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segunda-feira, 16 de maio de 2011

O fascínio do número 100: um balanço geral


Apesar de acreditar que muitas coisas que envolvem números sejam sem importância na maioria dos casos, exceto quando se trata de estatísticas bem fundamentadas, não posso negar que o fascínio exercido pelo número 100 vá além de numerologia esotérica. O 100 sempre é invocado quando, vira e mexe, são feitas essas tais listas dos "100 mais", independente se for para eleger os 100 melhores guitarristas, os 100 melhores jogadores de futebol, as 100 cidades mais bonitas do mundo, ou os 100 piores sejá lá o que for..., os exemplos são infindáveis e, invariavelmente, cada lista dos "100 mais" é geradora de polêmica: muitos acreditam que algo ou alguém não deveria fazer parte da listagem ou, mais ainda, que algum injustiçado foi deixado de fora. Creio que essas listas não passam de inutilidades, feitas exatamente e apenas para instaurar polêmicas indissolúveis.
O número 100 também marca presença constante no esporte: nesse famigerado Campeonato Paulista que se encerrou ontem, com o título merecidamente nas mãos do time praiano e com o vice tendo ido para a equipe sem cores da Marginal Tietê, o lobbista Rogério Ceni marcou seu centésimo gol contra esses mesmos que terminaram em segundo lugar. A propósito, já que estamos abordando a ideia do fascínio pelo cem, o presidente da agremiação incolor havia dito que o ano do Centenário só estaria findado no dia 01/09/2011 e que, portanto, o time ainda poderia faturar algum título em sua centúria. Com o vice de ontem, agora é definitivo, o "cemternada" está mais do que confirmado, já que o próximo título em disputa só se decidirá em dezembro. Cem anos sem estádio, cem anos sem Libertadores, cem anos completados sem presente de aniversário. Que não me levem a mal os torcedores incolores, mas a megalomania do clube em questão, patrocinada midiaticamente, esbarra na própria realidade de um time provinciano.
Ainda no esporte, terreno tão fértil para o vicejar dessas mitologias em torno do 100, um time de futebol sempre se torna notícia quando atinge a marca de cem gols num torneio, o que de fato, não é algo comum, que o diga o Palmeiras de 1996... E quando um jogador disputa seu centésimo jogo, ou quando um lutador participa de seu centésimo combate, ou ainda quando um piloto corre seu centésimo GP? Sempre, tais fatos geram certo destaque, maior ou menor variando em função de inúmeros fatores, mas sempre o 100 se torna notícia.
O campo político, como não poderia deixar de ser, igualmente encontra seus julgamentos no número 100. Quando um chefe de Estado chega ao poder, costuma-se afirmar que os primeiros 100 dias de seu governo servem como amostragem do que já foi feito e do que poderá ser o futuro de sua gestão. Dilma Rousseff completou sua centúria no mês passado. Nada escrevi sobre o assunto, pois confesso que a presidente ainda não me deixou claro a que veio. Quem sabe eu não resolva tratar da governança dilmista no momento em que ela completar 200 dias no cargo? 200 = 100 + 100.
O número 100 transmite uma sensação de completude, de etapa cumprida, 100 é a quantidade de anos de um século e eu, que sou historiador, sei bem como é isso: lembro-me da Profa. Maria Auxiliadora Dias Guzzo em meu tempo de graduação, falando em tom grave com os alunos do 2° semestre na disciplina Brasil I que, "historiador não precisa decorar ano, mas jamais pode errar século"; um pouco antes disso, ainda no 1° semestre em Antiga I, o Prof. Ettore Quaranta indicava a leitura de um livro didático para que seus pupilos, muitos deles recém-saídos do Ensino Médio, não se esquecessem as balizas temporais que marcam os períodos da história da Grécia em termos de séculos. Séculos, marcas emblemáticas das artimanhas de Cronos. 
Curvemo-nos, é o que nos resta, diante do 100: eis que este Aristaire que vos "fala" chega a seu centésimo artigo, fazendo com que o número mereça, por força da tradição, mais do que por qualquer outro motivo, um balanço geral, afinal, que número poderia ser mais adequado para isso do que ele, o incansável 100?! Desde que foi concebido, há 2 anos e 3 meses, foram 100 artigos, média de 3,7 redigidos a cada mês. Olhando como autor, presumo que o tom das ideias aqui discutidas desde fevereiro/2009 tenha sofrido uma certa mudança. Em outras palavras, acredito que o blog passou a ser um pouco mais sóbrio, se não sempre, na maior parte das vezes.
Analisando as estatísticas, algo que faço quase que diariamente, já que além de considerar uma ferramenta muito interessante, gera curiosidade saber o que está sendo lido e quantas visitas o espaço teve no dia, na semana, no mês, é possível delinear algumas impressões. Atualmente, o blog conta com cerca de 850 visitas/mês, o que resulta em uma média de 28,33/dia. Ainda é pouco em termos relativos, mas creio que os números subam com o tempo, além do que, antes qualidade do que quantidade.
Os artigos mais lidos, que passaram a constar do lado esquerdo da página, são justamente fruto das consultas nas estatísticas. Essa observação gera surpresas, satisfações e algumas frustrações. Quando escrevi O Iluminismo e a pós-modernidade, apesar de considerá-lo um bom texto, não esperava que alcançasse marca tão significativa (hoje, conta com 800 visualizações, disparado o artigo mais lido). Não me faz estranhar, por outro lado, que muitos dos relatos de viagem estejam entre os mais lidos, já que são de leitura fácil e prestam informação. Já quanto a O preconceito linguístico no Brasil, me surpreende a estatística, uma vez que tem sido bem mais buscado do que eu pensava. Artigos com teor mais provocativo e humorístico, tais como No ano do "cemternada" incolor, o Octa palestrino, igualmente avançam rápido para a condição de mais procurados, assim como os dois que versam sobre músicas essenciais, que são bem palatáveis (nisso, inclusive, um mea culpa, pois são dois textos baseados em listas de "melhores"). Fico bastante satisfeito ao notar que, mesmo sem estarem entre os mais lidos, Alexis de Tocqueville: as múltiplas dimensões da história e a questão da igualdade ou As origens do Brasil e o cretinismo da busca pela identidade nacional, foram até hoje alvo de boa quantidade de leituras.  A parte de frustração vem quando artigos que considero excelentes deixam de receber devida atenção; penso, por exemplo, em A razão como produto da História, Apologia da razão, Sobre o individualismo e o egoísmo ou O povo em catarse: um dos efeitos da cordialidade no Brasil das massas. Exceto pelo último, são textos mais densos, o que talvez explique a baixa audiência. Quanto aos comentários, ainda os considero quase ínfimos, ao mesmo passo que somente aprovo e valorizo, evidentemente, aqueles que são construtivos.
De modo geral, o Aristaire funciona pare este autor como espaço sem o qual seria certamente bem mais complicado refletir e expor a respeito dos temas que costumo tratar. Um espaço para a crítica, para a indignação e para discussões, por vezes, mais específicas e técnicas, mas também um local para relaxar e descontrair, aprender com leitores de qualidade, colocar a escrita em prática e a mente para raciocinar. Que venham mais 100 por aí!

Um comentário:

  1. Ao contrário do "cemternada", seus 100 textos são ricos e repletos de informação, além de serem uma demonstração da sua cultura e inteligência.
    Parabéns, Leo!

    Fernanda

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