Protected by Copyscape Original Content Checker

sábado, 21 de maio de 2016

Vladimir Safatle: mais um esquerdista cérebro de minhoca


O sr. Vladimir Safatle, como todo esquerdista, vira e mexe se vê na necessidade de elaborar explicações mirabolantes para tentar salvar suas ideias do fracasso. Logicamente, trata-se de tarefa impossível, dados os equívocos incontornáveis (para usar um termo caro ao "pensador" em questão) do esquerdismo e, se não fosse assim, não haveria justamente uma tal necessidade.
Em artigo publicado na última sexta-feira (20/05) na Folha de São Paulo, Safatle defende que não foi pela corrupção que milhões de brasileiros saíram às ruas exigindo uma alternativa para um país em queda livre (na visão dos lacaios petistas, esses milhões compõem uma oligarquia, análise cujo único efeito é provocar riso). Esses milhões, sufocados por um governo altamente incompetente, autoritário, sem projeto algum de administração, inebriado pelo poder, e que destruiu quase completamente a saúde, a educação, a cultura e uma série de empresas estatais, adoradas pelo próprio esquerdismo enquanto fornecedoras de pixulecos, manifestaram-se por uma série de insatisfações. É evidente que não foi apenas pela corrupção!
Não deveria ser preciso explicar pela enésima vez a mentes rasteiras como o sr. Safatle que, de fato, o PT não foi o inventor da corrupção e nem que seria a mais absoluta ingenuidade acreditar no fim da corrupção como consequência da destituição de Dilma Rousseff. O que o PT fez, foi arranjar justificativa e legitimação para a corrupção, pois é impossível manter uma máquina governamental centralizadora, autoritária, desenvolvimentista e assistencialista sem tornar os benefícios espúrios entre membros dessa mesma máquina uma regra, um método sistemático, um modus operandi. A corrupção no desgoverno petista, portanto, foi uma consequência inelutável da concepção ideológica de esquerda e da forma de organizar o aparelho estatal, inchado e montado a partir de critérios político-ideológicos. Não havia outro resultado possível a ser obtido no seio desse arcabouço, algo reconhecido por qualquer cientista político minimamente sério, mas que passa ao largo da cabecinha de minhoca do sr. Safatle.
O PT não apenas manteve, como acentuou fortemente uma miríade de práticas paternalistas que destroçaram valores públicos e os fizeram vetor de favores privados a erigir um projeto de poder autoritário, pesado, ineficiente e economicamente nefasto - práticas essas que, vale lembrar, sempre foram vituperadas pelos petistas enquanto estavam fora do poder, mas somente pelo fato de que eles mesmos precisavam criar um discurso aparentemente ético que lhes conferisse apoio e também porque, estando na oposição, lhes era difícil fazer parte do repasto. Antes que o primeiro mandato de Dilma se encerrasse, em 2012/2013, não foram poucos aqueles que procuraram alertar a presidente a respeito do que aconteceria se os rumos da administração não fossem mudados. Palavras ao vento, primeiro em função da natureza ideológica do PT, que não lhe permitiria nada diferente, segundo, porque o primeiro que ousasse criticar o governo era rapidamente achincalhado e estigmatizado em pronunciamentos oficiais do governo (já na era Lula, a catástrofe era prevista por alguns, mas naquela época, as conquistas proporcionadas pelo capitalismo e o bom momento econômico mundial, aliados a um quadro interno satisfatório devido ao ajuste econômico dos anos 1990, cegaram a opinião pública e a oposição, fraca por si só).
Assim sendo, a corrupção nunca foi mais do que uma consequência de um modo de administração pautado no sequestro da máquina pública com finalidades partidárias e relacionadas ao poder autoritário. A maior parte da população brasileira se levantou contra o todo dessa prática por questões ideológicas, já que diante de tamanhos descalabros, as ideias liberais conseguiram ganhar algum terreno à medida em que não apenas os escândalos iam sendo paulatinamente revelados, como, mais ainda, se tornara escancarado o fracasso das políticas petistas e o avanço devastador da recessão econômica. O sr. Safatle, petista e intelectualmente desonesto, não pode assumir essa situação, logo, só o que lhe resta é mostrar indignação por não mais estar ouvindo panelas (ele jamais se revoltou contra o aparelhamento, contra a desindustrialização, contra a gastança ineficiente e desenfreada sem contrapartida, contra o rombo das contas públicas, contra as falências no comércio, contra a inflação na casa dos dois dígitos, contra o desemprego em massa, contra os cortes bilionários na saúde e na educação, contra o dinheiro público roubado do contribuinte brasileiro para ser injetado em ditaduras de esquerda mundo afora, contra a destruição da Petrobrás, do BNDES, da Eletrobrás,.. contra nada daquilo que caracterizou a horripilância do desgoverno petista). Por pura desonestidade, pela vaidade típica de todo esquerdista, que se considera acima do bem e do mal, dos fatos mais concretos, pelo falso consolo que as tentativas tragicômicas de passar supostas lições intelectuais baseadas em ideias ridículas e ultrapassadas geram nos tolos, o sr. Safatle não pode ir além do palavreado gasto e vazio e é incapaz de observar que a população brasileira está bastante atenta às atitudes do novo governo e, na atual conjuntura, concede um voto de confiança (mas sempre pronto a desconfiar) a Michel Temer, para que no tempo que lhe resta até 2018, procure consertar os estragos sem precedentes provocados por treze anos de lixo petista.

terça-feira, 5 de abril de 2016

História como modo de conhecimento


Certa vez, em O historiador pedante, escrevi sobre a arrogância intelectual dos historiadores que, em última análise, não deixa de fazer parte da maneira de pensar da grande maioria dos cientistas sociais, segundo eles, detentores de um conhecimento definitivo, apto a desfazer todo e qualquer impasse sobre a experiência humana e capaz mesmo de oferecer o caminho não para um futuro, mas para o futuro. As razões disso, repito, não são fáceis de se explicar.
De um modo geral, campos do saber como a Antropologia e a Sociologia, tanto por seus métodos como por seus objetos de investigação, estão interessadas em discutir aspectos estruturais, e a Filosofia, ao menos em suas grandes correntes, tende naturalmente à criação de sistemas holísticos. Não há necessariamente nenhum equívoco nisso nem o estabelecimento de teorias abrangentes deveria ser motivo de pedantismo, mas no que tange à História, é bem possível que ela venha seguindo uma tendência de perda de identidade. De um lado, um pouco talvez pelo fato dos Annales terem sido mal interpretados, de outro, provavelmente em função do amplo predomínio da historiografia marxista, não apenas em países subdesenvolvidos, mas também devido a um eco que a Europa ainda deixa soar, dentro e fora dela.
A História é um modo de conhecer o mundo, com suas especificidades, mas um modo que não está acima de outros e que se enriquece justamente na busca de interlocução com disciplinas distintas, marcando fronteira em relação a essas. A tentativa de decifrar o passado histórico, até onde for possível, implica na busca de conhecimento, por si só algo que se justifica, não sendo necessário lhe conferir outro sentido, especialmente de ordem prática. Como diria Michael Oakeshott, a confusão entre passado histórico e passado prático é própria daqueles que carregam a pretensão de orientar o continuum do tempo de acordo com uma lógica pré-estabelecida, esta por sua vez, visando atingir no presente-futuro - e neste mundo - um estado totalizante de suposta perfeição. Isso não é História, mas sim política retrospectiva.
O marxismo se arraiga à história na suposição de que existem leis históricas que seguem um padrão permanente e que se repetem, ignorando o simples fato de que o conhecimento histórico só pode ser produzido a partir de mediações e que os grandes sistemas, especialmente quando considerados em termos historiográficos, são criações post facto. Em outras palavras, a historiografia marxista - que é aquilo que interessa neste artigo - não distingue conjunturas/estruturas de eventos, sendo esses últimos apenas excrescências que se perdem e se conformam a um arcabouço totalizante advindo daquelas. É bem possível que decorra de tal forma de entendimento o total desprezo do marxismo para com o indivíduo. Ora, é bastante contraditório que uma filosofia pretensamente atenta à história faça vistas grossas às evidências históricas: o problema do totalitarismo soviético não foram as políticas ou as pequenas diferenças de compreensão da ideologia por parte desta ou daquela liderança comunista, foi o próprio comunismo, uma teoria totalitária per se, como já podia fazer compreender qualquer análise séria da ideia marxiana e sobretudo das evidências históricas resultantes de sua aplicação prática. O problema do Brasil hoje é só um: é o comunismo, e as evidências tantas que permitem classificar o atual governo como ditatorial saltam aos olhos. É lógico que o PT e seus seguidores não podem admitir isso - nunca um ditador assim o fez -, pois estaria condenando a si mesmo.
Não há dúvida de que para manipular a realidade de acordo com seus interesses práticos, uma ditadura age basicamente em duas frentes: a) nega todas as evidências que depõem contra si e procura jogá-las na conta daqueles que a combatem; b) cria uma conduta (imoral) própria que abole a previsibilidade das leis, estratégia que funciona tanto para confundir a população como para dar curso mais fácil à dominação.
É preciso lembrar que as leis, embora existam para coordenar à vida em sociedade, atuam fundamentalmente na esfera do indivíduo: elas garantem a observância dos trâmites corretos e regulatórios que perfazem os acordos voluntários entre indivíduos livres e perseguidores de suas próprias escolhas. Não é por acaso que no regime comunista não pode haver liberdade, dado que a condição de ser livre vai na contramão dos interesses práticos da ditadura, colocando em risco a sustentação da totalidade ditatorial.
Nas últimas décadas o marxismo descobriu que a tomada de poder nas sociedades modernas de massa requer a elaboração e a perpetração de uma cultura marxista, no que seus adeptos lograram enorme sucesso. Um dia, mais cedo ou mais tarde, o regime petista cairá, entretanto o combate contra o esquerdismo não terá atingido seu fim, já que o esquerdismo responde por um pensamento que não se molda somente a partidos políticos, podendo se reorganizar dentro de qualquer espaço que lhe for dado a caber. Uma das formas que esse combate deve tomar - e nesse sentido, mesmo sendo difícil escapar do pragmatismo, será melhor adotar uma postura que tenha como escopo preservar as liberdades - diz respeito à mudança do estatuto epistemológico predominante na História e na historiografia: um ramo do conhecimento que é essencialmente investigativo e inferencial, precisa necessariamente estar focado em evidências e uma visão histórica responsável que não busque outra coisa senão o conhecimento, não pode se manter devota de ideologias, quanto mais daquelas cuja natureza é equivocada e ditatorial.

segunda-feira, 7 de março de 2016

O paradoxo da Polícia Federal e de Sérgio Moro e outras questões


Sou cético por natureza, postura que tem me servido desde há muito para evitar decepções. Se as coisas acontecem de acordo com o que espero, tanto melhor, do contrário, vida que segue.
Na última sexta-feira (04/03/2016), o Brasil acordou com a notícia de que Lula estava sendo conduzido coercitivamente (ao contrário do que ele declarou, fugiu duas vezes quando instado anteriormente a dar depoimento sem ter havido coerção) a depor na Polícia Federal em São Paulo, além de ser alvo de mandato de busca e apreensão. A parcela instruída e decente da sociedade comemorou aquilo que poderia representar o início de uma vitória definitiva não apenas sobre o próprio Lula, mas sobre toda a hoste do PT, dada a importância da figura do ex-presidente. Todavia, acredito que a comemoração tenha sido prematura: não afirmo que não irão haver novos desdobramentos (a ação da PF não teve a ver com as declarações bombásticas e gravíssimas dadas por Delcídio Amaral e divulgadas pela revista Isto é), mas fiquei com a impressão de que houve mais estardalhaço do que efetividade, propriamente dita. Não sei se por falta de eficiência ou se tudo não passou de circo pré-orquestrado, portanto, ficam algumas perguntas:

1. Será que Lula, de fato, prestou depoimento?

2. Caso tenha prestado, por que este foi tão curto?

3. Quem é suspeito de vários crimes e é investigado por uma série de práticas ilícitas não deveria ser interrogado por horas a fio, sem que se desse a Lula e ao seu partido chance de se organizar tão rapidamente a ponto do ex-presidente conceder entrevista em rede nacional pouco tempo depois de deflagrada a operação?

4. Por mais que o teor do suposto depoimento deva permanecer em sigilo, por que não estamos observando nenhum comentário sequer a respeito das possíveis respostas fornecidas por Lula?

5. Um interrogatório bem conduzido, ainda mais se o interrogado tem uma imensa série de questões a esclarecer, sempre deve gerar intenso cansaço físico e psicológico, daí a importância de se alongar o depoimento e lançar questionamentos contundentes que façam com que o investigado caia em contradição. Por que Lula saiu da PF com ares triunfais, sem dar nenhum sinal de ter sofrido pressão, sem apresentar sinais de estafa física e mental? Não, por mais que o ex-presidente seja macaco velho, delegados da PF deveriam saber como colocá-lo em uma sinuca de bico, ainda mais em função do capital político de Lula ser quase inteiramente dependente de sua retórica e dos caracteres imediatos de sua postura e de seu gestual. Era preciso ter minado seu arsenal retórico e ferido com força sua imagem. Não foi isso que se viu...

6. Não se trata de um grande paradoxo, por um lado, que se deposite tanta esperança em Sérgio Moro e na PF e, por outro, notar que a condução coercitiva, pelo menos em termos imediatos, não causou nenhum estrago na retórica e na imagem de Lula? Volto a indagar, houve falha ou tudo isso foi uma farsa?

7. Se em um arranjo ditatorial como aquele que ora estamos vivenciando o trâmite dos acontecimentos, tanto em âmbito oficial como fora dele, não se dá de acordo com a lógica normal, mas segue uma hierarquia de comando mutável, multidirecional, imprevisível, justamente com o objetivo de gerar desorientação nas pessoas, não cabe ponderar sobre a possibilidade de Sérgio Moro ser somente uma peça no tabuleiro do complicadíssimo jogo de xadrez que envolve os poderes de Lula e do PT? Nos  bastidores, ninguém sabe ao certo quanto a ameaças e chantagens que podem ocorrer.

Ao fim da operação Aletheia, seria óbvio pensar que Lula devesse estar mais fraco do que antes dela. Não foi isso que notei. Quem é antípoda do PT não precisava desse estardalhaço todo para aumentar seu repúdio contra a organização criminosa que assola o país há treze anos. Teria sido uma excelente oportunidade para causar estrago em Lula e no PT, amealhando aqueles que possivelmente ainda não se deram conta da gravidade que representa a continuidade do atual (des)governo no poder, contudo, o que se viu na tarde de sexta-feira foi a figura de Lula, senão fortalecida, o que seria muito diante dos crimes que cometeu, no mínimo tendo a chance de emitir uma mensagem, algo considerável em se tratando do que expus acima e que lhe confere algumas possibilidades de recuperar porções de um terreno que a esta altura já deveriam ter sido definitivamente conquistadas por quem lhe combate.
Não se pode bobear com um psicopata como Lula e, contrariando Sun Tzu, nesse caso, não se deve deixar qualquer brecha para o inimigo, ou então ele irá mentir descaradamente, fará jogo de cena e continuará posando de vítima até conseguir convencer gente incapaz de entender o funcionamento de uma mente pérfida e doentia. Lula só será derrotado quando estiver cem por cento fora de ação.

Aguardemos...

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

O PT e a microfísica do poder


Embora o pós-modernismo tenha atribuído a si mesmo ares de pensamento vanguardista, no fundo e em última análise, seu esquerdismo o manteve sempre preso ao arcabouço teórico de Marx. Em Microfísica do poder, Michel Foucault, um dos baluartes do pós-modernismo, escreveu, de maneira geral, que as relações de poder nas sociedades de massa haviam se disseminado por redes difusas que abrangem o cotidiano dos indivíduos, considerando-se aí praticamente todas as trocas (no sentido de relações) que perfazem a vivência dos mesmos. Apesar de ter rompido, até certo ponto, com o conceito (jamais plenamente explanado e definido) marxiano de classe e ter dado maior ênfase ao indivíduo, Foucault não deixou, em momento algum, de permanecer atrelado à questão da dominação burguesa e da base econômica. Assim, segundo ele, os burgueses, pelo fato de serem detentores do capital, não apenas o capital dinheiro, mas principalmente o capital cultural, eram responsáveis por dominar uma massa indistinta de oprimidos. Onde isso desemboca? Na necessidade, de acordo com Foucault e todos os esquerdistas, de superação do capitalismo. O que ficaria em seu lugar é a utopia socialista-comunista como já a conhecemos e, em termos reais, traduzida pela tragédia que representou sempre que tentada na prática.
Desde Tocqueville, pelo menos, os liberais sabem que o elemento político, desprezado pela esquerda, é fundamental para se entender as sociedades, sobretudo aquelas nas quais - e aí estamos pensando no mundo moderno - existe, ou deveria existir, um sistema parlamentar garantidor da resolução de conflitos com base nas leis e na isonomia jurídica. Pelo fato de não haver em Marx uma teoria do Estado, tampouco uma história que dê conta de explicar seu desenvolvimento, tanto o autor de O capital como seus discípulos nunca puderam enxergar que um sistema centralizador invariavelmente gera uma intensa desigualdade política. Se a instauração do comunismo como regime econômico ideal direcionasse a superestrutura, como quisera Marx, então por que Lenin implantou um regime de terror? Não deveria ter a estrutura econômico-material conduzido à harmonia? Não foi o que aconteceu justamente devido à impossibilidade de se apontar o elemento político apenas como acessório secundário, em outras palavras, a centralização bolchevista determinou, como não poderia deixar de ser, um Estado totalitário.
No que diz respeito ao fator econômico, também estão cientes os liberais, graças à contribuição da Escola Austríaca, de que no capitalismo as trocas econômicas ocorrem com base em interesses livres e voluntários de indivíduo para indivíduo. A Economia, nesse sentido, não é uma pesada ciência de gabinete, mas uma dimensão corriqueira da vida humana. A intromissão estatal nos assuntos econômicos nasce da ideia de centralização e, à medida em que o Estado procura controlar o dia a dia de milhares de pessoas, ele apenas poderá fazê-lo a partir de abstrações ideológicas que ferem os mais elementares princípios da Economia, - como fazer cálculo se não há mercado?; como ter a pretensão de planejar se não há cálculo?; como alocar os recursos de modo correto e eficiente; como precificar? Sendo assim, por entrar em contradição com suas próprias premissas, o intervencionismo socialista só se constrói a partir da gritante desigualdade política que o caracteriza e só pode se manter lançando mão de uma política ditatorial. Algum marxista ainda poderia colocar que a meta final do comunismo é a abolição do Estado, ao que retrucaríamos afirmando ser altamente improvável - senão impossível - passar do planejamento econômico socialista, que exige intensa atuação estatal, à sua ausência. Daí advém a necessidade de controle e a consequente ditadura, inerente a esse sistema.
Retornando a Foucault, penso que este acertou no que concerne à difusão das relações de poder e sua consequente abrangência em níveis microscópicos, porém, tais relações devem ser esmiuçadas antes em termos políticos do que econômicos. Quando o pensamento de esquerda passa a dar as cartas no âmbito cultural, quando pauta grande parte da grande imprensa, quando norteia o ensino nas escolas e universidades de acordo com a bússola de Marx, quando aparelha instituições com quadros que lhe são dóceis e subservientes, - até o STF! - quando controla centrais sindicais na mais autêntica tradição peleguista, quando coopta "artistas", "intelectuais" e "jornalistas" para que estes sirvam como porta-vozes, quando possui uma rede de milícias reais e virtuais que buscam vigiar seus opositores, quando faz uso de sua influência para obter lobby junto a empresários, estamos diante do poder - no nosso caso atual, do poder de Estado - que visa controlar o cotidiano dos indivíduos em diversos níveis. Trata-se da própria microfísica do poder que, em sua origem, é política e, enquanto tal, envolve, por tabela, aspectos econômicos. Aqueles que não conseguem observar nesse arranjo a descrição exata do poder de Estado instalado pelo PT no Brasil, ou são cegos e ingênuos, ou de algum modo extraem vantagens dele, isto é, são vetores da desigualdade política que caracteriza sistemas autoritários e ditatoriais.
O poder de Estado não tem a conotação de classe econômica, muito menos advém do capitalismo, como pretendiam Marx (para o qual o Estado funcionava como "comitê executivo da burguesia"), Foucault e todos os outros esquerdistas. É um poder, afinal de contas, fiel ao próprio conceito de poder na sua acepção política autoritária, um poder que, através de redes difusas, microscópicas e, portanto, muitas vezes de percepção nem tão fácil e imediata, abarca e tenta - com altíssimo grau de sucesso - controlar as mínimas relações pessoais. Na minha opinião, não será com manifestações dominicais pré-agendadas que a sociedade cujo clamor pela liberdade, pela isonomia jurídica e pelos valores republicanos de boa governança irá lograr êxito no combate ao autoritarismo petista. Liberdade é algo que costuma exigir posturas mais contundentes e que se estendam por mais tempo do que desfiles de avenida...

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

O PT no fim e o pós-PT: não basta substituir o poder, é preciso reinventá-lo


Nas palestras que proferiu à TV polonesa e, posteriormente publicadas na Gazeta Wyborcza, o grande filósofo Leszek Kolakowski colocou as seguintes palavras sobre a questão do poder:
"As ferramentas que o povo tem para o controle do poder nunca são excelentes, as mais eficazes que a humanidade inventou até o momento para impedir uma tirania arbitrária são, precisamente: manter as ferramentas de supervisão do poder pela sociedade e limitar a abrangência do poder do país àquilo que é de fato essencial para que a ordem da sociedade seja preservada. Querer regular todas as áreas de nossas vidas, afinal de contas, é o que faz um poder totalitário."
Para Kolakowski, que não acreditava na anarquia, tampouco na democracia direta, assim como eu também não acredito, os grifos (feitos por mim) indicam claramente a defesa dos mecanismos de representatividade que, em uma sociedade livre, servem exatamente para impedir a concentração de poder nas mãos de um déspota, de um grupo partidário, ou do próprio Estado, aviltado institucionalmente por tal grupo, sendo este último caso, na melhor tradição gramsciana, precisamente o que ocorre no Brasil (des)governado pelo PT. Desde já, vale destacar que em uma sociedade cuja vida política corre dentro da normalidade, nada mais recomendável do que o apreço pelas instituições. Entretanto, considerando-se o caso brasileiro, no qual estamos muito longe de um regime político preservador da liberdade, é mais válido ainda indagar se nossas instituições podem prestar algo benéfico à população. A resposta é claramente negativa.
Em uma recente querela envolvendo nomes conhecidos da direita brasileira, todos eles obviamente opositores do petismo, observou-se ferrenha discordância no que toca aos caminhos a serem tomados para que o PT seja devidamente alijado do poder que ora ocupa no âmbito federal. De um lado, aqueles que não enxergam possibilidades na via institucional, de vez que a mesma encontra-se totalmente destruída pela cooptação sistemática, - importantíssimo salientar, nesse sentido, que trata-se de uma situação que abrange esferas externas à própria política, notadamente a cultura e as mentalidades, tendo inclusive aí sua origem - e de outro, os que defendem a substituição do governo por meio daquilo que está previsto na Constituição, isto é, o impeachment. A despeito do fato de que, no momento em que vivemos, cisões entre aqueles que se opõem ao PT se mostrarem prejudiciais a todos que não podem mais suportar tamanho estado de calamidade ao qual a nação foi conduzida pelo partido de Lula e José Dirceu, devo afirmar que, a meu ver, a primeira perspectiva, está absolutamente correta. Se não é possível que o poder seja eliminado por completo - para quem não crê em anarquia - no Brasil de hoje, é algo que precisa ser reinventado: o Estado brasileiro não apenas não oferece rigorosamente nada que preste ao cidadão, como também suga quase metade dos rendimentos do trabalhador; além disso, no âmbito da política, os mecanismos de representatividade têm se apresentado extremamente deficientes, pois não existem partidos de direita que possam diversificar os discursos e não há quase ideias em discussão, mas tão somente arranjos escusos em torno dos joguetes de poder, problema que atinge partidos e quadros concomitantemente, um reflexo da cooptação gramsciana.
O impeachment, como já opinei em outro artigo, poderá ter efeito simbólico significativo, mas jamais será suficiente para sanar um quadro metastático de doença da máquina pública, ainda por cima, consubstanciado em função da própria sociedade que, se hoje em dia finalmente se deu conta, em sua maior parte, do significado nefasto representado pelo PT e pelo esquerdismo em geral, ainda está longe de ser capaz de pensar em termos de liberalismo político-econômico e conservadorismo moral.
Tudo se complica ainda mais porque, se o impeachment carece de alcance e abrangência, nem mesmo um saneamento completo do Estado e um processo de mudança na cultura e na mentalidade poderão garantir o futuro próspero pelo qual anseia o cidadão. Em primeiro lugar, porque isso leva tempo, no mínimo cerca de três décadas, em segundo, porque não se tem até agora o substrato necessário, traduzido justamente por um pensamento orientado na direção de valores políticos, econômicos, culturais e morais capazes de alterar a rota.
A teoria do Estado patrimonialista, sobre a qual Bolívar Lamounier vem insistindo com rigor científico e habilidade intelectual, é uma realidade em nosso país, tanto histórica, dada sua própria formação desde D. Pedro I, como política e cultural, incutida cada vez mais na mente do povo pela doutrinação de esquerda e tornada avassaladora pela organização criminosa que nos comanda - ao contrário do poder supervisionado e limitado pela sociedade, o petismo se caracteriza pela intensa concentração de poder em torno do partido com vistas à perpetuação, sem se fazer de rogado no solapamento das bases democráticas - pelo contrário, já que essa é sua razão de ser. O Estado patrimonialista não só se torna muito maior do que a própria sociedade, como faz dela um corpo fragilíssimo na missão de colocar peias ao poder estatal, elemento propiciador de liberdade. É um arranjo inteiramente antiliberal e gerador de intensa desigualdade política.
O grande desafio da população brasileira é como mudar essa situação, não somente pensando em tirar o PT do poder, mas já vislumbrando um panorama pós-PT. Há um alento no fato de que hoje, como coloquei anteriormente - e várias pesquisas de opinião têm mostrado - a maior parte das pessoas já identificou a verdadeira face demoníaca do PT, todavia, é nítido também que muito pouca gente sabe como combatê-lo com as armas da argumentação e das ideias políticas, tampouco possui noção dos princípios básicos de cultura necessários para organizar uma sociedade livre, próspera e bem protegida da tirania. Quem forma opinião será, cada vez mais, responsável na proposição de novos caminhos.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

A manipulação da linguagem como forma de ignorar a realidade


Nos últimos cerca de 250 anos o ser humano vem sendo quase que frequentemente bombardeado com a ideia segundo a qual a realidade não apenas é algo inatingível, - entendimento, dependendo do enfoque, correto até certo ponto - como principalmente, a aventura que corresponde à busca do conhecimento e que nos deveria servir de motivação moral e existencial, constitui capricho sem importância, concepção perniciosa, no mais alto grau.
É paradoxal que o nível superlativo de desenvolvimento no campo científico e tecnológico observado nesse período tenha sido acompanhado por perspectiva oposta no que concerne ao entendimento filosófico. Mais estranho ainda é o fato de que, se por um lado, os apólogos do relativismo, do culturalismo e do esquerdismo em geral erigiram um muro espesso entre os homens e a possibilidade de se gerar conhecimento, obstáculo apenas passível de ser transposto em caso de aceitação das ideologias e das práxis características de tais corpos doutrinais, elas mesmas eliminadoras do elemento de interioridade no ser humano, por outro, o humanitarismo, que também lhes é típico, induz pessoas desavisadas à crença de que tudo é possível, de que não existe uma ordem moral e espiritual insubornável em relação à qual, em última instância, somos incapazes de promover modificações sob pena de cair no totalitarismo e justificar as maiores atrocidades em nome de causas abstratas e filosoficamente execráveis. As doutrinas que descartam a moral e que tentam fazer da experiência humana um jogo de forças e de vontade de poder jamais poderão legar qualquer ensinamento a respeito da maneira de se lidar com a realidade, dado ontológico que requer resignação, respeito, humildade, coragem e busca de conhecimento.
Não é de se estranhar que, quando não há moralidade, a mentira que assalta a realidade e a distorce de maneira vil, somente de acordo com as conveniências temporais de agentes com objetivos de poder e ávidos por benefícios pessoais, torna-se prática corriqueira. E nunca é demais destacar um dos mantras mais reconhecidamente totalitários, enunciado por Goebbels à época do nazismo, mas já amplamente recomendado e utilizado por Lenin logo após à vitória bolchevique na Revolução Russa: "uma mentira repetida mil vezes se torna verdade".
A linguagem, que no esteio das correntes filosóficas amoralistas (e imoralistas) tanto foi foco de estudos no século XX, ganhou com esses mesmos um status dos mais privilegiados nas tentativas de subornar a realidade. Relativistas e céticos, muito provavelmente por terem percebido que a comunicação de massas rapidamente havia se tornado um processo essencial para que líderes se dirigissem a populações contingencialmente grandes e diversificadas em vários aspectos (é coincidência que todo líder totalitário teve e tenha junto de seu aparato repressivo um departamento de propaganda e um especialista em comunicação?!) na tarefa de conquistar seus corações para a causa ideológica, passaram a defender ferrenhamente a noção de que a realidade não existe (ou de que sua existência não é importante) podendo ser preenchida (ou substituída) inteiramente pela linguagem, um código, não devemos nos esquecer, criado pelo ser humano. Analisada atentamente nesse contexto, a linguagem, antes de servir como campo comum de diálogo e acessório através do qual se pode gerar conhecimento, se torna enunciado da vontade de algum ente poderoso, afinal, assim sendo, ela estaria apta a fazer as vezes do real. Tem-se assim, uma perversa inversão da função da linguagem e do sentido do processo de comunicação. Como identificar uma mentira, nesse âmbito, se o ato de mentir, enquanto tal, não pode ser aferido por algum padrão de realidade?!
Exatamente por ser uma criação humana com função específica, a linguagem não é um Deus ex machina capaz de substituir ou alterar a realidade. A experiência dos homens é complexa, múltipla e se combina a partir de uma miríade de formas e conteúdos de acordo com as atividades que realizamos, inclusive com a linguagem guardando parte considerável em tal arcabouço. Para que seja capaz de exercer sua função na experiência humana, a linguagem necessariamente precisa estar amparada em algo factível, passível de ser imaginado, discriminado e concebido, isto é, ela não é independente da realidade que lhe confere seu núcleo racional, a menos que tributária de uma concepção pobre que não lhe conceda nada que vá além do mero código, sem requerer uma narrativa organizada, uma capacidade de descrever fenômenos e processos com máxima eficácia (ao menos em termos de linguagem denotativa, que é aquela que mais nos interessa para tratar de política e filosofia) e, desse modo, contribuir com a aventura do conhecimento. Em seu caráter intrínseco, a linguagem obedece a determinadas sequências, termos, disposições e componentes que, conforme estejam expressos, assumem significados particulares e que necessitam de discriminação. Também nesse caso, trata-se de um processo construído com base no que é externo à linguagem, ou seja, a própria realidade. Não há como manipular o real fazendo uso da linguagem, pois assim ela se torna estéril, hermética, engessada e desprovida do sentido que lhe confere a possibilidade de gerar conhecimento. Só estando em conexão com a dimensão ontológica é que podemos entender e fazer uso da linguagem como um instrumento a nosso favor, instrumento de entendimento, de conhecimento, de racionalidade, de moralidade, de existência e de experiência.
Sempre que imbecis, caras de pau, corruptos e sem um pingo de caráter dão as caras por aí proferindo discursos baseados não na realidade ontológica, aquela da qual fazemos parte, tenha-se ou não consciência disso, mas tão somente nos estreitos limites de seu mundozinho podre, eles imaginam (com certa dose de razão dependendo do público ao qual se dirigem...) poder vender doses cavalares de mentiras. Contudo, todo indivíduo cônscio, dotado de moralidade e do qual, portanto, a interioridade não pode jamais ser subtraída, carrega consigo a capacidade do discernimento e de identificação do núcleo racional de toda atividade humana. Esses continuarão se opondo e denunciando a vileza torpe dos manipuladores da realidade, afinal, como bem colocou Ayn Rand, "você pode ignorar a realidade, mas não pode ignorar as consequências de ignorar a realidade".