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sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

À guisa de encerramento


Morreu Kim Jong-il, o lunático ditador norte-coreano, um homem cujo tempo de governo durava 17 anos, um homem a quem o culto rendido pelo artificialismo do regime comunista o colocava acima de tudo e de todos. Grande ironia o fato dos indivíduos que detêm o poder se sobressairem em tamanha escala num regime do tipo; o marxismo está desmentido também nesse aspecto. Muito antes do comunismo ser o próprio comunismo, trata-se de um sistema autoritário, algo que a análise histórica isenta permite atestar com facilidade. Na Coreia do Norte, viu-se a multidão mergulhada em prantos pela morte de seu ditador, pois a reverência obrigatória ao líder manda que seus súditos ajam de tal forma. Em parte, a manipulação na qual a população é mantida sob uma ditadura, a faz pensar, ignorantemente, que a ausência do ditador levará ao caos, como se este já não fosse inerente ao comunismo, por outro lado, nas brechas em que a sanidade mental se mantém a duras penas, as lágrimas de crocodilo podem servir como garantia de vida - é melhor ser visto chorando do que ser morto. Não me consta que a paranoia comunista tenha criado alguma maneira para identificar o choro fingido. Se nem a Inquisição, muito mais afeita aos mistérios do que os ditadores, percebeu que Galileu dizia uma coisa e pensava seu oposto, não será a ditadura comunista da Coreia do Norte a desbaratar simulações como esta.
Morreu também Vaclav Havel, intelectual e político tcheco, o homem que melhor soube conduzir o fim do regime comunista no leste europeu e estabelecer um sistema livre em seu país. Havel foi o mentor da Revolução de Veludo, processo que desmembrou a Tchecoslováquia de modo absolutamente pacífico no início dos anos 1990. Não é por acaso que hoje a República Tcheca seja a nação mais próspera da Europa Oriental, tampouco o fato de que Havel, assim como outros intelectuais de brilho daquela parte do planeta, vide Czeslaw Milosz e Leszek Kolakowski, sempre tenha sido um ferrenho opositor das ideias comunistas. Por ele também houve choro, sem pompa, sem culto à personalidade, mas devido à perda de uma mente defensora da dignidade e da liberdade humanas. Choro sofrido e autêntico. Seria bom para o mundo que houvesse mais homens como Havel.
                              
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O próximo ano está quase chegando e, com ele, as idiotices de sempre que caracterizam essa época de virada. Durante quase 12 meses completos muitas pessoas se agarram aos vícios, umas sem se darem conta dos mesmos, outras, conscientes, mas que não mudam por preguiça física ou espiritual. Não sei o que é pior. Tudo bem, os vícios fazem parte da condição humana, sendo dificílimo que alguém possa escapar a eles, - e eu mesmo os possuo - mas prometer a quem quer que seja, começando por si próprio, que no próximo ano as coisas irão ser diferentes como num passe de mágica, unicamente em função da mudança do ano é, na grande maioria das vezes, somente hipocrisia, balela ridícula de quem se deixa levar muito mais pelos devaneios típicos do Réveillon do que pelo compromisso e pelo esforço que uma mudança de comportamento impõe e, que ainda por cima, se for por autêntica força de vontade, pode ocorrer em qualquer período.
O pior de tudo nessa época são os fogos de artifício, uma das invenções mais execráveis que acompanha as festas de fim de ano. Por que não se proíbe esse verdadeiro lixo? Ah, porque as pessoas gostam, porque elas se divertem, porque é uma tradição, porque simbolizam alegria. As respostas mais odiáveis são aquelas que tomam a parte pelo todo, que generalizam. O mesmo acontece com outras ditas tradições, em que aqueles que não compartilham do gosto por tais, são sumariamente desconsiderados. Temos aqui um exemplo notório de tirania da tradição. Não seria problema sério caso se tratasse apenas de uma questão de gosto pessoal, contudo, o prejuízo é fortemente sentido por animais, tanto os domésticos como aqueles que não o são, tremendamente atordoados e assustados pela barulheira. Há os que se estressam, os que se perdem tentando encontrar um abrigo dos estampidos e até os que chegam a morrer. Entre as aves que vivem em liberdade, o pânico e o estresse provocado pelos fogos costuma ter consequências das mais lamentáveis. Uma vez que tantos gostam de fazer promessas para o ano vindouro, que tal começar agora, abolindo de vez a prática dos fogos de artifício? Você liga para o bem-estar animal, consegue se despir de uma tola “tradição”? Fará toda a diferença.
De resto, considero uma grande estupidez dar tanta importância a uma simples virada no calendário. Não, não desejo a ninguém um feliz 2012, o tempo cronológico é só um continuum, só uma maneira de marcar a passagem temporal, sem nenhuma relação com festejos, esperanças e superstições. Faço votos sim, que o ser humano busque viver mais de acordo com as regras da razão e das virtudes em seu cotidiano. O universo agradece. Obrigado.

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