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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Outubreiras tupiniquins


A morte de Eric Hobsbawm no início deste mês suscitou lamentos e homenagens por parte daqueles que enxergam virtudes em sua obra. Por outro lado, também fez com que os críticos denunciassem a grande falha do historiador: a reverência incondicional ao marxismo e aos regimes fundados sobre esta teoria. O geógrafo e sociólogo Demétrio Magnoli escreveu sobre isso na Folha de São Paulo, assim como a revista Veja. Esta última parece ter gerado mais raiva dentre os adeptos de Hobsbawm, motivando uma resposta da Associação Nacional de História (ANPUH). Segundo o organismo, Veja foi tendenciosa e parcial em sua crítica ao intelectual morto: apontá-lo como "esquerdista" teve conotação pejorativa, acusá-lo de "idiotice moral", correspondeu a um julgamento barato e despropositado. Ainda de acordo com a ANPUH, ao malhar Hobsbawm, Veja desconsiderou a "contradição que é inerente aos homens".
Ora, ao que consta, é a esquerda que sempre se mostrou pródiga em usar adjetivos tais como "burguês", "reacionário" e "direitista" no intuito de desqualificar seus opositores antes mesmo de se dar ao trabalho de analisar a fundo qualquer ideia contrária ao credo marxista. E Hobsbawm, de fato, não foi sempre um esquerdista?! Ou a esquerda tem o monopólio no uso do adjetivo? Quanto à "contradição inerente aos homens" como condição para relevar desvios intelectuais - o que se depreende da resposta da ANPUH - a defesa de atrocidades não deve ser moralmente condenável, o que pela lógica, ofereceria algum indulto aos nazistas. Ou quem sabe ao próprio Hitler, aliado de Stalin durante um terço da Segundo Guerra? Inclusive, cabe frisar, essa conjuntura foi negligenciada por Hobsbawm.
Marxistas advogando pelo relativismo: mais uma evidência cabal das conexões entre os apóstolos de Marx e o pós-modernismo, para os quais a moral pode ser descartada. Se um sujeito que viveu 95 anos não teve a hombridade de reconhecer as responsabilidades do marxismo na imposição de regimes genocidas, então ele foi sim um autêntico idiota moral! Poderia também ser designado como uma besta ideológica... Isso nada tem a ver com a suposta "contradição que é inerente aos homens" e um mínimo de Aristóteles e de seu spoudaios fariam acentuadíssimo bem aos esquerdistas. No fim das contas, de tão carente em argumentos, a resposta da ANPUH transmite a clara impressão de ter sido redigida às pressas por algum staff de estudantes do primeiro semestre da faculdade.

Logo depois de eleito prefeito da maior cidade do país, o petista Fernando Haddad declarou que pretende integrar São Paulo ao Plano Nacional de Desenvolvimento em parceria com a presidente Dilma Rousseff (em sua campanha Haddad vendeu exaustivamente a ideia de uma questionável, diga-se de passagem, importância em ter a prefeitura alinhada com o poder federal). O que isso indica? Não deveria ser assim, mas a maior parte da população brasileira (paulistana, no caso específico) não faz a menor noção, daí, entre outras razões que conotam a total incompreensão no que se refere ao arcabouço que norteia o PT em âmbito ideológico e prático, ter entregue o município às garras de um partido que não vê limites à sanha de poder.
No que diz respeito ao princípio federativo, um dos pilares das democracias consolidadas, o que o Brasil dele possui cada vez mais fica restrito à nomenclatura oficial da nação. Ao invés da afirmação da autonomia local e da livre associação política, características que Tocqueville analisou com argúcia ímpar em seu clássico A democracia na América, o que temos aqui em crescente evidência é a centralização burocrática, a formação de arranjos políticos pautados exclusivamente por interesses de poder e o autoritarismo. Se ora mais ora menos ao longo da história do Brasil essas tendências se mostraram dominantes desde 1822, é inegável que no país dos PeTralhas elas ganharam status sistemático e se converteram no próprio modus operandi do poder instituído.
Se já não fosse o suficiente, um dia após a vitória, o prefeito eleito informou que promessas de sua campanha, como o tal do Bilhete Único Mensal e a isenção da taxa de inspeção veicular, esta, com justiça um dos pontos de maior negatividade atribuídos à gestão Kassab, só serão postos em vigência a partir de 2014 - não por acaso, ano eleitoral. Daqui um mês a maioria do eleitorado já não se lembrará mais disso, quanto mais em 2014, imersa na catarse da Copa do pão e circo. Esse povo merece o que tem!

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