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quarta-feira, 15 de agosto de 2012

A velha ladainha quadrienal


Sempre que as Olimpíadas acabam o desempenho brasileiro fica aquém do que muitos desejam ou daquilo que muitos esperam por serem ingênuos. E, com isso, comentaristas não só da área esportiva, mas de diversas outras, se põem a falar exaustivamente a respeito dos motivos do fracasso olímpico brasileiro. Me lembro de ler e ouvir essas análises pelo menos desde 1984, uma repetição de ideias e lugares comuns que todo mundo já conhece. É preciso continuar batendo sempre na mesma tecla?
Será mesmo que o desempenho tupiniquim em Londres e em outras Olimpíadas anteriores foi um completo fracasso? O Brasil precisa ser potência olímpica? Após os Jogos de Atlanta em 1996, o eterno presidente do COI e fanfarrão incorrigível Carlos Alberto Nuzman, declarou que dentro de um intervalo de oito anos o país seria essa potência, discurso que volta e meia ele torna a proferir. Dinamarca, Estônia, Finlândia, Liechtenstein, Luxemburgo, Noruega, Suécia ou Suíça não são potências olímpicas, têm desempenho semelhante ao do Brasil, mas o IDH dessas nações está lá em cima, enquanto o nosso... O que querem os brasileiros? Esporte como formação ou medalhas olímpicas? Estas dependem da formação, todavia, não são o essencial.
Certamente, este país precisa parar de financiar e de paparicar "turistas olímpicos", como um certo pessoal da ginástica olímpica e da natação, isso sem mencionar os popstars acéfalos do futebol, celebridades bizarras, instrumentos da massificação midiática. No caso da natação, há muito tempo conta com o patrocínio estatal dos Correios. Para que? Para enviar aos Jogos turistas típicos como Joana Maranhão, Fabíola Molina e outros atletas que viajam já sabendo que não terão a menor chance? E agora temos também um popstar das piscinas, o tal do Cielo, que foi à capital britânica sonhando com o ouro reluzente, mas não pegou nada além de um bronzeado. Mais um caso de dinheiro público mal aplicado.
Qualquer ignorante já sabe que cultura desportiva se produz nas escolas e nas universidades. É essa a ladainha quadrienal que jorra nos veículos de comunicação sempre que as Olimpíadas chegam ao fim. Tão óbvio, tão simples, mas tão distante da realidade brasileira. Ninguém precisa mais repetir isso, precisa sim, refletir porque o trivial nunca é colocado em prática. Querer que atletas ganhem medalhas é pensar apenas no final do processo, o problema é que não se confere o lugar correto ao esporte na formação do cidadão, nem se deseja isso, o que é pior.
Uma enorme parcela das escolas de Ensino Básico do Brasil afora não possui sequer salas de aula suficientes, quanto mais espaços decentes para a prática esportiva. Do mesmo modo que professores das outras disciplinas sofrem com a falta de estrutura e com o desvirtuamento da educação, transformada em atendimento ao cliente, o profissional da Educação Física ou faz milagre tentando transmitir aos alunos que esporte não é só lazer, mas também educação - tarefa das mais árduas diante do que se pensa sobre o assunto neste país - , ou dá uma bola para a molecada "tirar um contra", o que no fim das contas serve pelo menos como divertimento.
O esporte forma não somente atletas, mas também cidadãos. Esporte cria oportunidades. Esporte tem a ver com ética e normas de conduta, com respeito ao adversário, com saber ganhar e saber perder, com competição, com superação e com vontade de vencer. O esporte cimenta a integração dentro das escolas e na vida em sociedade fora dela. O que deveria começar no Ensino Básico e ser aprimorado na universidade, se perde desde o princípio. É bastante incomum no Brasil o estudante chegar ao Ensino Superior pensando em praticar algum esporte de maneira séria. Nem poderia, pois salvo raras exceções, as universidades, assim como as escolas, não oferecem estrutura e nem acham que é importante oferecer. Estudei durante quatro anos na PUC/SP, uma das universidades mais tradicionais do país. No campus Monte Alegre há apenas uma quadra, que só fui fazer uso no último ano do curso e por iniciativa própria, não porque eu devesse tê-la usado em função de alguma disciplina. Não havia nenhum programa de bolsas por prática de esporte, nem mesmo aulas curriculares de Educação Física, ao invés disso, no primeiro semestre substituíram a obrigatoriedade dessa disciplina por uma besteira sem tamanho - invencionice de pseudointelectuais, ideólogos rasteiros que consideram esporte "coisa de burguês" -, chamada "Motricidade Humana", lixo teórico, sociologia de botequim que não foi capaz de levar os alunos para uma atividade ao ar livre, uma só que fosse! Essa gentalha esquerdopata que domina a cena acadêmica brasileira adora fazer pose para falar na "função social do conhecimento". Formar estudantes-atletas não seria um modo excelente de promover algo além das torres de marfim, prisões do pensamento, na qual muitos "doutos" se enclausuram em suas eternas elocubrações a respeito dos "males do capitalismo" ou do "marxismo revolucionário como alternativa para o século XXI"?! Não, para eles é mais válido pintar cartazes de protesto em papel pardo com tinha guache e fumar uma maconha, ela sim possibilitadora de "benefícios recreativos"...
O que menos importa é se um dia no futuro alguém que praticou esportes seriamente vai ou não trazer medalhas para o país nas Olimpíadas, consequência que depende de várias circunstâncias; válido, isso sim, é contar com o esporte na formação de cidadãos. Aqueles mesmos que critiquei no parágrafo anterior são os que enxergam nas competições nada mais do que a ditadura dos corpos perfeitos e a busca frenética por recordes. Vá lá que no comunismo chinês que eles apreciam exista uma mentalidade doentia também na preparação de atletas, mas é fácil argumentar contra a ideia de que esporte seja necessariamente sinônimo de ditadura da estética corporal: a levantadora japonesa Takeshita, uma das melhores do mundo, mede 1,59m de altura, o judoca brasileiro Rafael Silva ganhou medalha com seus quilos a mais, os exemplos são muitos. Quanto à crença de que a competição esportiva de alto nível é prejudicial, creio eu ser bem mais saudável do que a competição por feudos acadêmicos ou por fundos de Iniciação Científica, Mestrado ou Doutorado, que não visam qualidade, mas sim quantidade. E no cotidiano, não vejo muitas críticas com relação à competição causada no trânsito por motoristas-pilotos, ou nas tais baladas, para saber quem beijou mais. E em 2016, vem mais ladainha por aí...

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