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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

PT e PSDB: iguais no discurso, diferentes na essência; e a ausência do liberalismo no Brasil


Excetuando-se a esfera do poder federal, onde o PT estabeleceu uma ditadura gramsciana já há quase 10 anos, nos âmbitos congressual, estadual e municipal, o partido tem compartilhado com o PSDB o primeiro lugar na cena política brasileira. Esse aparente clima de disputa, todavia, é enganoso, cabendo exclusivamente ao PT a efetiva condução dos rumos sociopolíticos no Brasil. Explico-me...
Se outrora havia uma diferença ideológica mais nítida entre ambos, haja vista que o PT não se fazia de rogado em escancarar seu extremado viés esquerdista, enquanto o PSDB, essencialmente social- democrata, se situava dentro da chamada Terceira Via, procurando associar uma política-econômica de caráter capitalista com políticas sociais de bem-estar caras ao centroesquerdismo, hoje em dia o populismo gramsciano petista logrou eficácia em mascarar sua verdadeira face autoritária, o que justamente lhe abriu o caminho na conquista das massas, imersas na catarse e na ignorância, e mesmo de inúmeros setores médios urbanos que estupidamente ainda acreditam em justiça social e nas lorotas do marxismo. Daí passou a não faltar mais nada para que o PT fosse alçado ao comando máximo da nação.
O PSDB não entendeu a transmutação do petismo, que foi do marxismo-leninismo-trotskismo para o marxismo gramsciano, bem mais sutil, ardiloso, comunicativo, messiânico e adaptável ao mundo pós-moderno massificado. A social-democracia, de fato, foi portadora de uma mensagem a ser transmitida e colocada em prática no contexto do fim da Guerra da Fria e da decadência dos tradicionais regimes comunistas e de outras ditaduras, já que naquele momento histórico de profundas transformações econômicas e político-ideológicas, adotar um programa que garantisse a geração de riqueza e a distribuição da renda seduzia a um público amplo, fosse ele formado por quadros partidários ou pela própria população, saturada de autoritarismos dos mais diversos matizes.
Aos sociais-democratas, entretanto, coube apenas a atuação em um restrito recorte temporal, iniciado na primeira metade dos anos 1980 e encerrado no final da década de 1990, com a crise asiática e com o advento da massificação e do retorno do populismo, sobretudo em países subdesenvolvidos da América do Sul - espacialmente, a social-democracia também teve alcance restrito, resumindo-se a certos países da Europa e aos meios urbanos mais esclarecidos do Brasil e do Chile.
Os políticos da Terceira Via obtiveram sucesso em estabelecer e consolidar as instituições da democracia, universalizar o ensino de base, conter a inflação e aumentar as possibilidades de consumo, mas o já referido momento de crise de finais dos 1990 e o desgaste dos governos da Terceira Via, que estavam no poder há algum tempo, se revelou terreno fértil para a volta de ideologias autoritárias de esquerda, porém com roupagem diferente, adaptadas ao novo milênio: surgiram novas classes sociais, a Internet se espraiou e os meios de comunicação populares investiram pesado na sedução de estratos populacionais das periferias e de universos parcialmente ruralizados em países como o Brasil. A nova realidade passou a ser a da massificação, permeada pela incultura e pela ignorância, frutos de um sistema educacional que, apesar de mais abrangente, continuou assentado sobre bases falsas e doutrinárias, falha gravíssima que a social-democracia não teve interesse nem capacidade para corrigir. Foi nessa brecha relativamente expandida que o populismo gramsciano germinou.
A social-democracia peessedebista fez seu papel, porém havia um prazo de validade. Ele se expirou e, ao invés dos sociais-democratas conduzirem um rearranjo em seu arcabouço ideológico que os levasse ao liberalismo, o fizeram tentando adotar o mesmo discurso do PT, um erro crasso de estratégia. Os petistas ainda não haviam chegado ao poder federal, sendo que todo o ônus do desgaste cabia ao PSDB. Fazer política classista e assistencialista pautada por discursos messiânicos, metafóricos e hiperbólicos, costurar alianças espúrias de modo a adequar os meios aos objetivos de poder, assim destruindo instituições - Gramsci é o maior intérprete de Maquiavel - e perdurar as massas na pobreza e na necessidade, condicionando-as à anomia política, é próprio de um partido como o PT, nunca do PSDB, cujo DNA político-ideológico o afasta automaticamente de qualquer tipo de autoritarismo. Ora, se a tática é limitar a política ao classismo e aos desejos massificados, o povo engolfado pela ignorância e pelo acriticismo prefere o PT, pois foi ele que inaugurou esse estilo de governo no Brasil. É inteiramente dele a autenticidade nesse aspecto, bem como a expertise das técnicas do discurso e da presença de um quadro como Lula, o comunicador populista em essência. Ao PSDB, por outro lado, associou-se tenazmente a pecha do conservadorismo - entendido, diga-se bem, segundo os obtusos parâmetros do esquerdismo.
É muito difícil supor que possa ocorrer uma mudança no panorama político brasileiro, dado o grau de cooptação que o gramscianismo petista alcançou junto à população, - não surpreende ver o candidato do partido à frente segundo as pesquisas, na disputa do segundo turno do pleito paulistano - até porque o campo do liberalismo, caracterizado pela economia capitalista baseada em empreendedorismo, criatividade e competição de mercado, - não em megacorporações afiliadas ao poder estatal - isonomia política, garantia de direitos individuais e moral conservadora, única filosofia política apta a combater o autoritarismo, é nulo no país. É nesse contexto, sem nenhuma oposição firme, que o PT navega em águas calmas que lhe permitem a manutenção do autoritarismo. Quando observo um grupo de alunos do 5°ano discutindo efusivamente quem pode ser o assassino da novela das nove, tenho um retrato perfeito da atual sociedade brasileira e entendo claramente como funciona o gramscianismo. É a cara do Brasil!

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