Há alguns dias, André Mantovani, ex-diretor da MTV, declarou ao jornal Folha de São Paulo que a Internet é um algoz para a emissora. Ele explicou que durante muito tempo o canal ditou as regras da cultura pop, mas de uns tempos para cá perdeu a condição de vanguarda para a rede mundial de computadores. Não deixa de ser uma verdade, no entanto, é interessante refletir sobre o porque deste fato levando-se em conta as escolhas feitas pela MTV, tanto em relação ao conteúdo de sua programação como no que se refere ao público-alvo buscado por ela.
Quando a MTV chegou ao Brasil em 1990, era um canal que não tinha absolutamente nada a ver com o que agora se apresenta. A começar pelo nome, fazia jus em ser identificada como um canal musical, algo que se perdeu paulatinamente ao longo destes 22 anos. Hoje a música se situa abaixo da linha de marginalidade na MTV, que na tentativa insólita de se manter pop, preferiu apostar em programinhas "divertidinhos" e superficiais, verdadeiras aberrações de auditório, subcultura aborrecente cem por cento desprovida de inteligência, alienação juvenil cujo único objetivo foi ganhar espaço midiático, no pior sentido da palavra, perante um público que jamais representou suas origens. O marketing se revelou rasteiro, como o comprova a própria declaração de Mantovani. A Internet está repleta de lixo, como muitos sabem, mas poucos têm desprendimento suficiente para apontá-lo e, entre o lixo cibernético, mais fácil de ser acessado e deglutido a qualquer hora ou lugar, e o lixo televisivo, menos prático e nem sempre disponível, a opção se fez acentuadamente em favor do primeiro. Escolha errada da emissora, escolha previsível do público idiotizado pela Internet.
Na idade do ouro da MTV, que já foi embora há pelo menos uns 14 anos, a programação era segmentada e, assim sendo, procurava atingir, dependendo do dia da semana e do horário, um determinado público. Havia atrações para quem gostasse de música mais comercial, bem como para apreciadores de Rap, Reggae, ou Rock em geral. Ainda que houvesse coisas dispensáveis no meio disso tudo, a música e uma certa qualidade cultural eram valorizadas e transmitidas da maneira correta aos jovens da época. Época aquela em que o espectador assíduo da MTV estava mais ou menos na faixa etária dos 15 aos 25 anos, gente que hoje está acima dos 30 ou 40 e que se sente absolutamente carente de boa programação musical na TV alternativa. O MP3, com sua sonoridade extremamente pobre e chapada de radinho de pilha, não tem como substituir clipes de música e informações precisas sobre artistas, bandas e álbuns, sobretudo e ainda mais em função da onda retrô que veio para ficar entre o pessoal que viveu a infância e a adolescência no período que vai do final dos 1970 até início dos 1990. Além disso, a derrocada da MTV em direção ao lixo cultural se iniciou antes mesmo do MP3 e do boom da Internet, fenômenos balizados por volta de 1999-2003.
Será que nenhum editor de programação percebe isso nos bastidores da emissora? Ou será que estes hoje em dia são subprodutos da falência e do pesadelo culturais do pós-modernismo, incapazes portanto de uma noção de tal panorama? O que é mais acertado, ter na equipe de apresentadores gente ligada à música, dotada de bagagem cultural, pessoal que fala do metiê com conhecimento de causa, a exemplo de Fabio Massari e Gastão Moreira, ou vetores típicos do emburrecimento, portadores da moléstia "tiporrágica" e de posturas afetadas, os Didis, as Titis e as Mari Moons da vida? Ou a MTV continua optando por um público idiotizado que não mantém mais nenhuma relação com a própria emissora, ou tenta sair do atoleiro em que se enfiou por incapacidade de se vacinar contra os modismos e busca resgatar a cultura de qualidade por meio de sua origem, a música.
Existe sim um público sedento por encontrar boa música em canais de TV, mesmo com a presença do Multishow e de novidades como o Now, que não têm um direcionamento musical exclusivo, tampouco oferecem conteúdo solidamente construído em torno de estilos confidenciais, tais quais o Fusion, o Blues ou até mesmo o Heavy Metal e o Hard Rock. Posso estar sendo reacionário e torcendo o nariz para o novo, mesmo o novo em âmbito musical. Está certo, é isso sim e, como discípulo do grande Edmund Burke, não vejo como descartar padrões por uma simples questão de "estar antenado com a modernidade", principalmente se essa modernidade vier acompanhada de dejetos da subcultura. O caminho a tomar parece ser óbvio, contudo, em era de massificação e emburrecimento, o óbvio deixou de ser claramente percebido. Acabo de ligar na MTV e me deparo com "Adnet Viaja". Que utopia a minha!
O resultado desta decadência já se faz evidente hoje, quando leio que o grupo Abril está pensando em abrir mão do nome "MTV Brasil", e não se exclui a possibilidade da emissora chegar ao fim em dezembro deste ano. Quer apostar que vai virar canal de pastor televisivo? Triste. Legal o blog, abraços do colega historiador aqui de BH.
ResponderExcluirObrigado, Tiago!
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