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quarta-feira, 4 de março de 2009

Lei do mínimo esforço


Aqueles que trabalham na atividade docente, sabem bem que nos dias de hoje essa tarefa é das mais complicadas. Isso ocorre devido à patologia típica da nova era, nada mais nada menos do que o narcisismo pós moderno, frequente sobretudo na faixa etária que se situa entre os 11 e 18 anos. Nem todos os jovens dessa idade sofrem da moléstia, mas a maioria, infelizmente. A lei do mínimo esforço impera e, qualquer esforço por parte de quem educa, parece soçobrar nas tormentas, rumo ao naufrágio inevitável.
Atualmente, tudo vem fácil e vai embora mais fácil ainda, quase tudo é descartável e possui pouca importância. A qualidade não é prezada, o que vale é volume, quantidade. Valores não se estabelecem, pois não há tempo para isso. Não à toa, vive-se um período de absoluta carência de verdadeiros ídolos. Produtos de qualquer tipo, não só materiais, mas também mentais (concentração e reflexão são processos mentais associados a fastio e chatice - não se concede o delay que a curiosidade, mãe do saber e da ciência, requer), necessitam ser consumidos rapidamente, o que torna nosso tempo junkie não apenas na alimentação, mas em praticamente todos os aspectos. Tudo que é massificado e descartável, é também efêmero e incapaz de gerar algum desdobramento positivo.
O processo de ensino/aprendizagem exige, como tudo que gera bons frutos na vida, boa dose de rigor, de entrega, de abdicação, de disposição, de esforço, como já mencionado. Ora, mas para que o jovem irá empreender tão árdua travessia, se aquilo que ele preza não requer mais do que um clique no botão do mouse ou uma zapeada no controle remoto? Se esforçar para que, se aquilo que é bom na aparência (só na aparência) nada exige?! Que fique claro: como liberal e progressista, sou altamente favorável à tecnologia, mas como frisou um cientista cujo nome me foge à memória, poucos são os jovens que realmente se interessam por tecnologia, que tudo tem a ver com pesquisa e ciência; no fundo, boa parte deles apenas faz (mau) uso da tecnologia, muitas vezes das tecnologias mais inúteis e mais desnecessárias, aquelas destinadas ao consumo de massas.
O imediatismo, sintoma característico do narcisismo, escurece a mente quanto aos benefícios do esforço presente, que traz ganhos materiais e espirituais no futuro. Os pedagogos desconstrucionistas da nova era, que jamais pisaram numa sala de aula, são os defensores das colours class, das dinâmicas alternativas, do cirquinho na escola, tudo para que o processo educacional se torne mais prazeroso. Tudo balela, tudo lixo da pior espécie, tudo cretinice! Sofre-se da ridícula e nefasta ideia de que tudo na vida deve ser agradável, perdendo-se até mesmo a verdadeira especificidade do prazer. As gerações que frequentaram o Ensino Básico até meados dos anos 90, poucas vezes eram ensinadas sem ser no estilo mais tradicional, poucas vezes saíam da sala de aula, justamente por isso, valorizavam verdadeiramente as ocasiões em que isso ocorria. Hoje em dia, se o aluno é levado para fazer uma trilha nas montanhas, ele não repara na vegetação, no clima, no relevo, nos animais, nem ao menos ele aproveita o frescor de um local afastado da cidade, ele reclama do cansaço e do fato de ter sujado seu tênis, isso sim! Ele quer a lei do mínimo esforço!
As pessoas que foram educadas tradicionalmente sabem menos? Nunca, claro que não, muito pelo contrário! Foram ensinadas que um pouquinho de sofrimento e dedicação só fazem bem, aprenderam a dar valor às coisas, a querer conquistar aquilo que é bom, aprenderam que uma dificuldade que se interpõe no caminho, é um convite à superação, logo, a vitória obtida é mais saborosa e mais digna. Enquanto isso, ouço aluno alegando que não levou o livro para a aula porque faria peso em excesso na mochila. É o fim...
O que a educação lamentavelmente não tem logrado sucesso, a vida ensinará, mais cedo ou mais tarde, e de um modo muito mais doloroso e sem direito aos benefícios futuros legados pelo esforço do presente. É extremamente triste constatar que num país miserável como o Brasil, muitos jovens desdenhem a educação (o pior é que não se trata de culpa deles apenas, se fosse, seria mais fácil resolver - até nosso ilustríssimo presidente dá de ombros em relação ao valor do conhecimento...).
Esse país tem uma grande tendência a continuar sendo cada vez mais desigual, isso porque os poucos que querem ir atrás do conhecimento, fatalmente se tornarão uma elite de sábios e até mesmo irão embora do Brasil em busca de paragens onde o saber tenha seu devido valor - é a chamada fuga de cérebros, fenômeno já corrente há muito. Continuará predominando o analfabetismo ético e político e a carência científica, males que só a educação remedia.
Se aproxima cada vez mais o momento em que deixarei de lado a docência no Brasil, me dedicando à pesquisa e/ou mesmo à educação, mas em outros rincões. É a fuga de cérebros...

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