No círculo das Humanidades existem alguns vocábulos cujo uso enseja um ódio profundo, seus significados - quando deturpados - têm o poder mágico de atribuir tudo o que de mais abjeto, sórdido, desprezível e maléfico pode haver em nosso mundo. As pessoas que se aferram a dogmas pseudocientíficos, que na realidade, como frisou François Châtelet, não passam de religiões mundanas e laicizadas, são aqueles que conferem essa aura demoníaca a tais vocábulos. Cabe destacar que o conjunto dessas palavras é geralmente atribuído ao corpo de ideias de uma pessoa ou de grupos que fazem parte da sociedade, compondo na mente dos dogmáticos o estereótipo pronto e acabado do crápula. Partindo dessa reflexão, o crápula que aqui escreve, aborda a seguir alguns dos vocábulos do demônio.
Atualmente, a palavra tecnologia é bastante recorrente, pois vivemos em uma era de rapidíssimos avanços na ciência que, por sua vez, faz empregar técnicas ultra sofisticadas no processo produtivo, resultando então, como em um círculo, em produtos dotados de grande carga tecnológica. Obviamente, o uso que o homem faz da tecnologia pode ser bom ou mal, o que depende de inúmeras circunstâncias. Todavia, os dogmáticos, invariavelmente, veem na tecnologia um elemento de destruição dos (supostos) paraísos idílicos das sociedades tradicionais pré-modernas. Esse maniqueísmo está presente em filmes como Robôs ou o badaladíssimo Avatar. O curioso é que essas produções usam e abusam da tecnologia. No fim das contas, é lamentável que muitas pessoas não vislumbrem a que ponto a tecnologia se tornou essencial na preservação do meio ambiente, dela dependendo diretamente as pesquisas para desenvolvimento de materiais sintéticos que dispensem recursos da natureza, a busca por fontes limpas de energia e combustíveis não-poluentes, o melhor aproveitamento e economia da água ou até a construção de grandes estruturas refletoras que amenizariam o impacto da crescente atividade solar sobre a Terra, como indica o paleontólogo Peter Ward. Viva a tecnologia!
O vocábulo liberalismo, que nos últimos tempos tem aparecido no dicionário dogmático travestido de neoliberalismo, é sem dúvida um dos termos que mais suscita o ódio entre aqueles que gostam de atribuir a si próprios o apanágio da luta pela igualdade e pela justiça. Assim, o (neo)liberalismo seria um paradigma defendido por quem pratica a exploração econômica, não liga para a desigualdade e quer que o Estado desapareça por completo. Nada pode ser tão tolo e pueril. Essa trupe se esquece do básico, isto é, liberalismo, como fica claro pela própria etimologia do vocábulo, é uma filosofia que defende a liberdade, tanto no plano do indivíduo, como no da sociedade. O anátema do liberalismo é o autoritarismo. Nada mais. Ao contrário do que faz pensar o senso comum, o liberalismo clássico, da escola de Hume, Locke e Tocqueville (excluo aqui o pensamento radical-egoísta-anárquico-libertário dos seguidores da escola austríaca e de Ayn Rand) confere importantes funções ao Estado e jamais dispensa as leis da sociedade como forma de ajuste entre interesses individuais e coletivos. Sejamos mais liberais!
No que tange ao espectro político, cuja forma mais conhecida, ESQUERDA - CENTRO - DIREITA, é algo já ultrapassado e sem grandes significados, mas que ainda povoa fortemente o imaginário dos dogmáticos, o termo direita sempre traz consigo um perfeito monstro, um burguês reacionário, elitista e preconceituoso, como adora bradar esse pessoal. Chega a ser cômico. Assim como há tempos existe uma esquerda progressista, que já abandonou o dogma juvenil da revolução socialista, que é uma esquerda que valoriza a verdadeira ciência, que acredita na democracia e no diálogo, também há uma nova direita, embora seja um pouco mais difícil encontrá-la, que deixou de lado os preconceitos de classe, a homofobia, os dogmas do catolicismo e que também é científica e democrática. O esquematismo simplista do tradicional espectro político não permite avaliar que a complexidade das ideias político-filosóficas vai bem além do maniqueísmo dogmático, bem como não é capaz de ver que a existência da nova direita é positiva para reforçar a agenda da esquerda que superou a puberdade.
Para encerrar, a palavra que mais faz as hordas da “bondade e da justiça” agitar as foices, ele, o famigerado, o detestado, o demoníaco capitalismo! O pensamento dogmático ainda não conseguiu ir além da década de 1840! Essa turma de arautos ainda se orienta a partir dos preceitos do mais vulgar e ultrapassado marxismo, ainda acredita piamente que o sistema econômico é um monolito homogêneo e que, por si só, coordena todo o restante das dimensões sociais. Segundo esse aferrado dogma, sempre decorrerão do capitalismo, a exploração e a desigualdade. É um reducionismo que constrange qualquer um que seja dotado de um pouquinho a mais de sofisticação intelectual. Até mesmo para muitos marxistas, já se tornou óbvio há anos que dimensões sociais como a cultura, a política e a mentalidade se relacionam com a economia não mais a partir do esquema no qual a base econômica direciona por completo a superestrutura. Dessa forma, o funcionamento do sistema econômico não é independente de outros fatores que perfazem o todo da sociedade, mas varia também de acordo com os arranjos que se formam no âmago dessas dimensões todas. Existem assim, tipos diferentes de capitalismo, que podem ou não funcionar bem de acordo com o arranjo sociocultural. Pode-se objetar que o socialismo também não é um monolito, o que tem boa chance de ser verdade, entretanto, a maior parte dele ainda permanece arraigado na intolerância inerente às ideias de Marx, ainda que possa haver exceções dentro do próprio marxismo. Pensando assim, não há dúvida de que se o capitalismo fosse analisado a partir de um esquema não-rígido, livre de ideias pré-concebidas e moldadas com base numa única matriz, isso traria um ganho inestimável para as sociedades humanas.
Palavras são apenas palavras, o conceito que trazem consigo, e que vai além do mero verbete, assim como as mentes humanas que as empregam, é que podem abrir terreno para análises proveitosas. De outra forma, se caso a força dos dogmas obscurecer a razão, serão os preconceitos ideológicos que continuarão a viscejar e dar margem à construção de estereótipos simplistas, frutos de uma visão de mundo aferrada à religião mundana.
Atualmente, a palavra tecnologia é bastante recorrente, pois vivemos em uma era de rapidíssimos avanços na ciência que, por sua vez, faz empregar técnicas ultra sofisticadas no processo produtivo, resultando então, como em um círculo, em produtos dotados de grande carga tecnológica. Obviamente, o uso que o homem faz da tecnologia pode ser bom ou mal, o que depende de inúmeras circunstâncias. Todavia, os dogmáticos, invariavelmente, veem na tecnologia um elemento de destruição dos (supostos) paraísos idílicos das sociedades tradicionais pré-modernas. Esse maniqueísmo está presente em filmes como Robôs ou o badaladíssimo Avatar. O curioso é que essas produções usam e abusam da tecnologia. No fim das contas, é lamentável que muitas pessoas não vislumbrem a que ponto a tecnologia se tornou essencial na preservação do meio ambiente, dela dependendo diretamente as pesquisas para desenvolvimento de materiais sintéticos que dispensem recursos da natureza, a busca por fontes limpas de energia e combustíveis não-poluentes, o melhor aproveitamento e economia da água ou até a construção de grandes estruturas refletoras que amenizariam o impacto da crescente atividade solar sobre a Terra, como indica o paleontólogo Peter Ward. Viva a tecnologia!
O vocábulo liberalismo, que nos últimos tempos tem aparecido no dicionário dogmático travestido de neoliberalismo, é sem dúvida um dos termos que mais suscita o ódio entre aqueles que gostam de atribuir a si próprios o apanágio da luta pela igualdade e pela justiça. Assim, o (neo)liberalismo seria um paradigma defendido por quem pratica a exploração econômica, não liga para a desigualdade e quer que o Estado desapareça por completo. Nada pode ser tão tolo e pueril. Essa trupe se esquece do básico, isto é, liberalismo, como fica claro pela própria etimologia do vocábulo, é uma filosofia que defende a liberdade, tanto no plano do indivíduo, como no da sociedade. O anátema do liberalismo é o autoritarismo. Nada mais. Ao contrário do que faz pensar o senso comum, o liberalismo clássico, da escola de Hume, Locke e Tocqueville (excluo aqui o pensamento radical-egoísta-anárquico-libertário dos seguidores da escola austríaca e de Ayn Rand) confere importantes funções ao Estado e jamais dispensa as leis da sociedade como forma de ajuste entre interesses individuais e coletivos. Sejamos mais liberais!
No que tange ao espectro político, cuja forma mais conhecida, ESQUERDA - CENTRO - DIREITA, é algo já ultrapassado e sem grandes significados, mas que ainda povoa fortemente o imaginário dos dogmáticos, o termo direita sempre traz consigo um perfeito monstro, um burguês reacionário, elitista e preconceituoso, como adora bradar esse pessoal. Chega a ser cômico. Assim como há tempos existe uma esquerda progressista, que já abandonou o dogma juvenil da revolução socialista, que é uma esquerda que valoriza a verdadeira ciência, que acredita na democracia e no diálogo, também há uma nova direita, embora seja um pouco mais difícil encontrá-la, que deixou de lado os preconceitos de classe, a homofobia, os dogmas do catolicismo e que também é científica e democrática. O esquematismo simplista do tradicional espectro político não permite avaliar que a complexidade das ideias político-filosóficas vai bem além do maniqueísmo dogmático, bem como não é capaz de ver que a existência da nova direita é positiva para reforçar a agenda da esquerda que superou a puberdade.
Para encerrar, a palavra que mais faz as hordas da “bondade e da justiça” agitar as foices, ele, o famigerado, o detestado, o demoníaco capitalismo! O pensamento dogmático ainda não conseguiu ir além da década de 1840! Essa turma de arautos ainda se orienta a partir dos preceitos do mais vulgar e ultrapassado marxismo, ainda acredita piamente que o sistema econômico é um monolito homogêneo e que, por si só, coordena todo o restante das dimensões sociais. Segundo esse aferrado dogma, sempre decorrerão do capitalismo, a exploração e a desigualdade. É um reducionismo que constrange qualquer um que seja dotado de um pouquinho a mais de sofisticação intelectual. Até mesmo para muitos marxistas, já se tornou óbvio há anos que dimensões sociais como a cultura, a política e a mentalidade se relacionam com a economia não mais a partir do esquema no qual a base econômica direciona por completo a superestrutura. Dessa forma, o funcionamento do sistema econômico não é independente de outros fatores que perfazem o todo da sociedade, mas varia também de acordo com os arranjos que se formam no âmago dessas dimensões todas. Existem assim, tipos diferentes de capitalismo, que podem ou não funcionar bem de acordo com o arranjo sociocultural. Pode-se objetar que o socialismo também não é um monolito, o que tem boa chance de ser verdade, entretanto, a maior parte dele ainda permanece arraigado na intolerância inerente às ideias de Marx, ainda que possa haver exceções dentro do próprio marxismo. Pensando assim, não há dúvida de que se o capitalismo fosse analisado a partir de um esquema não-rígido, livre de ideias pré-concebidas e moldadas com base numa única matriz, isso traria um ganho inestimável para as sociedades humanas.
Palavras são apenas palavras, o conceito que trazem consigo, e que vai além do mero verbete, assim como as mentes humanas que as empregam, é que podem abrir terreno para análises proveitosas. De outra forma, se caso a força dos dogmas obscurecer a razão, serão os preconceitos ideológicos que continuarão a viscejar e dar margem à construção de estereótipos simplistas, frutos de uma visão de mundo aferrada à religião mundana.