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sexta-feira, 7 de maio de 2010

Bur(r)ocracia à brasileira


Max Weber ensinou que a burocracia é um sistema organizacional inerente às modernas sociedades de massa, nas quais a grande extensão do corpo social e a tolerância consentida entre pessoas desconhecidas torna necessária a existência de um mecanismo institucional confiável no que diz respeito à execução de diversos serviços prestados ao cidadão. 
Uma vez estabelecido o sistema burocrático, as várias instituições que o compõem tornam-se autarquias cuja competência e autoridade na execução dos serviços confere a estas terreno de quase exclusividade na prestação de tais. Assim, mesmo sem ter a completa dimensão desse processo, o cidadão outorga poder aos órgãos da burocracia.
De modo geral, nas democracias desenvolvidas e consolidadas, o serviço burocrático é prestado eficazmente e de modo a atender aos direitos e necessidades do corpo civil. Uma característica típica dos países prósperos é justamente o bom funcionamento do setor terciário. Mesmo nas ocasiões em que eventualmente o sistema burocrático falha, o cidadão conta com os mecanismos democráticos para ajustar o problema. Nesse tipo de arranjo político-institucional, o governo e suas instituições servem à sociedade. Trocando em míudos, o poder maior pertence ao corpo civil que, ao mesmo tempo em que concede autoridade, possui meios para fazer dela um instrumento a seu favor e inclusive retirá-la se for preciso.  Esse é um princípio liberal por excelência.
No Brasil, onde infelizmente o sistema político-social está muito longe de um ajuste correto, completamente apartado do cotidiano do cidadão, evidentemente, a burocracia funciona de maneira horripilante. Aqui, a burocracia não é simplesmente autárquica, mas sim um estado dentro do estado. O cidadão não tem o menor poder contra uma burocracia que lhe presta os piores serviços possíveis, não conhece ou não dispõe de nenhum mecanismo democrático que o defenda contra o poder extremamente opressivo por parte das instituições burocráticas. No Brasil, desde o momento da formação de seu Estado no século XIX, é o corpo civil que serve ao governo, exatamente ao contrário do que ocorre numa democracia sólida. A bur(r)ocracia brasileira é um aparato voltado para si próprio, estando o cidadão abandonado à sua margem. Quando necessita de algum serviço burocrático, nosso corpo civil não tem outra escolha a não ser escalar um paredão cheio de espinhos que, se vencido, só poderá sê-lo depois de inúmeros e dolorosos ferimentos.
Escrevi que uma característica fundamental dos países desenvolvidos é a boa qualidade dos serviços. No mundo subdesenvolvido, do qual o Brasil faz parte, observa-se o contrário. Grande parte dos funcionários da burocracia são mal preparados e incapazes de prestar o serviço que lhes é incumbido. A confusão de informações é total, ninguém sabe onde uma coisa deve ser feita, nem como fazê-la. Estou atrás de uma PID (Permissão Internacional para Dirigir). Dei entrada pelo CIRETRAN de São Bernardo, com a documentação requisitada e tendo pago a taxa devida. Após uma semana, me informaram que não havia sido possível coletar uma digital. Ninguém explicou porque, nem que digital exatamente era essa. Me dirigi então ao DETRAN-SP, no qual depois de um chá de cadeira, uma funcionária me disse que não era esse o problema, que não seria preciso coleta de digital alguma, mas sim que "talvez" estivesse faltando uma foto e uma assinatura. Como já havia dado entrada em São Bernardo, só lá que o serviço poderia ser finalizado. Fui então ao local indicado e uma outra funcionária apontou a sala na qual eu deveria passar para pegar "um número" e voltar ao local onde ela estava para fazer sim a coleta da digital! Encontrei uma fila que não andava, quando então, depois de cerca de 20 minutos, descobri que o sistema estava fora do ar. Mais um tempo e descobri também que eu não precisava esperar naquela fila. Foi  aí que me deram uma tira de papel para ir fazer a coleta da digital e tirar foto (a que eu tinha não servia). Quando voltei à sala na qual a funcionária passou a informação errada, outra me perguntou se eu tinha feito o exame médico, isso porque já havia explicado que se tratava da PID e não da habilitação comum. Finalmente fiz a coleta das dez digitais e tirei a foto.
O serviço ainda não ficou pronto, não há um número de telefone, nem um e-mail no qual eu possa pedir informação, o único jeito é voltar lá. Disseram-me que fizesse isso na próxima segunda (10/05). A sorte é que há quem possa ver isso para mim, uma vez que não moro em São Bernardo do Campo. Depois de toda essa peregrinação, vai a PID ficar pronta? Ninguém sabe, nem o próprio pessoal do CIRETRAN.
Pela enésima vez, é a cara do Brasil!

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