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quinta-feira, 25 de março de 2010

E eis que o herói se tornou vilão

Há uns bons 14 anos, muito, mas muito tempo antes de Ronaldo ter se tornado o que é hoje, antes de começar a fazer sucesso acentuado no futebol, antes mesmo de ganhar o apelido de "Fenômeno", bem antes de jogar no time incolor, eu era um dos poucos que já condenava as atitudes do jogador,  já que estas denotavam aversão ao profissionalismo, estrelismo e falta de humildade. Acontece com muitos atletas que saem do nada e rapidamente conquistam fama e dinheiro, em relação aos quais não possuem estrutura emocional alguma para lidar. Tornam-se celebridades vazias cujo performismo grotesco é erigido pela mídia prostituta. Mal de nossa época.
Para a grande maioria do povo brasileiro, sentimentalóide, cordial e totalmente  incapaz de refletir a respeito de comportamentos e modos de ser relacionados a virtudes, Ronaldo sempre foi humilde e craque. Não contesto a capacidade do jogador, embora o conceito de craque tenha sido banalizado de uns 25 anos para cá. Vale frisar que Ronaldo, exceto quando atuou pelo PSV e pelo Barcelona, ainda em início de carreira, não conquistou afeição significativa do torcedor europeu, mais racional, mais frio, mais atento a comportamentos extracampo e mais inteligente do que o brasileiro. Ronaldo deixou o Real Madrid e o Milan pelas portas dos fundos. Mais recentemente, não havia clube no velho continente que o quisesse, foi então que ele retornou ao Brasil para atuar na Marginal Tietê. O fato é que, apesar de possuir capacidade técnica acima da média, o jogador desde há muito passou a transmitir uma imagem e a dar exemplos que deveriam ser reprovados quando se trata de figuras públicas que, independente de sua própria vontade, acabam se tornando, para o bem, ou na maior parte dos casos, para o mal, modelos a serem seguidos. Como já ressaltei, há mais de uma década eu reprovava o comportamento de Ronaldo. Não costumo me enganar acerca do perfil psicológico e espiritual das pessoas.
Quando Ronaldo veio jogar no Brasil, tanto tempo depois de ter deixado o Cruzeiro rumo ao PSV, a mídia o alçou à condição de um semideus, ainda mais por ter vindo jogar no time da própria mídia. Uma vez que nosso povo não percebe que determinadas análises objetivam atingir um grau de profundidade que vá além das meras aparências e do registro imediato, Ronaldo caiu nos braços, não apenas do torcedor de Itaquera, mas até mesmo nos de torcidas adversárias. E haja babação de ovo, aumentada cada vez mais à medida que o jogador obtinha relativo sucesso em 2009. Quietos, aqueles que procuravam analisar sob perspectivas mais abrangentes do que a performance esportiva, apenas deixavam com que as coisas acontecessem, mas com a certeza de que não logra benefícios e sucesso no longo prazo aquele que não faz por onde em se tratando de âmbito espiritual e comportamental. É sempre assim, e é isso mesmo que permite atribuir valor a quem merece. Arrisco a afirmar que esse é um dos motivos que ainda consegue manter a humanidade.
Eis então que veio o momento no qual, de uma vez por todas, o caldo se tornou indigesto. 2009 acabou, chegou 2010 e, com o novo ano, quebrou-se o encanto de Ronaldo para com a torcida do time no qual atua o jogador. Péssimas atuações, escassez de gols, mau futebol. Após a derrota frente ao Paulista de Jundiaí, vaias da torcida e o revide por parte do atleta. Um gesto obsceno, um dedo no meio da cara de quem gritou o nome da figura em questão. Não me surpreende. Essas coisas sempre acontecem seguindo o mesmo script.
É certo que não faltarão aqueles a considerar que minha reflexão seja fruto de inveja. De minha parte, lamenterei uma tal falta de perspicácia, dado que analiso a partir de outro viés que não o esportivo. A questão está acima do reino profano da paixão clubística, é pois um assunto que foge às platitudes do mundano, das performances e do universo mesquinho no qual vivem as massas atingidas pela ignomínia. É óbvio que mando um "bem feito" com todas as letras na direção da torcida rival. Mas, acima disso, lamento por toda a ignorância de um povo cego, guiado no rumo da desgraça por seus falsos ídolos. É a cara do Brasil.

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