Hoje é dia de final de Champions League, dia de ficar ligado em frente à TV para se deleitar com futebol bem jogado, pautado pelo talento individual, mas mais ainda pelo lado coletivo e pelo toque de bola, elementos que hoje em dia são como agulhas no palheiro em se tratando do escrete brasileiro. O Brasil, eterno país do futuro, de presente caótico, é o ex-país do futebol, dominado que se encontra por interesses extracampo, inclusive governamentais, por cartolas corruptos e incompetentes e por emissoras de TV que arrumaram um jeitinho tipicamente tupiniquim de lucrar com o negócio.
A final alemã da Champions League não tem a ver somente com o belo futebol jogado dentro das quatro linhas por Bayern de Munique e Borussia Dortmund, que chegaram à disputa com total merecimento: está relacionada também, de maneira muito íntima, com o que é praticado fora de campo pelos principais clubes da Alemanha, país pouco afetado pela crise na Zona do Euro. "Austeridade", termo tão abominado pelos estatólatras ainda saudosos da falácia do Welfare State em nações de capitalismo parco, como Espanha, França e Itália, mergulhados em déficits econômicos gerados por governos perdulários e distribuidores de privilégios, representa o maior segredo germânico no século XXI, algo que leva efeitos positivos até os gramados. Não é nem mesmo necessário recorrer apenas aos dois times que hoje irão desfilar em Wembley, bastando mencionar o sucesso da Bundesliga, de longe, o campeonato nacional de maior sucesso no Velho Mundo: gestão eficiente, marketing, estádios invariavelmente lotados e rentabilidade dão a tônica do futebol alemão.
O Bayern de Munique é um gigante desde sempre, presença costumeira em grandes decisões futebolísticas e, a despeito de algumas derrotas traumáticas, fruto do imponderável, estará em campo logo mais para disputar a quinta final de Champions League nas últimas quatorze temporadas, feito que não pode ser atribuído nem mesmo ao Barcelona de Lionel Messi. Os bávaros tentarão conquistar seu caneco de número cinco, título que pode contribuir para fechar com chave de ouro a temporada, dando ao clube a Tríplice Coroa, caso vença hoje e o Stuttgart na Copa da Alemanha, semana que vem. A máxima do técnico Jupp Heynckes não deixa dúvidas quanto às políticas do Bayern: "não gastamos mais do que temos". Não existe acaso para o sucesso do clube da Baviera.
No que se refere ao Borussia Dortmund, a questão é ainda mais interessante. Após a conquista da Champions League e do Mundial de Clubes na temporada 1996-97, o aurinegro da Westfalia afundou em um período de intensa crise que por pouco não conduziu o clube à falência. Depois de chegar ao ponto de vender o estádio, o Borussia começou a mudar os rumos quando recorreu à ajuda de uma empresa alemã de consultoria em gestão e finanças, a Roland Berger. Obedecendo às regras da austeridade e da eficiência administrativa, o Borussia emergiu do atoleiro de modo relativamente rápido: chutou para longe a gastança desenfreada e imprecisa à la Luiz Gonzaga Belluzzo, renegociou dívidas, estabeleceu parcerias inteligentes (naquela que firmou junto ao grupo Signal Iduna, recuperou o estádio), passou a priorizar os interesses do clube, sem dar lugar a atletas, empresários ou comissões técnicas descompromissados com o trabalho e com o sucesso, reduziu custos e, além de investir na base, fez contratações cirúrgicas.
O modelo administrativo do futebol alemão, permeado por gestão eficiente e austeridade, caminha a par e passo com o verdadeiro capitalismo liberal, ao contrário do paradigma vigente em outros países, inclusive no Brasil, cuja característica mais marcante e deplorável tem sido o estabelecimento de conexões escusas entre entidades privadas e poder político. Bayern de Munique e Borussia Dortmund fornecem um exemplo que bem pode servir a um certo clube que padece há mais de dez anos com administrações mafiosas, clube este que talvez seja aquele que mais tem potencial para tentar romper com o status quo do futebol brasileiro. Quanto à peleja de hoje à tarde, será uma excelente oportunidade de se divertir com as jogadas de Lahm, Müller, Robben, Ribéry, Hummels, Reus, Lewandowski, .... E que vença o melhor! Bom jogo!
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