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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

A inglória tentativa de salvar Stalin


Muitos daqueles que se consideram pensadores de esquerda reconhecem normalmente que o regime stalinista foi totalitário e criminoso. Até aí, nada mais normal. O curioso é observar que a despeito disso, grande parte dessa turma ainda tenta, veladamente, de certo modo, conferir a Stalin uma aura de positividade, que se traduz na ideia de que a URSS então governada pelo ditador georgiano foi o país que derrotou o nazismo na II Guerra. A análise histórica acurada derruba facilmente essa tese, mas a velha paixão ideológica pelo comunismo não permite a tantos chegar em nenhuma ponderação. Proponho a seguir alguns pontos merecedores de análise, todos eles esquecidos pela visão pró-stalinista.
Primeiramente, o elemento que mais evidencia o equívoco da ideia em questão é o pacto Ribbentrop-Molotov, (mais conhecido como pacto germano-soviético) assinado pela Alemanha de Hitler e pela URSS de Stalin em agosto de 1939. O acordo feito pelos dois líderes totalitários previa não somente a não-agressão por parte de ambos os países, como também o estabelecimento de ligações comerciais entre eles e a partilha de territórios europeus com base nas ambições de poder de parte à parte.
Mais do que a mutualidade trivial presente em qualquer acordo diplomático, o pacto Ribbentrop-Molotov contém significados mais profundos e negligenciados pela visão da dita esquerda. Ele representa, sem dúvida, uma expressão bem definida da semelhança formal entre nazismo e comunismo, duas doutrinas baseadas no ódio, na eliminação do "inimigo" e na promessa do Paraíso terreno. Ainda que diversos em relação aos arcabouços teóricos que lhes dão forma, nazismo e comunismo guardam em comum as mesmíssimas finalidades, bem como meios bastante similares que lhes possam conduzir a tais fins. A admiração que Hitler e Stalin nutriam um pelo outro, jamais foi por acaso. Se em 1941 o líder nazista rompeu o pacto, isso se deu porque o próprio Hitler estava enredado no turbilhão totalitário do nazismo. Stalin, também comandante totalitário, igualmente poderia ter motivos para o rompimento, sendo que o austríaco apenas fê-lo primeiro.
A aliança entre nazismo e comunismo, por muito pouco, não venceu a II Guerra já em 1940. Enquanto a Inglaterra era alvo dos intensos raides aéreos da Blitzkrieg e lutava sozinha, já que a França caiu logo e quase sem resistência, Stalin se regozijava fornecendo o petróleo que sustentava a Wehrmacht nazista. Nesse momento crucial do combate, a figura de Winston Churchill, então primeiro ministro britânico, foi de suma importância para impedir que o totalitarismo obtivesse seu triunfo frente à democracia ocidental. Churchill foi o homem que não perdeu a II Guerra em 1940. Quanto a Hitler, Churchill já alertava a respeito de suas terríveis ambições no início da década de 1930, momento no qual pouquíssimos homens de Estado davam atenção ao nazismo, acreditando que o Führer não passava de um bravateiro. Já em relação a Stalin, após o rompimento do pacto, quando a URSS se viu obrigada a lutar ao lado dos Aliados, - sem que, evidentemente, houvesse qualquer motivação ideológica para tanto - Churchill via no líder comunista muito mais um fardo do que uma ajuda. Vale destacar que nessa fase do conflito a Inglaterra enviava víveres e suprimentos bélicos à URSS através do chamado Comboio Ártico, que demandava um tremendo esforço logístico e que sempre foi muito mal agradecido por Stalin.
O primeiro ministro britânico sabia que o fator decisivo para a vitória dos Aliados era a participação dos EUA na guerra. Então com quase 70 anos, Churchill realizou um trabalho diplomático incansável no sentido de levar os americanos para o combate. Muito antes de Pearl Harbor, apenas o estopim da entrada norteamericana na II Guerra, a força retórica e a personalidade do buldogue inglês já vinham abrindo caminho contra a recalcitrância de Roosevelt. Ter trazido os EUA para a II Guerra e assim tornado a balança pendente no lado Aliado foi uma vitória pessoal de Churchill. O Ocidente deveria agradecer mais a ele.
Dar crédito à URSS stalinista pela derrota de Hitler, significa também acreditar que nada mais aconteceu na II Guerra além da batalha de Stalingrado, em 1942. Uma análise ponderada jamais poderia negar que tal batalha, possivelmente a mais sangrenta da história, teve um alto grau de importância, tampouco se desvaloriza a heroica atuação dos soldados russos, por sorte, ajudados também pelo frio rigoroso do inverno continental europeu, para o qual os alemães não estavam nada preparados - devemos graças também ao erro estratégico de Hitler. No entanto, a já citada batalha da Inglaterra, quando a RAF segurou a Luftwaffe em 1940, bem como a evacuação de Dunquerque, ainda nos primórdios da II Guerra, além das importantes vitórias no norte da África, na Itália, contra uma resistência encarniçada das tropas nazistas comandadas pelo marechal Kesselring e, obviamente, a invasão da Normandia em 1944, em sua maioria, ações conjuntas de Inglaterra e EUA, foram igualmente de fundamental importância.
É perfeitamente aceitável e historicamente adequado afirmar que a URSS de Stalin teve uma participação importante e que contribuiu para a derrota de Hitler, mas daí, como procedem muitos esquerdistas, atribuir ao totalitarismo soviético, com ares de exclusividade, a vitória na II Guerra, não passa de passionalismo ideológico, algo inglório e historicamente falho. Muito mais justo, ponderado e correto, seria atentar para o papel de Churchill, não só durante 1939-45, mas bem antes, quando Hitler era visto por muita gente apenas como um fanfarrão a ladrar.

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