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sábado, 26 de setembro de 2009

Para que servem os comentários sobre arbitragem?

A resposta já pode ser dada de cara, isto é, servem apenas para fomentar discussões inúteis e acirrar desnecessariamente as rivalidades clubísticas.
Na última quarta feira, dia 23/09, Cruzeiro e Palmeiras fizeram o jogo isolado que completou a 25a. rodada do Brasileiro 2009. A partida foi transferida para o meio da semana a pedido da Rede Globo, emissora que presta péssimos serviços ao país. Como destacou o excelente jornalista Mauro Cezar Pereira, da ESPN Brasil, o erro já começou aí, pois foi um duelo envolvendo o líder do campeonato, com todas as atenções voltadas para ele, exibido por dois canais da TV aberta, um jogo que atraiu a máxima atenção, sendo que um erro da arbitragem daria margem para discussões infindáveis, como de fato aconteceu.
O árbitro Evandro Rogério Roman, que já havia cometido alguns equívocos gritantes ao apitar outros jogos do certame, inclusive errando absurdamente contra o próprio Palmeiras quando este enfrentou o Goiás no primeiro turno, foi acusado de não ter apitado vários pênaltis pró Cruzeiro. Segundo José Roberto Wright, da Globo, Oscar Roberto Godói, da Band e Renato Maurício Prado, da Sportv, que nem é do ramo da arbitragem, teria havido de 2 pênaltis para mais a favor da equipe estrelada. O último dos três senhores chegou ao ridículo de afirmar que se o árbitro quisesse, poderia ter marcado tranquilamente 5 ou 6 pênaltis. Nada leva a crer que uma tal opinião possa ser imparcial, uma vez que nenhum observador neutro em estado mental de sanidade seria capaz de endossá-la. Sou palmeirense, portanto tampouco sou neutro, porém, despindo-me ao máximo da paixão, posso afirmar que houve dois lances discutíveis, Jumar em cima de Fabrício, Figueroa em cima de Diego Renan. No primeiro, pênalti, no segundo, uma disputa onde ambos os jogadores se enroscam, sem que o lateral alviverde tenha prevalecido na suposta ação faltosa. Chega-se à ponderação de que o árbitro poderia no máximo ter apitado duas penalidades para o Cruzeiro, o que é bem diferente de 5 ou 6, sr. Renato.
Wright e Godói, quando analisam os lances, se colocam como donos da verdade, coisa que não são, nem de longe. Duvido que eles próprios marcassem 5 ou 6 pênaltis num jogo, ao que me consta jamais marcaram. Mesmo vendo e revendo a imagem trocentas vezes, recurso que o árbitro não possui dentro do gramado, a análise é interpretativa em vários casos. Depois que o lance não tem mais volta, não adianta e nem há motivo para ficar batendo na tecla, já que isso pode, dependendo do alarde que a discussão ganhar, condicionar a arbitragem nas rodadas seguintes. Não duvido que seja esse o objetivo de parte da imprensa com relação ao Palmeiras.
E por falar em alarde, jamais vi a imprensa esportiva abordar tanto o tema quando o time envolvido não é o Palmeiras, mais um motivo para pensar que as opiniões nem sempre sejam isentas. Por que não falaram nada quando o sr. Roman operou o Palmeiras em Goiânia? Por que se calaram quando o próprio Cruzeiro foi prejudicado pelo mesmo árbitro em partida contra o São Paulo, também nesse campeonato? Por que fizeram vistas grossas quando o time de Itaquera venceu o Inter graças a dois gols em impedimento e, na rodada seguinte, empatou com o Botafogo devido a erros monumentais de arbitragem a seu favor? É sabido que tanto Globo quanto Band são anti-Palmeiras e altamente tendenciosas em favor do rival da zona Leste. Onde fica o respeito para com a imensa torcida palestrina? Roman pegou considerável suspensão após o jogo. Estranho, porque só agora, apenas quando o suposto favorecido é o Palmeiras e depois desse árbitro já ter errado tanto? No mais, a CBF está distante de ser uma entidade que mereça crédito.
Avante Palmeiras, mesmo com muitos secando e fazendo de tudo para que o título não venha, mesmo com um elenco formado por tantos cabeças de bagre, a chance de título existe e a liderança vem sendo firmemente mantida!

Em discussões depois da partida, cheguei a escutar que houve 8 pênaltis para o Cruzeiro. Sandices do tipo exacerbam a rivalidade, fazem aumentar a violência, em nada contribuem com o esporte. É preciso que a imprensa esportiva pontue suas análises com base na isenção, é uma questão de ética e responsabilidade. Poucos são os veículos que agem assim. A imprensa esportiva no Brasil é sensacionalista e prostituta.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Republicanismo e ideias autoritárias na América Espanhola


A figura pomposa e as ideias apenas aparentemente louváveis de Simon Bolívar são presença mais do que constante nos livros didáticos de História e até de Geografia do Ensino Básico no Brasil, são obrigatórias, uma profissão de fé para cientistas humanos que permanecem ainda hoje centrando suas análises em paixões ideológicas, em conceitos ultrapassados e carentes de rigor científico. Nesses manuais, Bolívar aparece da maneira mais descarada possível como "o libertador", tornando a atuação histórica de homens como Sucre, O´Higgins e sobretudo San Martín, relegada ao plano do absoluto esquecimento. Não para por aí, sendo que o ideário do venezuelano é apresentado de modo a fazer o estudante entendê-lo como perfeitamente plausível, apenas não tendo logrado sucesso devido às forças de uma elite, a qual os autores nem se esforçam para qualificar por quem foi composta ou quais eram seus interesses, que inclusive - e obviamente essa é uma informação omitida - muitas vezes se assemelhavam muito aos do próprio Bolívar.
Fazer da América Espanhola uma só nação pós independente, a Gran Colômbia, nome em homenagem, vejam só os paradoxos da história, a Cristóvão Colombo, o europeu que primeiro pisou na América, ao menos considerando aquilo que é documentado. Esse foi o maior intento de Bolívar, ele que como todo criollo dos séculos XVIII e XIX, estudou na Europa e manteve contato com o pensamento iluminista. Quem enxerga a América Espanhola em toda sua diversidade, quem sabe esmiuçar a mentalidade política de Bolívar e quem principalmente conhece as possibilidades de florescimento de um sistema livre e republicano, logo vê que a ideia bolivariana jamais passou de megalomaníaca e autoritária.
O libertador da esquerda tradicional, na realidade, sempre se autoprojetou como um Napoleão dos trópicos, justo o corso, que na política, representou a negação dos ideais iluministas, inicialmente norteadores da Revolução Francesa. Os trajes militares e o cavalo branco, emulados do déspota europeu, não deixam enganar. Bolívar sempre manteve o claro objetivo de governar autoritariamente a Gran Colômbia e exercer seu despotismo sobre uma massa de gente inculta. O caudilhismo dos chefes locais suplantou o bolivarianismo, mas essa fragmentação do poder, apenas fez surgir filhotes do tirano-pai, não mudou tanta coisa, talvez tivesse sido ainda pior se ele conseguisse seu intento.
O argentino San Martín lutou tanto quanto Bolívar pela independência da América Espanhola, mas seu nome não tem merecido nem sequer mínimas menções em nossos manuais escolares. Ora, por que? A resposta é simples: as ideias de San Martín são contrárias ao marxismo das velhas esquerdas. San Martín fora um liberal-republicano e, ao comandar exércitos de libertação na América Espanhola, desejava que as terras livres pudessem fazer brotar verdadeiras repúblicas nas ex-colônias. Cedo ele notou que a sanha de poder de homens com o mesmo pensamento de Bolívar constituía obstáculo fortíssimo ao republicanismo democrático, além do que a própria ignorância política deixada por mais de três séculos de exploração, tornava pobre o solo da ideia liberal.
San Martín também estudou na Europa setecentista, captou com senso agudo os ensinamentos de Voltaire, Montesquieu, Condorcet, Kant e adquiriu o conhecimento de que sistemas livres nascem do seio da própria sociedade, dependem de uma cultura democrática, que se gesta lentamente nas mentes da população, requerem atuação política, separação entre público e privado, noção sofisticada de ética, gosto pela história, pela filosofia, pelas artes, tudo que infelizmente não se via na recém independente América Espanhola, contexto que serviu de prato cheio para líderes autoritários, entre os quais Bolívar foi só mais um. Diante de tal quadro social, San Martín lavou as mãos e, tendo cumprido o papel na luta pela independência, se retirou de cena e voltou à Europa. A glória pessoal e o poder definitivamente não lhe atraíam, afinal, era um liberal.
Hoje em dia, o maior herdeiro político de Bolívar só poderia mesmo ter surgido num país miserável como a Venezuela. Trata-se de Hugo Chávez, ditador e fanfarrão, cujas ideias vão na contramão do mundo moderno e da integração socioeconômica que a globalização requer. Oxalá o povo venezuelano continue bravo em sua luta pela liberdade do país. Está difícil, Chávez já até espalhou suas crias pelo continente, vide o cocaleiro-déspota Evo Morales, que em nada representa as etnias indígenas bolivianas.
A continuarem os estudantes latino-americanos sendo ensinados que Bolívar foi exemplo de ideário político, o continente permanecerá sofrendo da miséria. Já é mais do que hora de resgatar San Martín de seu exílio.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Alexis de Tocqueville: as múltiplas dimensões da história e a questão da igualdade


O ano de 2009 faz completar o sesquicentenário da morte de Alexis de Tocqueville, historiador, sociólogo, filósofo, jurista e moralista francês do século XIX, herdeiro da mais genuína tradição iluminista.
No Brasil, pelo menos até o momento, o fato não foi nem sequer minimamente comentado. Trivial, pois se até nos maiores centros de estudos de Humanidades, como a França, terra-mãe do próprio Tocqueville, ou a Inglaterra, o marxismo ainda predomina largarmente, o que dizer de um país no qual os estudos do tema somente ressoam o que ocorre no Velho Mundo? Justiça seja feita, a exceção fica por conta da editora Martins Fontes, que lançou edição atualizada de O Antigo Regime e a Revolução, um dos clássicos do autor.
Tocqueville, sua obra e todos aqueles que não têm receio em seguir suas ideias, são mal vistos em boa parte dos círculos acadêmicos das Humanidades, tudo, evidentemente, devido a preconceitos ideológicos. Sua origem nobre, apesar do berço nunca ter moldado seu intelecto, bem como o caráter liberal de sua obra, o tornam oposto ao marxismo e à concepção de história das esquerdas revolucionárias. Curiosamente, a grande maioria de seus detratores nunca leu nada de seus escritos, tendo ouvido falar dele apenas superficialmente, como um conservador. Teria acontecido comigo na própria graduação, não fossem a isenção e o conhecimento de professores como os grandes Ottaviano de Fiore e Alexandre Hecker. A ignorância em relação ao pensamento de Tocqueville é ainda normal, se considerado o fato de que os "revolucionários" nem mesmo leram a fundo aquilo que veio da pena do próprio Marx, quanto mais a daquele que é seu antípoda.
A comparação entre Tocqueville e Marx é sempre profícua, já que a despeito da enorme vantagem do segundo em relação à divulgação da obra, o poder de explicação imensamente superior do primeiro fica patente quando o assunto é o valor das reflexões de ambos. Enquanto Marx, possuído por sua visão progresso-cientificista e sustentado pelas verbas do burguês velado Engels, deu à história o peso de uma marcha pré-programada e unívoca, necessitando para tanto elaborar um esquema cheio de etapas simplistas e desprovidas das outras dimensões históricas que não a econômica, Tocqueville erigiu a linha mestra de suas ideias sempre estando presente no palco das ações humanas. Por um lado, como político na velha França, por outro, como pesquisador de campo - algo evidentemente raro na historiografia - na novíssima América da democracia moderna. Ao invés das tautologias classistas de Marx, que lhe fizeram pensar nos sujeitos históricos a partir de características unidimensionais, sem atentar para a noção de que a política, a cultura, a filosofia, a mentalidade, podem elas mesmas direcionar as relações de classe, Tocqueville, de forma bem mais clara e perspicaz, viu nos processos históricos da era Contemporânea o emergir de um elemento novo e comum: a igualdade.
A igualdade para Tocqueville é resultado de um processo histórico fruto da imbricação entre as várias dimensões históricas e os sujeitos históricos que perfazem a coletividade, também eles imbuídos e partícipes dessas dimensões. Não é um elemento inexorável, produto único e exclusivo de uma história que não é reconhecida pelo elemento humano, empreendida tão somente pelas forças meta-históricas da Economia, como para Marx, no que então ela não seria mais do que uma consequência da base material. Na obra de Tocqueville, a igualdade é gestada na história, passível de avanços e retrocessos, é uma tendência da modernidade, ratificada ou não de acordo com as variações na forma dos sujeitos sociais entenderem e atuarem sobre as dimensões históricas. Em Tocqueville, a igualdade não é uma situação forçada e a-histórica de condições a fortiori, uma igualdade de resultados, como nas reflexões marxianas, mas sim um desejável sinal de avanço social e histórico fruto da gestão inteligente dos problemas humanos em sociedade, por assim dizer, uma igualdade de oportunidades.
É de suma importância ressaltar que, segundo Tocqueville, a igualdade só é fecunda se acompanhada de liberdade, uma inteligente sutileza teórica do francês, observada por ele na prática, que nos leva a perceber que em sociedades adaptadas à modernidade, os interesses individuais se coadunam com os públicos. Já no caso de Marx, a liberdade só chega (na realidade não chega, mas sim a opressão da ditadura do partido único) após o banho de sangue da revolução, desfecho da necessidade pré-estabelecida da derrubada da "sociedade burguesa" e instauração do comunismo, típica aberração de uma teoria que perde de vista qualquer elemento de ética iluminista. Como já frisei em outra ocasião, Marx leu Hobbes, mas não aprendeu muita coisa. Marx não percebeu, assim como os marxistas não percebem, que o comunismo sempre descamba no próprio Leviatã hobbesiano, com a diferença importante de que na obra do inglês, o controle social tem uma base contratual, não revolucionária. O que garantiria a harmonia do estado sem classes se o primeiro impulso humano é a autopreservação? Marx é muito mais um romântico, fanático pelo lumpem e pelo anti-semitismo, do que um discípulo do Iluminismo.
Tanto Tocqueville como Marx foram homens do século XIX e, enquanto o primeiro observou a tendência da igualdade na contemporaneidade, o segundo previu o fim do capitalismo. Passado um século e meio desde então, não só o capitalismo mostra capacidade de renovação e, claramente, potencial para reduzir desigualdades, fato que qualquer um que não seja dominado por paixões ideológicas consegue notar, como também a teoria marxiana, invariavelmente quando tentada na prática, pariu os lênins, os stálins, os maos, os pol pots e os fidéis da história. Cada um que escolha quem foi o mais perspicaz...

terça-feira, 1 de setembro de 2009

A degeneração de um bairro tradicional

Estou com 32 anos de idade, contabilizo 25 como morador do bairro da Lapa, região Oeste da capital paulista. Mesmo nos períodos em que não residi no coração lapeano, frequentei o mesmo semanalmente.
Tenho história na Lapa, história que ela própria tanto possui, pois é um dos bairros mais antigos da pauliceia, produto da imigração italiana na segunda metade do século XIX, crescido e desenvolvido em um dos primeiros surtos de industrialização do Brasil, no início do século XX, momento no qual os lucros do café decaíram e passaram a ser investidos no setor secundário. Obviamente, as mudanças ocorridas desde então foram totais e a Lapa ganhou outra paisagem, outra condição, tornando-se um bairro que, a exemplo de vários outros da megalópole, adentraram junto com ela na modernidade, ainda que em países como o Brasil, esse processo tenha se dado da forma mais atropelada possível, sem o acompanhamento da melhoria na infraestrutura.
O que posso afirmar, conhecendo muito bem a Lapa, é que ela jamais esteve em uma situação de tão gritante abandono e degradação como se encontra no momento presente. Ao mesmo tempo em que observa-se a instalação de grandes empreendimentos imobiliários, - com tudo que trazem de negativo, ainda podem ser a solução - o bairro virou local de proliferação de prostíbulos da mais baixa categoria, antros de dar nojo, dos quais o cheiro de naftalina exala e se mistura ao ar já poluído da rua. Há alguns anos eles estão em funcionamento, denúncias feitas, fecham por algum período, mas voltam a abrir portas novamente. Onde estão as autoridades?
Não acaba por aí..., a quantidade de lixo depositado inadequadamente nas ruas lapeanas é de assustar. Há de todos os tipos, desde simples sacos colocados na rua fora do horário de coleta, passando por sujeira comum, - copinhos, papéis de bala, panfletos e afins, descartada por transeuntes inconsequentes e sujismundos que não são moradores do bairro, até entulho, sofá, restos de comida que provocam náusea ou mesmo o que sobrou de um velho portão, também ele permeado por histórias lapeanas de antanha. Uma imensa variedade de lixo, espalhada por todo o bairro, em cada via, em cada maltratado canteiro ao pé das árvores, o puro retrato do descaso e da total falta de respeito para com o cidadão-morador-contribuinte. Onde estão as autoridades?
Soninha Francine é a atual subprefeita do bairro, cargo que ocupa desde o início desse ano. De lá para cá, só houve piora na situação e me pergunto qual a relação de Soninha com a Lapa. Será que tem alguma? Recentemente, ela declarou que o salário de R$ 6 mil (!) que fatura para administrar a Lapa é uma brincadeira. A subprefeita poderia renunciar ao cargo e ficar apenas com as cifras polpudas que deve obter como comentarista esportiva na ESPN Brasil, algo que inclusive ela faz quase tão mal quanto administra o bairro. Ninguém de bom senso faz questão de sua gestão. Soninha pretende se candidatar ao governo do Estado... Soninha, o que você me diz sobre a situação da Lapa?
O panorama é triste e revoltante, a esperança é que alguém de mais capacidade administrativa possa, a algum momento, tomar as rédeas, se bem que a cada dia o ceticismo em relação a políticos competentes aumenta mais e mais. Tal esperança se assemelha a uma quimera. Talvez, os tantos empreendimentos imobiliários anteriormente citados, possam pressionar pelas urgentes providências, afinal, irá o comprador de tão alto poder aquisitivo conformar-se em residir num bairro francamente degenerado? Tudo é uma questão de cidadania...