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terça-feira, 24 de março de 2009

A boa audição musical em risco


Uma cena frequentemente observada em nosso tempo diz respeito a pessoas das mais diversas idades, na rua e em outros locais com grande volume de circulação, portando aparelhos que reproduzem MP3 e conectadas aos fones de ouvido. Sempre me pergunto se em tais situações é possível realmente ouvir música. A resposta é não, caso se aprecie música, todavia, o objetivo de quem está quase que permanentemente buscando escapar da realidade, é outro.
Bertrand Russell afirmou certa vez que os homens incapazes de suportar o tédio comporiam uma geração de homens menores. Estava coberto de razão o grande filósofo britânico, basta atentar para o mundo em que estamos vivendo, no qual uma boa parcela da população tem imensa dificuldade de aturar a rotina, não sabendo convertê-la em um caminho de reflexão e contemplação.
Não escrevo hoje a fim de discutir filosofia, mas sim música. Como se não fosse suficiente a banal e óbvia constatação de que um sujeito em uma rua movimentada, com todos os ruídos que um local do tipo comporta, não está ouvindo música, mas apenas uma massa sonora amorfa, desagradável e prejudicial ao físico e ao espírito, a qualidade do MP3, ainda por cima, é péssima. Sim, eu possuo músicas em formato MP3, não nego que essa tecnologia é uma mão na roda e nos permite acesso a um leque de músicas que dificilmente teríamos se tivéssemos que comprar todas elas. Por outro lado, seria acrítico deixar de pensar que o MP3 "matou" a música, de certa forma pois, além da mencionada falta de qualidade, os aparelhos que reproduzem o formato se prestam à audição em ambientes inadequados, os artistas deixaram de faturar com venda de álbuns (o grande prejudicado não são as gravadoras, como muitos pensam), tornando os shows caríssimos e perdeu-se por completo o conceito de álbum. Eu não me prendo 100% ao MP3, o que seria contribuir com um crime contra a arte musical.
O MP3 é um formato de áudio ultracompactado, o que lhe faz mutilar as altas e baixas frequências do som, retirando toda a espacialidade acústica das músicas. O MP3 não é muito mais do que um radinho de pilha, com aquele som chapado e unidirecional; até melhora um pouco quando reproduzido em CD player, mas nada que se compare ao próprio CD ou ao inigualável e soberbo vinil. Inclusive, devo dizer que fico com uma pena tremenda daqueles que jamais ouviram um disco de vinil, e são muitos hoje em dia!
Há mais de negativo no MP3: o cidadão faz um mix de músicas, o que é até interessante vez ou outra, mas no mais das vezes, mal sabe o que está ouvindo e perde o interesse em dissecar um álbum em sua sequência e sonoridade específicas.
No que se refere à arte ilustrativa da capa de um álbum, obviamente o MP3 não permite tal apreciação. O CD, com sua caixinha pequena, já tinha ferido gravemente esse quesito, o MP3 deu o tiro de misericórdia. Quem gosta de Rock, sobretudo de Heavy Metal, tem na observação da capa dos álbuns, um complemento à audição musical. Qual fã de Iron Maiden jamais ficou procurando detalhes na capa do Somewhere In Time (foto acima), enquanto ouvia o disco? É extremamente lúdico. Pobre escutador de MP3!
Diante de tudo isso, nem cabe comentar o ritual que envolve a compra de um disco. Quem frequentou a Galeria do Rock nos áureos tempos, sabe perfeitamente disso. Hoje o local está mais para um salão de desfiles emoteen, cujo público acéfalo vai para compor visual e adquirir roupitchas ridículas, não para consumir boa música, pois eles se bastam com o MP3.
Sinal dos tempos...

2 comentários:

  1. Já tinha passado aqui e visto seu post... mas hoje lembre dele depois de um comentário que deixaram no meu blog, a menina falou que o uso do mp3 no metrô a fazia esquecer dos transtornos ao lado; algo assim! rsrs
    bjo

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  2. Sinal dos tempos mesmo! Como ela, há muitos!
    Que o povo seja feliz.

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