Imagine-se uma situação inicial de completo igualitarismo em determinada sociedade: o governo distribuiu a renda total de modo equitativo entre cada habitante (excluem-se, para tornar a coisa mais simples, as crianças, os inativos e os inválidos). No momento exato da distribuição, portanto, todos possuem o mesmo quinhão em termos financeiros. Pergunta-se: quanto tempo tal estado de igualitarismo total se mantém?
Só é possível vislumbrar a continuidade da situação colocada acima se a economia fosse imediata e permanentemente paralisada no âmbito da sociedade e da iniciativa privada e passasse a haver um controle governamental extremamente rígido. Não é isso, justamente, que ocorre nas ditaduras socialistas? Todavia, suponha-se que o governo concedesse um grau de liberdade para que os indivíduos pudessem fazer uso de seu dinheiro de acordo com as próprias escolhas e prioridades.
Caso fosse permitido o uso e a aplicação livres do dinheiro, desde o primeiro instante em que a liberdade econômica estivesse vigorando, o igualitarismo não mais existiria. Uns iriam investir certa quantia, seja em poupança, seja em algum outro tipo de capital, gastando apenas o estritamente necessário. Outros, para os quais a previdência não trouxesse interesse, torrariam montantes elevados em jogos, bebida, prostituição ou mesmo em qualquer bem de consumo. Com o tempo, os mais empreendedores, estudiosos, criativos e esforçados teriam acumulado um capital monetário muito maior do aqueles que preferiram fazer uso imprevidente do dinheiro.
Fica bastante claro que, em uma sociedade livre, o igualitarismo não pode existir, exatamente porque as capacidades, os interesses e os desejos diferem de pessoa para pessoa. É óbvio que a criação de oportunidades e a implantação de alguns mecanismos de ajuste podem e devem ser colocados em prática, o que de maneira nenhuma elimina as diferenças entre os indivíduos, tampouco endossa o intervencionismo estatal. Neste ponto, surge uma segunda pergunta: em que condições pode haver igualitarismo?
A resposta exige uma tipificação conceitual: uma coisa é a igualdade que, para se sustentar como algo virtuoso, necessita da companhia da liberdade. Tocqueville mostrou esse arranjo igualdade-liberdade como ninguém, de modo que a igualdade louvável e possível é a igualdade jurídico-política, o que se costuma chamar de isonomia perante as leis. No quesito econômico, a única igualdade que pode haver no seio de um aparato governamental que propicie liberdade é a igualdade de oportunidades, a partir da qual cada um dirige a própria vida como quiser. Uma vez eliminada a liberdade, descarta-se também a possibilidade de igualdade jurídico-política, pois na sanha de controlar as pessoas o governo irá concentrar fortemente o poder político, ou seja, será estabelecida uma ditadura. A igualdade de oportunidades é então distorcida e o governo ditatorial procura impor o artificialismo da igualdade de resultados, o mesmo que igualitarismo. Sabe-se bem os resultados socioeconômicos catastróficos dessa prática. A miséria econômica e a extrema opressão política observadas em nações como a China de Mao Tse-tung, o Cambodja de Pol Pot, a Romênia de Ceaucescu, a Cuba dos irmãos Castro, a Venezuela de Chávez-Maduro ou a Coreia do Norte dos Kim Jong não são meros acasos, muito pelo contrário.
Aqueles que defendem o igualitarismo e nele acreditam são idiotas perfeitos cujo entendimento histórico não pode ser alcançado em função da fé cega em uma ideologia falida, genocida e geradora de miséria. O igualitarismo, nas palavras de Gonzalo Fernández de la Mora, não chega nem mesmo a ser uma utopia, mas sim um pesadelo impossível.
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