Há poucos dias o governo de Dilma Rousseff anunciou um pacote de medidas logísticas que visam facilitar os mecanismos de transporte em geral e mais especificamente as exportações brasileiras, sobretudo de commodities. O anúncio foi saudado pela maior parte dos analistas e dos meios de comunicação. Foi noticiado que com o pacote o governo acerta a mão e passa a pensar mais em parcerias com o setor privado, que estuda participar dos projetos, e menos pelo viés estatista e ideológico. Será mesmo? Isso não está claro a meu ver e, caso as PPP´s logísticas funcionem do mesmo modo (há motivos para pensar que ocorrerão diferentemente?) como no caso da construção de obras destinadas aos eventos esportivos vindouros, será mais um exemplo inconteste do deplorável capitalismo de Estado à brasileira, com empresários ávidos por obter boquinhas proporcionadas pelo poder estabelecido. Tenho notado um aumento do adesismo da imprensa com relação a este governo inepto, quadro que talvez me assuste mais do que qualquer posição tomada por ele, pródigo em promover lambanças de todos os tipos o que, portanto, nunca me surpreende.
O ideologismo do atual governo não vai ser esquecido tão rapidamente e dói ver como tudo é pacote na centralização petista, dando a
entender que as melhorias e o desenvolvimento estão prontos em uma
gaveta, bastando a vontade dos mandatários de apanhá-los e colocá-los em
prática de uma hora para outra, sem que isso dependa de qualquer debate
com a sociedade ou de medidas mais simples que poderiam eliminar obstáculos
gerados eles próprios pela estrutura retrógrada dos arranjos
governamentais no Brasil.
As tais medidas logísticas recaem, mais do que qualquer outra coisa, sobre melhorias/construção de rodovias e ferrovias. Quanto às primeiras, é sabido há pelo menos uns oitenta anos, tratar-se de meio de transporte caro, ineficiente e gerador de impactos ambientais bastante sensíveis. Exatamente por isso, nunca foi o modelo preponderantemente adotado em países desenvolvidos, nos quais os aprimoramentos logísticos se fazem hoje em dia em cima de uma base já consolidada em períodos anteriores. Estes aprimoramentos resultam especialmente de investimentos tecnológicos e estudos urbanísticos, elementos de total importância a respeito dos quais o governo Dilma nada parece saber. O desenvolvimentismo tacanha da década de 1950 ainda é visto como vanguardista no Brasil.
No que tange à malha ferroviária, tipo de transporte mais barato, mais eficiente e ecologicamente bem mais acertado do que o rodoviário, foi jogado para escanteio desde as primeiras décadas do século XX neste país. Estaria Dilma querendo resgatar os trens para sanar uma dívida histórica? Talvez, mas então por que anunciar investimentos em rodovias, sendo que nestas deveria prevalecer um esquema de concessões privadas mais claro e provadamente mais eficiente? Não seria melhor concentrar as ações e os investimentos no que é melhor e mais necessário?
O pior, todavia, é a ausência total de investimentos em transporte hidroviário, o mais indicado em todos os sentidos, seja na capacidade de transporte, nos custos e também considerando-se questões ambientais. A falha nesse ponto é ainda mais grave em função do gigantesco potencial que o Brasil possui em termos hidroviários. Na região Norte, onde muitas porções do território só podem ser acessadas por via fluvial, a carência de transporte continuará desassistindo populações e prejudicando a economia. É gritante e estarrecedora a incapacidade do governo federal em enxergar e propor correções neste aspecto.
Também se falou pouco a respeito dos aeroportos, nos quais o atraso estrutural exige investimentos maciços, sob pena de melhorias que se anunciam hoje mostrarem-se defasadas daqui poucos anos. Este dado é importante, pois foi justamente a bola levantada por analistas isentos, isto é, a infraestrutura logística brasileira é tão parca que o anúncio do "pacote logístico" chega tardiamente, além do que, o valor do PIB destinado aos aprimoramentos ainda fica aquém do que seria adequado, inferior ao que é gasto até mesmo em países vizinhos.
O PT está no poder há quase dez anos, Dilma, até agora, passados vinte meses de seu mandato, não fez absolutamente nada tecnicamente falando. Praticamente uma década do mesmo desenvolvimentismo estatólatra e autoritário que se via em tempos da carochinha, como na Era Vargas. E agora, em ano eleitoral e com Copa do Mundo e Olimpíadas não tão distantes o governo muda e começa a direcionar o Brasil para o caminho certo? Me engana que eu gosto!
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