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quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

O Palmeiras e as estruturas antimercadológicas do futebol brasileiro ou, qual futuro será escolhido?


Não sei se o Palmeiras será rebaixado na última rodada do Brasileiro 2014. A chance existe e não é pequena, muito maior do que qualquer cálculo probabilístico, em que o imponderável, típico do futebol, não atua. Em todo caso, escrevo antes do desfecho, seja da queda, seja da permanência na elite do futebol nacional.
Se o Palmeiras se mantiver na primeira divisão, a campanha horrorosa não será apagada, muito pelo contrário, pois o time terá alcançado a salvação no 16o. lugar, o primeiro fora do chamado Z4. Há quem tenha dito estes dias que se o Palmeiras escapar no próximo domingo, ainda assim deveria solicitar uma vaga na segunda divisão, dada a extrema ruindade de seu elenco. Esquecendo por um instante a paixão de torcedor, devo confessar que concordo plenamente com a ideia: uma instituição dona de tamanha tradição e história gloriosa não pode ter uma equipe tão abaixo da média, recheada por jogadores tão pernas de pau, comandada por um técnico fraco e paneleiro. Esse Palmeiras atual não merece a série A, a despeito dessa estar bem longe da excelência técnica.
Independente do resultado vindouro, no entanto, o que quero discutir vai bem além da mera consequência das péssimas administrações que têm marcado a história mais recente do alviverde. Todos sabem como a politicagem e os interesses escusos que imperam nas alamedas do Palestra Itália contribuem decisivamente para o atual estado de degeneração do futebol esmeraldino. Aos que agora têm investido sua fúria contra a modernidade futebolística de maneira indistinta, com relação a todos os aspectos dessa modernidade, pode-se inferir que aprovam as gestões dos Mustaphás e dos Belluzzos, exemplos claros de arcaísmo. Para quem nunca se sentou no cimento de uma arquibancada ou jamais precisou fugir de torcedores adversários na saída de um estádio, é fácil romantizar. Mas deixemos isso para lá...
O que considero bastante importante em termos de reflexão sobre o momento presente, não só do Palmeiras, mas do futebol brasileiro, está relacionado com o mercado, esse fator moderno que os populistas mencionados no artigo anterior tanto ojerizam. Foi surpreendentemente positivo observar Fábio Sormani dizer que o mercado não comporta três ou quatro times grandes com sede em uma mesma cidade, como é o caso da capital paulista. Os salários pagos a técnicos decadentes incapazes de entender as evoluções táticas dos últimos 15 ou 20 anos, bem como a jogadores, mesmo os medíocres ou abaixo disso, são pornográficos. Não há dinheiro suficiente para sustentar essa esbórnia. Por que chegou-se a tal ponto? Talvez porque o futebol tenha sido levado a sério mais do que deveria, atribuiu-se ao esporte mais significância do que ele possui. Muitas vinhetas televisivas tratando um jogo como se fosse uma guerra, muitos "analistas" discutindo o sexo dos anjos como se estivessem debatendo a respeito de metafísica kantiana. De tanto ser levado a sério, o tiro saiu pela culatra e o futebol brasileiro virou uma completa palhaçada. A meu ver, Paulo Nobre agiu corretamente quando instituiu o contrato por produtividade: jogador é funcionário do clube (que precisa ser pensado como empresa) e tem que receber de acordo com o que produz.
Hoje, em função da tragédia econômica causada pelo governo petista, o Brasil é um país que não atrai investimentos, menos ainda no futebol, tomado pela deficiência técnica, pelas cifras irreais e pelos desmandos da TV Globo. Quantias proibitivas continuam circulando, mas geralmente não estão atreladas a fatores como desempenho dentro de campo, tampouco são pagas de modo minimamente equitativo entre os clubes. Os patrocinadores fugiram quase completamente, exceto por parte de um banco estatal que investe dinheiro do contribuinte em entidades particulares. Trata-se de um quadro em que, na verdade, o mercado fica suplantado pelo poder político, com todos os interesses e disputas de poder que o mesmo traz a reboque. Capitalismo de Estado, nome mais pomposo para "socialismo".
Dos três clubes grandes sediados na cidade de São Paulo, um deles é o beneficiário dos esquemas de poder, aliado da politicagem e instrumento do pão e circo sem o qual o PT não teria fincado raízes na governança federal. Outro, é dono de uma riqueza patrimonial construída há várias décadas, mas que já não vem obtendo resultados tão satisfatórios nos últimos anos, ao contrário, as dívidas estão crescendo e os patrocinadores não têm dado as caras. Além disso, é uma instituição cuja torcida não pode ser considerada das mais apaixonadas nem está distribuída em âmbito nacional. O terceiro, é o Palmeiras, com sua torcida fanática, enorme consumidora de produtos oficiais, espalhada em várias regiões do Brasil como poucos clubes do país possuem.
O Palmeiras é uma instituição com potencial praticamente único no cenário nacional para galgar espaços de mercado até agora inexplorados pelos clubes brasileiros, em parte, devido à incompetência administrativa, caso em que o alviverde é exemplo característico, mas também porque as próprias estruturas futebolísticas tupiniquins são orientadas por diretrizes avessas ao mercado, como praticamente tudo no Brasil. Paulo Nobre terá o segundo mandato inteiro como presidente da SEP pela frente; terá que repensar inúmeros aspectos de sua gestão para o futebol do clube, área em que cometeu erros homéricos (não seriam fruto exatamente do arcaísmo que ainda vigora?), todavia, continua com a faca e o queijo na mão para ser pioneiro no sentido de estabelecer padrões administrativos voltados ao empreendedorismo esportivo e à eficiência de mercado, fatores salutares que a modernidade exige. É necessário valorizar a marca (e que potencial ela tem!), não apenas economizar, mas sobretudo ousar visando gerar novas receitas, criar estratégias agressivas de marketing, saber atrair investidores, enfim, gerir o clube como uma empresa - levar boutiques móveis em jogos fora da cidade de São Paulo, promover sessões de autógrafo com ídolos do passado nessas mesmas ocasiões, tornar mais atrativo o programa de sócio-torcedor, precificar os ingressos de acordo com a demanda das partidas, elaborar mais parcerias como no caso da Diletto, são apenas algumas das possibilidades que o clube tem ao seu dispor. As estruturas antimercado serão um obstáculo difícil de remover, contudo, é preciso começar de algum ponto. Ponto crucial para que o futebol brasileiro escolha pela modernidade mercadológica ou por outros 7x1...

2 comentários:

  1. Professor, ainda bem que o ano de 2015 está sendo diferente para nós alviverdes. Acho bem bacana você escrever a respeito de futebol no blog que tem a filosofia e a política como os principais assuntos. Afinal, Futebol também tem sua filosofia e política então, nem se fala. O post é antigo mas mesmo assim é sempre uma boa leitura. Apesar de o Palmeiras ter tomado uma goleada do fraco time de Chapecó ontem, estou bastante confiante quanto o futuro alviverde nos próximos anos. Os trágicos últimos 13 anos para os palmeirenses estão começando a ficar para trás, pois os ciclos encerram-se. Abraço leo!

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