente a Lula e Dilma Rousseff com relação ao superfaturamento em obras da Petrobrás; avisos tais, que foram reiteradamente desprezados), alguém pudesse permanecer sustentando que a alta cúpula petista jamais soube de nada sobre os mais amplos, mais pandêmicos e mais vultosos esquemas de corrupção envolvendo o próprio partido, não seria a atuação governamental exemplo inadmissível de omissão, negligência ou falta de cuidado com a coisa pública? Já em 2005 o PT tentava se safar usando dessa tática e, passados nove anos desde então, a ladainha continua, as mesmas pessoas afirmando, sem um pingo de vergonha, a mesmíssima coisa! Omissão, negligência e falta de cuidado elevados à enésima potência! Ou seria cinismo? Você é quem sabe...
Em 1992, os chamados caras-pintadas foram saudados, sobretudo pelo PT, como representantes das virtudes democráticas e do apreço pela ética na política. Saíram às ruas, gritaram contra o governo Collor, fez-se um impeachment. Justo. Quase duas décadas e meia depois, em um contexto marcado por escândalos de corrupção imensamente piores, na medida em que envolvem mais agentes - corruptores ou corrompidos - , valores maiores e principalmente porque visam solapar a liberdade e a democracia, parte da sociedade que não aceita uma governança dessa natureza volta a se manifestar nas ruas. Para o PT, que arrasta consigo os intelectualóides da marxologia extemporânea e os fanáticos desinformados, ainda crentes no desenvolvimentismo e na "justiça social", são ações de uma "elite reacionária e fascista", seja lá o que isso possa significar. Estranhamente (ou nem tanto...) quando black blocks depredam patrimônio alheio, ateiam fogo em veículos de civis e matam cinegrafistas ou quando um defensor do totalitarismo comunista como Guilherme Boulos organiza passeatas para pedir a criação de conselhos revolucionários à moda cubana, são gente do bem, segundo o governo. Contradição ou lógica petista, não importa, é mais uma faceta da lastimável realidade política que nos assola.

Nenhum comentário:

Postar um comentário