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sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Overdose de bola (murcha) rolando


Antes de mais nada, devo deixar claro que sou amante do futebol, esporte de origem bretã, disparado o mais popular do mundo, o mais emocionante, o mais variado quanto ao leque de jogadas, dribles e esquemas táticos, o mais democrático em relação ao biotipo dos atletas que o praticam, pois não é preciso ser alto nem extremamente forte para ter sucesso com a bola nos pés.
A despeito disso, fica impossível, exatamente para quem curte esse esporte, deixar de lamentar a overdose de transmissões de jogos de futebol nas TV´s a cabo. Sou do tempo em que o Campeonato Italiano era transmitido aos domingos na hora do almoço, ainda na TV aberta. Um só jogo, geralmente da esquadra que o Milan possuía na segunda metade da década de 80, um timaço que contava com o grande trio holandês, Ruud Gullit, Marco Van Basten e Frank Rikjard, ou então do Napoli de Maradona e Careca. Eram equipes que chamavam a atenção do telespectador, pois jogavam bonito. Uma vez por ano era transmitida a final da Copa dos Campeões da Europa. Um só jogo, um jogaço! A cada quatro anos os craques do futebol europeu se reuniam para disputar a Eurocopa de Seleções. Apenas alguns jogos, grandes jogos! Também a cada quatro anos, a tão esperada Copa do Mundo. Todos vidrados na TV. Em menos de um mês a competição ia embora, deixando na memória partidas antológicas como Alemanha x França em 1982 ou Inglaterra x Camarões em 1990. Pelejas que sempre farão jus à grandeza do futebol.
Hoje em dia, tudo mudou, mudou para pior. Hoje em dia o futebol está banalizado. Zapeio o controle remoto e, em plena quinta feira à tarde, me deparo com PSV x Den Haag (ahn?!) pelo Campeonato Holandês! Mais uma passeada pelos canais e eis que surge Nice x Vannes pela Copa da Liga da França (como diz o outro, fala sério!). Para que servem jogos assim? Talvez para algum aprendiz de treinador observar a tática, talvez, e olhe lá! Perdeu-se o charme, a essência das grandes partidas, nas quais era possível ver jogadores de ponta desfilando sua arte nos gramados. É tanto jogo, mas tanto jogo, que nem se fica sabendo quando será transmitida uma disputa entre grandes equipes, válida por um campeonato que mereça atenção.
Como tudo na atual cultura de massas, que não é feita apenas para as massas (o que não chegaria a ser de todo ruim), mas pelas próprias massas, o futebol degenerou nesse performismo de estética vulgar, nessa apoteose fanfarrona que tudo faz virar celebração de celebridades anódinas. Espetaculização, não espetáculo. Até os jogadores, estrelas do que um dia já foi espetáculo, foram tomados pela mediocridade. A moda agora é aquela pedalada (coisa horrível) improdutiva e sem ginga do CR7 (sim, ele é chamado por uma sigla!), o maior símbolo da tal estética vulgarizada dos novos tempos. Quem sabe lançar, quem dribla, quem é objetivo, quem desconcerta com um simples toque imprevisível? O Messi, talvez, (se não degenerar nos malabarismos circenses, como já aconteceu com Ronaldinho Gaúcho e Robinho) o grande Riquelme, o ainda genial Alex. Quem viu o Maradona, numa jogada indescritivelmente bonita em sua simplicidade, inusitada e eficiente, deixar o Burruchaga na cara do gol para decidir a Copa de 1986, sabe o que estou dizendo.
O futebol vai além do esporte, futebol é cultura, overdose banalizante, definitivamente não dá! Ainda bem que existe o controle remoto, ainda bem que existem os livros...

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