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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A bruxa que mora ao lado


Tornou-se lugar-comum afirmar que o PT está no poder já há 8 anos, com mais 4 garantidos, graças ao eleitor das regiões mais pobres do Brasil, o que não deixa de ser verdadeiro em se tratando de números absolutos. Todavia, sabe-se que Dilma seria eleita mesmo sem o Nordeste, no qual se encontram os piores indicadores sociais do país.
O assistencialismo populista é sórdido e cruel ao extremo, mas altamente eficaz quando tem o objetivo de iludir o povo desprovido de informação e conhecimento. Sempre foi assim em todo e qualquer regime autoritário, não seria então, diferente no Brasil. Os rincões da miséria padecem da ignorância, dos descaminhos da educação e da sanha de poder de quem governa a nação, mas o eleitor desses locais não deve levar a culpa, justamente em virtude de sua incapacidade de enxergar o óbvio ser fruto das próprias práticas dos comandantes políticos, para os quais é vital manter as massas debaixo do espesso véu do obscurantismo. O pão e circo é aqui e agora.
Em verdade, os responsáveis pelo poder outorgado ao PT estão em latitudes bem mais distantes da linha do equador. A parcela das camadas médias urbanas provinda dos centros intelectuais do Brasil é aquela a quem o atual governo deve render graças. Essa gente, em sua grande maioria, vem sendo educada há cerca de 25 anos com base nas cartilhas doutrinárias do mais vulgar marxismo, estando seus representantes imbuídos do ódio de classe que emana de tal ideologia.
O PT não estaria no poder caso a diferença de votos pró-PSDB fosse maior no Sudeste, no Sul e em parte do Centro-Oeste. Essa diferença não se observa desde o pleito de 2002 exatamente em função da intelectualidade esquerdista e doutrinária que se considera conhecedora única do caminho reparador das injustiças sociais. Marcelo Adnet, carioca, ícone do público adolescente e dos jovens “descoladinhos”, apresentador da MTV, é um dos representantes mais influentes dessa turma. Recentemente, Adnet promoveu em seu programa uma sátira crítica direcionada a quem ele e seu pessoal consideram de direita, da “zelite fascista”, isto é, os eleitores tucanos e os que fazem objeção ao PT, os quais sofrem todo tipo de acusação. Quem quiser pode encontrar o vídeo no YouTube, devendo inclusive observar os comentários que lá são feitos. Todos os que olhei (fui até a terceira página) tecem loas a Adnet. O ódio classista e o autoritarismo são pródigos em acusar seus opositores, mas essa gente não atenta para o fato de que a cisão que hoje caracteriza marcantemente o panorama sócio-político do Brasil é o substrato para os discursos deles próprios. O maniqueísmo “nóis vs.eles” é típico do atual governo, assim como os “dois Brasis”. Quem é raivoso e cheio de preconceitos?
Ainda segundo Adnet, a oposição faz parte da tal “zelite” que não quer ver o povão se dando bem. É difícil ser mais rasteiro e simplista do que isso. De qual elite fala o apresentador da MTV? Da elite política, da elite universitária da qual ele próprio saiu, (um aluno de universidade custa no Brasil muito mais do que um estudante da base) ou da elite empresarial? A maioria desses está com o PT, senhor Adnet...
Intriga também o fato de Adnet ser funcionário de um canal televisivo cuja programação se dirige ao público adolescente, idiotizado em boa parte, e rendida à péssima qualidade do pop comercial. Nada mais “consumistazinho”, nada mais capitalismo à la Miami ou Beverly Hills.
Para os doutrinários, o PSDB é um partido elitista, composto por quadros e eleitores de “direita”. Não lhes ocorre que o discurso tucano, salvo raras exceções, tem mais semelhanças do que diferenças para com o PT, ambos pautados na massificação do consumo popular via crediário e no crescimento do PIB, como se estes fossem indicadores reais de desenvolvimento. Não passam de dois pilares programáticos que em comparação com o que se verifica em países desenvolvidos, podem ser considerados conservadores e retrógrados. Grande paradoxo que os que se opõem a essas visões sejam acusados de conservadorismo!
Durante a campanha presidencial, uma das propagandas tucanas mostrava uma mulher de baixa renda dando à luz, o que facilmente poderia fazer parte da campanha petista. Em essência, o exemplo revela que estrelas e tucanos bebem água da mesma fonte, ou seja, satisfaça o povão acentuando ainda mais sua condição improvisada, cambaleante e miserável. Não há nesse tipo de conduta objetivo algum de melhorar a vida dos mais necessitados a partir da geração de oportunidades e de modo a lhes conferir verdadeira dignidade. Nada mais do que... pão e circo.
Adnet provavelmente sabe quem é Daniel Piza, que num domingo desses escreveu em sua coluna no Estado de São Paulo mencionando a indagação humanista, é correto gerar filhos sem ter condição de sustentá-los? Já quanto a Evaldo Cabral de Mello, nascido em Recife, temo que nosso apresentador não o conheça. O mais arguto e sofisticado historiador brasileiro, posto que divide com José Murilo de Carvalho, afirmou que caso o Brasil tivesse sido alvo de uma política de planejamento familiar na década de 1950 ou 1960, o país estaria numa situação bem mais favorável. Adnet e os que pensam como ele, certamente acreditam que Piza e Cabral de Mello são nazi-fascistas defensores da eugenia. Eu e todos os brasileiros que não gostam do assistencialismo populista, do autoritarismo, da sanha de poder, da autoindulgência, do culto à personalidade, dos impostos sufocantes, da corrupção sistemática, do aparelhamento da máquina pública, da desvalorização do conhecimento, do desdém à educação, da completa ausência de políticas ambientais e do atraso tecnológico, também carregamos essa pecha. Somos todos vizinhos próximos da inversão de valores, essa personagem funesta, sempre à espreita e botando sua fuça de bruxa para fora da moita.

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