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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

As lições dos sábios mestres corneteiros de Palestra Itália


O torcedor palmeirense é diferente dos rivais, muito diferente, algo que faz dele próprio e de sua amada agremiação esmeraldina, infinitamente superiores aos adversários. Que fique bem entendido, o palmeirense não possui o afetamento blasé de uns e outros, que torcem apenas por ocasião e tiram do armário a camisa mofada do time apenas quando esse tem chance de ganhar um título. Essa turma é tão sem graça quando torce, que faz jus à pobre história de seu time. Tampouco o palmeirense é um zumbi massificado, “maria vai com a mídia”, tal qual esses torcedores que gostam de times que são desprovidos de cores em sua bandeira e uniforme. Essa patota torce por conveniência, confunde paixão com irrazão. Dá dó.
Segundo reza a  tradição palestrina, -  e para um time protagonista de uma história incomparavelmente rica, zelar pela tradição significa entesourar as glórias - nos primeiros tempos de Palestra Itália havia na rua Turiaçu uma fábrica de ferramentas chamada “Corneta”, diante da qual, sobretudo em dias de contenda, a nata palestrina, formada então pelos oriundi e que influenciaria gerações e gerações de novos palmeirenses, se reunia para discutir os assuntos políticos e esportivos referentes ao time e ao clube. Muito racionais, extremamente exigentes, críticos e invariavelmente valorizando a qualidade acima de tudo, ficaram conhecidos como corneteiros. Sempre transmitindo aos futuros apaixonados palmeirenses as lições de como ser um torcedor diferenciado e superior, os corneteiros são até hoje um dos maiores patrimônios da Sociedade Esportiva Palmeiras.
Nos últimos tempos, porém, nossa amada agremiação esmeraldina vem sendo acometida de uma grave enfermidade causada por criaturas peçonhentas que contaminam as estruturas palestrinas com seu veneno tomado de perfídia. Esses seres monstruosos adoram jogadores ruins, aferram-se ao poder, assim como o carrapato à pele, fazem intrigas e politicagem e são os mais ineptos administradores. Os ares insalubres vitimaram até mesmo parte da torcida palmeirense, que se acostumou a aplaudir fracassos, se contentar com pouco, banalizar o conceito de ídolo e fechar os olhos aos problemas da instituição. Pobrezinhos, foram levados a acreditar que gritar "porco" adianta alguma coisa. Ora, isso é depravação de quem gosta de chamar a si próprio de louco.
Tudo bem, os corneteiros ainda existem e são fortes. Não deixarão que a tradição se perca, não permitirão jamais que a enfermidade tome conta de tudo e destrua o glorioso alviverde, afinal, ele é imortal. É preciso apenas que as essenciais e poderosas lições da mais genuína tradição dos torcedores corneteiros estejam sempre em voga. Elas seguem-se abaixo, certamente o bálsamo redentor que sempre socorreu o Palmeiras quando foi preciso. Siga as lições, seja diferenciado e viva o alviverde imponente!

Lição n°1: qualquer título conquistado por nossa amada agremiação é fruto direto das críticas, das exigências e das pressões exercidas por nossa sapiente cornetagem.

Lição n°2: qualquer forma de apoio injustificado a bagres, vagabundos ou diretoria inepta, constitui em grave perniciosidade contra a própria história da SEP; por outro lado, críticas e exigências visam sempre ao bem supremo da instituição, no sentido de que objetivam afastar as iniquidades, banir as incompetências e evidenciar os equívocos para que não se repitam.

Lição n° 3: um autêntico corneteiro jamais deve furtar-se à responsabilidade máxima das críticas e exigências; deve ainda manter o ceticismo até que as evidências não mais assim o exijam e nunca considerar que dúvidas ou questionamentos sejam demasiados, sempre pelo bem maior de nossa amada agremiação esmeraldina.

Lição n° 4: um autêntico corneteiro sabe bem que, acreditar no time, em princípio, nada significa, não mantém nenhuma relação direta e fundamental com sucesso e conquistas; o fator essencial para as glórias da SEP reside na exigência de qualidade e excelência para que os méritos, enfim, sejam traduzidos em vitórias e títulos.

Lição n° 5: um autêntico corneteiro tem para consigo a ideia elementar de que não existe a menor contradição entre "torcer" e "cornetar"; qualquer um pode torcer, mas apenas os corneteiros, do alto de sua clarividência, são capazes de enxergar o que o clube e o time precisam para amealhar sucesso, sendo que isso ocorre sem que haja nenhum prejuízo ao ato de torcer.

Lição n° 6: um autêntico corneteiro sabe perfeitamente que cornetar é um ato muito mais importante e mais amplo do que torcer; quem somente torce, o faz apenas enquanto o time está em campo atuando, ao passo que a cornetagem envolve não só as partidas, mas também os bastidores e a política do clube, aspecto de suma importância para os sucessos do mesmo, assim sendo, quem se resume a torcer, torna-se um perfeito alienado em todo o restante do tempo, que perfaz o dia-a-dia da agremiação, passividade que contribui de modo nefasto com a perpetuação de equívocos administrativos.

Lição n° 7: um autêntico corneteiro jamais banaliza o conceito de ídolo; para ele, ídolo é somente aquele jogador que tenha conquistado pelo menos um título importante, seja se destacando pelo lado técnico ou pelo fator garra, mais do que isso, um ídolo não mancha seu currículo com erros graves fora de campo, não metralha os próprios companheiros e sabe a hora exata de parar e se tornar eterno no rol dos herois esmeraldinos.

Confiando na indefectível racionalidade dos genuínos torcedores do gloriosíssimo e campeoníssimo alviverde, este corneteiro que vos escreve deseja os mais sinceros votos para que um profícuo estudo das veneráveis lições acima, possa sempre conduzir nossa amada agremiação esmeraldina aos píncaros da glória. Scoppia che la vittoria è nostra!
  

5 comentários:

  1. Sábias lições do grão-mestre da cornetagem!
    Quem sabe, este foi o primeiro passo para o lançamento de um código ou mesmo da Bíblia da cornetagem?
    Parabéns, Leo, muito bem escrito!

    Fernanda

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  2. As lições são muito bem instrutivas, mas seu entendimento só está ao alcance das pessoas altamente cultas, portanto, aí parece estar uma definição de "corneteiro", que somente os inteligentes, beirando os sábios, possuem cacife para ser um deles.

    hehehe!

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  3. E aí velho, tá lembrado de mim? Sou o mestre AC, da velha comunidade.

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  4. Claro que me lembro! E aí, como vai?
    Aquelas discussões da comunidade às vezes enchiam a paciência, mas fazem muita falta!
    E o Palmeiras, será que escapa da degola?
    Abraços!

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