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sexta-feira, 28 de junho de 2013

Anarco-relativismo e revolução: o perigoso descarte dos padrões e a crise da autoridade

"A grande crise na educação estaria ligada ao fato de que toda e qualquer responsabilidade pelo mundo está sendo rejeitada, seja a responsabilidade de dar ordens, seja a de obedecê-las. Os adultos se recusam a assumir responsabilidade pelo mundo ao qual trouxeram as crianças." - Hannah Arendt

Em meio à onda de manifestações que varre os quatro cantos do Brasil, o senso comum faz com que muitos cometam equívocos que evidenciam a profunda crise de valores que ora vivemos. Dentre tantas causas justíssimas que, de fato, exigem uma tomada de postura da população, há aqueles que se perdem na exaltação da estética dos protestos e do frescor da juventude. Penso ser necessário menos louvor e empolgação e mais cuidado.
Em um primeiro momento, quando os idiotas úteis do MPL (um mero núcleo minoritário de transmissão de ideias autoritárias de esquerda advindas do petismo e de partidos nanicos dotados do mesmo viés) deram início às manifestações, sem que ainda o cidadão comum participasse das mesmas, Arnaldo Jabour foi um dos únicos que criticou de modo exemplarmente correto as atitudes do grupelho, baseadas sim em vandalismo e violência, empreendidas com intuito anticapitalista e visando a atingir sobretudo o governo do estado de São Paulo. Jabour foi esculhambado. Depois disso, o rumo dos acontecimentos fugiu ao que normalmente poderia se esperar do contexto e o MPL foi engolfado por reivindicações muito mais amplas e justas. Os alvos passaram a ser o governo federal e a classe política cooptada, dado os inúmeros males que estes erigiram como método de governo há dez anos. Melhor assim, mas é preciso refletir a respeito de certos aspectos.
A atual juventude foi (des)educada sob a égide do marxismo, do pós-modernismo e da filosofia de Rousseau, mistura de insanidade que resultou na nefasta noção de que tudo é possível e legitimado segundo uma visão rigorosamente deturpada do conceito de liberdade e na recusa de qualquer autoridade estabelecida a partir dos usos, costumes e leis da sociedade. Considerado tal panorama, não surpreende verificar que a polícia venha sendo duramente atingida por críticas de vários segmentos, pois ela representa um tipo de autoridade facilmente identificável perante o senso comum. Juntamente com as forças armadas, a polícia detém o monopólio da violência no mundo moderno, elemento cotidiano - no caso da polícia - garantidor de segurança e da contenção de indivíduos ou grupos que transgridem a normatividade. A ideia de norma, sem a qual não há possibilidade de coordenação e ajuste das diferenças e interesses que tecem a experiência social, é cada vez mais colocada em dúvida por pretensos especialistas que insistem em lhe atribuir conotação fragmentária, classista ou racial. A isonomia legal é uma característica insigne do liberalismo e, sempre que for infringida, os responsáveis são passíveis de punição. Se nos dias de hoje ocorrem situações em que a força policial atua sem respeitar a isonomia legal, isso não deveria jamais servir como justificativa para que se conteste o monopólio da violência que a polícia detém, do contrário, abrem-se precedentes perigosos, como notoriamente se sucedeu quando da ascensão do nazismo durante a República de Weimar. No cadinho do marxismo revolucionário, da anarquia pós-moderna e da noção rousseauniana de liberdade como elemento gratuito da natureza, a grande maioria dos jovens chutou para longe a necessidade da observância de valores e interditos morais, bem como os mais velhos se furtam à responsabilidade na transmissão de tais valores e interditos, - que talvez eles mesmos tenham deixado se perder - daí a crise na educação à qual remete a reflexão que abre este artigo. É cada vez mais raro encontrar quem interprete a liberdade como um dever interior, como uma questão de construção moral.
No último domingo (23/06), o jornal O Estado de São Paulo trouxe à baila um texto do sociólogo Pedro Rocha de Oliveira, intitulado "Mau Senso", no qual é possível comprovar a atual crise de valores. Obscurecido e limitado no interior das fronteiras esquerdistas, o autor consegue a proeza de inverter cabalmente a realidade. Ao discutir a respeito de uma ação policial na favela do Jacarezinho (RJ), ele criticou a polícia e aproveitou para defender a ideia manjada, superficial, preconceituosa e promotora de ódio segundo a qual a "burguesia" rejeita a violência policial contra ela própria, mas não está nem aí para a "truculência" corriqueira observada nas periferias. Como se vê, Oliveira, pinta com cores classistas o que deveria ser pensado a partir de uma perspectiva universalizante. Primeiramente, vale ressaltar que ninguém que preze a isonomia legal e esteja imbuído de ética irá justificar episódios de violência descabida, aqui ou acolá, tratando com parcialidade as diferenças econômicas. Em segundo lugar, e o que é pior, o autor responsabiliza os ricos e a classe média por algo que definitivamente não corresponde à realidade, perdendo a chance de proferir a crítica correta. O grande mérito de José Padilha, diretor de Tropa de Elite, foi apontar o erro ideológico concreto dos estratos mais abastados da sociedade, deixando de lado o ranço esquerdista, abstrato e economicista. Enquanto o crime comanda as periferias e afeta a sociedade indistintamente no que se refere a questões econômicas, estabelecendo também o poder paralelo e privando o cidadão de bem de seus direitos, jovens intelectualoides financeiramente privilegiados, muitas vezes consumidores de drogas e doutrinados pela esquerda desde a escola até a universidade, sustentam e defendem a bandidagem. É essa juventude que relativiza a ética, a moral, as leis, as autoridades e tudo mais que sinaliza que nem tudo deve ser permitido, sob pena de imperar a lei do mais forte. Sempre que o crime mata, chacina e faz o sangue jorrar, armado até os dentes com equipamento superior ao da polícia, vitimando diariamente gente de bem no interior das próprias favelas, os apólogos do relativismo silenciam; quando a polícia enfrenta os bandidos, está errada aos olhos deles.
Ainda que o Brasil viva um quadro de intensa falta de representatividade e de instituições sucateadas, não é com base no descarte completo de padrões construídos ao longo de séculos de história que algo novo e melhor surgirá a partir do nada. É preciso saber contra o que exatamente se colocar, e não ser um arauto do niilismo e da destruição; é preciso separar o joio do trigo, identificar o que é justo e o que não é, o que é pelo bem de todos e o que é do interesse de oportunistas, ideólogos, fomentadores do ódio, da revolução e do caos social, diferenciações que só podem ser almejadas se houver padrões e referências, como deixam claras as lições dos grandes líderes que a história legou. Ao contrário do que pensa Oliveira, a juventude não está preocupada com preservação de ordem nenhuma, apreciação que se evidencia na relação dos jovens com os pais, com as pessoas mais velhas em geral, com os professores e profissionais da educação, além da relação com as autoridades instituídas, por isso mesmo os jovens enxergam a polícia com ares extremamente negativos. Se nem todos atentam para a violência como problema social sempre que a mesma é indevidamente exercida, talvez porque não tenham sido vitimados por ela, deve-se pensar a respeito recorrendo a Hobbes, não fazendo uso de sociologização classista. Encerrado nos limites da literatura politicamente correta da esquerda, tanto quanto a juventude "burguesa" que ele intenciona criticar sem se dar conta de que compartilham da mesma visão, Oliveira é ao mesmo tempo carrasco ideológico e vítima da ideologia. E os jovens, irão se manter presos ao raciocínio próprio das mentes cativas ou recuperarão os padrões? Sou totalmente pessimista quanto a isso.

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