Nessa semana, o presidente da República, em mais um de seus arroubos pseudopatrióticos, recebeu a turminha que vai representar o Brasil na Copa da África do Sul. Todos os selecionáveis que já haviam se juntado à delegação em Curitiba estiveram presentes, nenhum deles se recusou a fazer parte do conchavo político entre a CBF e o poder federal, ambos de olhos vidrados no repasto que já estão obtendo com o mundial a ser disputado nas terras tupiniquins em 2014. Os jogadores da selenike são como zumbis sem alma, não sabem absolutamente nada sobre história do Brasil, sobre política, ou mesmo sobre dados elementares da cultura brasileira, somente visam ir à Copa como forma de acentuar suas celebridades narcísicas. Imagine se algum deles iria dar o contra em participar do joguete Lula/Ricardo Teixeira em virtude de prezar pela ética ou por ideologia, correndo o risco de ser cortado por "indisciplina"! Ética, ideologia? Pffff, para que serve isso? O que liga é trabalhar duro, ajudar o grupo e chegar ao objetivo, que é o hexa! Vai Galvão: Brasil-sil-sil!
Dunga, que está mais para Zangado, claro, também estava lá, assim como Andres Sanchez, o chefe da delegação que conquistou apoio total do mandatário Ricardo Teixeira. Não pôde faltar ainda a casquinha da primeira dama, jocosamente trajada de cheerleader da terceira idade. Ridículo! Imagine como será se acontecer o desastre dessa maldita selenike ganhar o torneio. Quem será o neocachaceiro da vez a dar cambalhotas na rampa do Palácio do Planalto? É a cara do Brasil!
Mas isso tudo, por que? Ah, claro, a Copa! Adoro esse evento, sou amante do futebol, acompanho os mundiais desde 1982, época do Laranjito e do timaço do Telê, que só não faturou a taça porque encontrou um Paolo Rossi no caminho. Pena, era uma geração do mais puro talento, digna da genuína arte da bola. Torci para o Brasil nesse ano, em 1986 e em 2002. Nas outras edições, meu antipatriotismo deu a tônica. Em 1998, me emocionei com a Marselhesa e logo ali já senti que os bleus iriam dar uma lição no ufanismo deplorável do ancião Zagalo. Zidane! Que tramoia que nada, aquele time do Brasil era pífio e a França jamais perderia em casa! Teoria da conspiração: grande balela! Em 2006, a freguesia se fez presente outra vez e o cirquinho pé de uva caiu diante de Henry e de Zidane, de novo o mestre!
Bom, mas então vou seguir o máximo que puder da minha oitava Copa, certo? Errado! Quero mais que esse mundial 2010 se exploda! Estou evoluindo, pois o futebol atual, rendido aos interesses econômicos e narcísicos, tem chamado menos minha atenção a cada dia que passa. Meu time de coração, já em estágio avançado de decrepitude, já quase tão pequeno como o simpático Juventus, contribui fortemente com a acentuação do desinteresse.
Como se não bastasse, os execráveis organizadores da Copa da África estão pondo em prática o que têm a pachorra de chamar de "benção" aos jogos e ao torneio. Já sacrificaram um boi esses dias, pretendem sacrificar mais um antes de cada cada jogo. Uma comemoração bem ao estilo africano, segundo as palavras de um dos organizadores. A dor, o sangue e o sofrimento de animais inocentes servindo para abençoar uma porcaria de um torneio inventado pela raça humana. Dá nojo!
Na História, o correto julgamento sempre mandou não dar crédito a conceitos como "civilização", "barbárie" e "selvageria". Usá-los, segundo versa o politicamente correto, é cair no erro do etnocentrismo europeizante. Devo confessar que sempre tive uma ponta de dúvida para com essa história maniqueísta dos oprimidos: europeu demônio malvado x povos africanos, indígenas e asiáticos, inocentes criaturinhas do bem, arrancadas de seu suposto idílio em função da ira, da cobiça e da malevolência do homem branco. Claro, o europeu cometeu crimes horrendos e altamente condenáveis contra outras sociedades, ainda há, por exemplo, em pleno século XXI, touradas na Europa, mas a perfídia humana não escolhe raça ou credo, é humana, demasiadamente humana. A África teve uma bela oportunidade de mostrar ao mundo sua evolução em termos espirituais, mas preferiu se prender a um costume arcaico, tribal e bárbaro, sim, bárbaro, característica que também é grande responsável pelas mazelas do continente.
Em protesto, vou me abster de assistir jogos dessa Copa. Não vai salvar a vida dos pobres animais, mas se cada um pensar nisso e mudar de canal ou desligar a TV, indo fazer algo mais útil na hora dos jogos, o impacto será significativo e perceptível. Não ao sacrifício de animais, não a esse lixo dessa Copa!