Virou lugar comum após meados do século XX, devido aos estudos de Max Horkheimer, Walter Benjamin, Adorno e Marcuse, membros/colaboradores da decantada e superestimada Escola de Frankfurt e, mais tarde, de acordo com os arautos da desconstrução, Foucault, Deleuze, Derrida e Barthes, julgar que o pensamento iluminista foi o grande responsável pelas desilusões da humanidade, depois que a Belle Époque se tornou poeira ao vento com a Primeira Guerra Mundial, com o nazi-fascismo e o socialismo na ex-URSS, com o crack de 1929 e com a Segunda Guerra Mundial.
Não é necessário demonstrar os inúmeros equívocos, imprecisões e anacronismos cometidos à exaustão pelos pensadores citados no parágrafo anterior. Quem quer ter mais conhecimento sobre o assunto, poderá ler Os dentes falsos de George Washington, de Robert Darnton, O modernismo reacionário, de Jeffrey Herf, ou As razões do Iluminismo e Mal estar na modernidade, ambos do filósofo brasileiro Sérgio Paulo Rouanet. A leitura desses excelentes livros não deixa a menor dúvida de que os críticos do Iluminismo jamais estudaram um texto sequer, de Voltaire, Montesquieu, Condorcet, Diderot, ou mesmo de Rousseau, o menos iluminista de todos os iluministas, e o que mais serve de parâmetro aos neohippies de boutique do século XXI.
Frankfurtianos e desconstrucionistas nunca fizeram mais do que traçar parcos panoramas essencialistas a partir de seus devaneios esquerdopatas, revisionismo marxista com pitadas de Freud. Lixo!
A confusão primária entre a aposta no poder de questionamento, na investigação e na prudência da razão, típicas do Iluminismo, e a fé desmedida, cega e autoritária no Progresso e no cientificismo, característica do Positivismo, ou a indistinção entre a frugalidade iluminista e a idealização e o exotismo românticos, são apenas alguns dos erros mais crassos da crítica pós-moderna ao pensamento do século XVIII. Nunca é demais frisar que o imperialismo e a Belle Époque são crias do século XIX, jamais do XVIII.
Mas o que torna o Iluminismo tão atual nos dias de hoje? Ora, nada mais do que o narcisismo e o egoísmo (ridiculamente confundido com o individualismo, por tantos desavisados e intelectuais desonestos, desde a direita conservadora, até a esquerda dita "revolucionária"), fenômenos típicos da atual sociedade massificada. A defesa da estética "alternativa", do relativismo, do performismo (que faz de qualquer descerebrado uma celebridade, exaltando o sucesso fácil e efêmero como qualidade), da falta de responsabilidade, do descompromisso, da imoralidade, do imediatismo, da descrença na autoridade (autoridade é totalmente diferente de autoritarismo), na democracia, na pesquisa e na ciência, são todas filhas dos manifestos libertários de Foucault, Deleuze e Derrida.
A idéia que faz a cabeça de tantos jovens hoje em dia, isto é, a noção de que uma pessoa é o centro de tudo e o resto que se dane, é uma contribuição macabra do pós-modernismo. É o próprio egoísmo de Narciso. Como tentar fazer quem age assim, entender valores como respeito ao próximo, à Natureza e aos animais? O Iluminismo pode ser uma ótima propedêutica.
Os iluministas jamais defenderam que o Homem controlasse a Natureza para explorá-la, numa relação de total dominação. Defendiam sim que a razão humana poderia ajudar a estabelecer uma postura mais harmônica do Homem com o meio natural, aproveitá-lo sem degradá-lo. Atual ou não? Quem nunca ouviu falar em "desenvolvimento sustentável"?
A razão iluminista é questionadora, procura colocar tudo em dúvida, refletir, pesquisar, examinar, para melhor nos capacitar a viver nesse planeta e poder apreciá-lo, para melhor nos adaptarmos ao que ele oferece de melhor, e também de pior.
O pensamento iluminista é o oposto extremo do descompromisso pós-moderno, pois não crê que exista algo de valor na preguiça e no "deixa assim porque não é comigo" (até parece que não!).
O Iluminismo sempre preservou intacta a diferença entre o certo e o errado, entre liberdade e libertinagem, entre conceito e opinião. Todas as grandes mentes que lutaram por um mundo melhor, também pensaram e agiram, invariavelmente, desse modo. Buda, Leonardo Da Vinci, Gandhi, Martin Luther King..., todos eles, antes e depois do Iluminismo, foram iluministas de algum modo.
Para encerrar, um pouco de otimismo: não é tão improvável que o mundo venha a nos legar outros grandes iluministas! Que assim seja!