Como sempre afirmo, e não se trata de nada além da mais óbvia e ululante constatação, o pensamento de esquerda jamais está autorizado a fazer uso do conceito de democracia com o objetivo de se contrapor a qualquer tipo de regime autoritário. Isso serve apenas para fazer a cabeça de analfabetos políticos e arrastá-los pelo caminho da mentira e da ditadura. Ser de esquerda é estar exatamente ao lado da ausência de liberdade, noção que o correto entendimento histórico não permite contrariar e, quem quer que tenha se debruçado sobre os textos de Marx e da miríade de discípulos por ele deixados, inclusive considerando-se aí também o keynesianismo, uma espécie de marxismo velado e erigido com vistas a se inserir mais eficazmente nos bastidores da política, sabe muitíssimo bem disso. Existiram ao longo do século XX raríssimas exceções que podem ser apontadas como componentes de uma "esquerda democrática", porém, tornadas ainda mais exíguas após a crise do mundo soviético e do colapso comunista, até porque tal vertente acabou em grande medida absorvida por outras formas de orientação. Quem foi capaz de enxergar as aberrantes falhas do comunismo, dele se desvencilhou.
No Brasil, atolado pela ditadura comunista do PT, o uso mentirosamente deslavado do conceito de democracia pela esquerda se traduz sobretudo na apologia dos regimes cubano, venezuelano e boliviano, coirmãos latino-americanos do marxismo terceiro-mundista. O ex-presidente Lula, e o mentor do mensalão, José Dirceu, além de outros petistas poderosos, sempre se mostraram entusiastas contumazes desses governos. Só mesmo extremos inimagináveis de idiotice podem fazer com que alguém acredite haver democracia nessas ditaduras de esquerda. Também corriqueiras são as análises esquerdistas a respeito do governo militar brasileiro, nas quais invariavelmente se lança mão da democracia com o intuito de defender comunistas. Na mais recente peça de falseamento do passado, Mino Carta, diretor daquela revista de piadas de mau gosto que a tantos idiotas consegue seduzir, teceu loas homéricas ao mensaleiro José Genoíno que, segundo ele, foi uma grande vítima da ditadura militar, alguém que lutou pela democracia e agora sofre as injustiças da burguesia direitista. Carta quer fazer crer que um comunista lutou pela democracia, ideia absolutamente contraditória desde a década de 1840. Um sistema que defende a violência revolucionária, que prega a eliminação de setores da sociedade e que tem na ditadura uma de suas fases mais importantes não pode em hipótese alguma se aproximar de qualquer laivo de democracia.
O regime militar brasileiro cometeu equívocos profundos na condução da política econômica, germe da hiperinflação dos anos 1980, bem como, mais grave ainda, em nome da tecnocracia, deixou de lado a produção cultural e a educação. As lacunas desse sistema foram oportunamente ocupadas pela esquerda e, hoje em dia, filmes nacionais que atribuem aura de heroicidade a ícones sanguinários da esquerda são feitos à custa de dinheiro público, ao mesmo tempo que nas escolas e na universidade, o esquerdismo domina praticamente sozinho o paradigma dos corpos docentes, revelando o nefasto doutrinarismo que dita os rumos educacionais no país. Esses nichos são privilegiados na propagação das mentiras esquerdistas e conseguem cooptar uma quantidade enorme de ingênuos.
Se a ditadura militar foi estatista e desatenta à questão cultural, o que lhe faz ser merecedora de críticas no âmbito de quem adota ideias liberais, no que se refere às análises de esquerda, tem-se mais um caso em que somente a ingenuidade histórica e política podem levar um grande número de pessoas a acreditar nas manipulações que essa ideologia promove com o conceito de democracia. Todas as táticas terroristas e opostas à democracia, típicas da ação da esquerda, como a guerrilha do Araguaia, o MR-8 e os sequestros políticos foram financiados com verba diretamente enviada dos porões da ditadura soviética. Essa gente jamais lutou contra a ditadura militar tentando colocar no lugar dela um sistema democrático, mas sim com o objetivo evidente de implantar o comunismo no Brasil. Na mesma época, sempre que algum dissidente soviético vinha a público para denunciar os crimes e a barbárie do comunismo, tal qual o exemplo cabal de Alexander Soljenítsin, prontamente a esquerda passava a qualificá-lo como um agente a serviço do império capitalista.
Em 31 de março de 1964 os planos da esquerda autoritária foram frustrados pelos militares, apoiados por grande parte da população brasileira, é bom que se destaque. Nos quase cinquenta anos passados desde lá, o regime militar virou peça de museu, ao passo que o esquerdismo recrudesceu com força e distanciou-se da modalidade mais aberta e tradicional que inspirou o castrismo cubano para se transfigurar no gramscianismo, pragmático enquanto oculto aos bastidores sórdidos da politicagem que destrói as instituições, ao mesmo tempo que místico e messiânico no apelo dirigido às massas tomadas pela catarse da ignorância. O perigo hoje é imensuravelmente maior.