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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Manobras autoritárias


Lula deu nesses dias uma entrevista a blogueiros. Não sei ao certo qual estilo de entrevista, se foi algo mais direto e reto ou se sofreu algum tipo de mediação oficial, o que empobreceria um pouco, sem dúvida, o teor de inquirição que deve haver por parte do entrevistador em relação ao entrevistado. De qualquer forma, o que mais interessa são algumas das declarações do mandatário da República, como sempre, absolutamente dignas de total reprovação.
O presidente afirmou que a “imprensa velha” falta com a verdade e trata o povo como massa de manobra. Não ficou claro o que Lula entende por “imprensa velha”, embora depreenda-se, evidentemente, que ele tenha se referido à imprensa que faz oposição ao seu péssimo governo. Lula, como bom representante de um partido com nítido viés autoritário, crê que esse papel não caiba à imprensa, o que faz pensar também que em seu ponto de vista, ela sirva apenas como caixa de ressonância para os supostos benefícios gerados pelo poder estabelecido. Lula não é, jamais foi e nunca será defensor de uma imprensa livre e sem rabo preso com o governo, como ocorre em qualquer democracia madura.
Muita gente no Brasil acha que o tema imprensa livre é falácia devido ao fato dos veículos mais conhecidos serem de propriedade de alguns grupos bem restritos. Esses se esquecem da existência de veículos pró-Lula e pró PT, como Caros Amigos, Hora do Povo, Revista do Brasil, ou até mesmo Carta Capital. Seriam esses todos representantes da “imprensa nova”? Talvez sim, partindo das declarações de Lula,  mas o certo é que a imprensa que se opõe ao governo, algo perfeitamente normal em países democráticos, é considerada “golpista” pela turma autoritária. Cabe perguntar se também apontam que a imprensa situacionista de hoje foi golpista na época de outros governos. A verdade é que existe um pessoal que em nome da ideologia, tem justificativa para tudo...
Fora isso, o presidente ou é cínico, ou é néscio. Dada sua aversão ao conhecimento e à falta dele próprio, a segunda opção é mais crível. É de causar extremo estarrecimento assistir ao ícone máximo do assistencialismo populista atribuindo à imprensa a alienação do povo. É a atual política "social" do governo petista que faz com que os mais necessitados naufraguem ingenuamente no canto de sereia desse tipo de prática. São os mais desprovidos de informação que veem na figura do presidente um messias! Pensando bem, além de néscio, Lula é cínico.
O mandatário declarou ainda que pretende estabelecer antes do fim desse ano um projeto que prevê a “regulamentação” da imprensa. O presidente, na cola do que já disse anteriormente o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, entende que a tal regulamentação existe em países da Europa e nos EUA e que isso não representa censura. Ao se observar as aproximações que o atual governo promoveu em âmbito internacional, no entanto, é legítimo duvidar que qualquer lei de imprensa que Lula tente implantar no Brasil vá seguir o exemplo do que acontece em nações desenvolvidas. É muito mais provável supor que Venezuela, Irã ou Coréia do Norte atuem como espelhos da “regulamentação” petista.
Além do mais, o termo “regulamentação” também ficou vago. Uma agência seria responsável por isso? A partir de quais critérios, com quais interesses? A seguir pela esteira do costumeiro aparelhamento político-ideológico vigente no atual governo, coisa boa é que não vem, longe disso. Lula acha que Getúlio Vargas foi o governante exemplar, magnânimo, assim como um número significativo de brasileiros também pensa. O Brasil pode estar à beira do DIP do século XXI. Quanto tempo será que eles levam para descobrir o Aristaire?
Nenhum governo autoritário jamais aceitou a ideia de que o cidadão é livre em suas escolhas, opiniões e formas de pensamento, cabendo então ao poder estabelecido, segundo o paradigma do autoritarismo, “instruir” as massas no correto curso da causa. É uma necessidade histórica e quem desviar do caminho é porque foi engolido pelo movimento inexorável da marcha histórica, devendo ser eliminado como marginal e incapaz. Num Brasil tomado cada vez mais pela ignorância e pelo processo deliberado de massificação, o autoritarismo tem sua tarefa facilitada.

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