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sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Educação complacente e permissiva


Quando a educação era minimamente levada a sério no Brasil, e isso já faz um bom tempo, ela não se encontrava em estágio universalizado. Quem estudava, de fato mantinha contato íntimo e produtivo com a educação enquanto formadora do caráter, mas poucos tinham essa possibilidade. Décadas se passaram e o acesso à educação no país se tornou quase que totalmente abrangente, no entanto, em escala inversamente proporcional, a qualidade do ensino decaiu brutalmente.
No espaço de tempo que compreendeu a universalização da educação básica e a queda de sua qualidade, observou-se também o surgimento de novas correntes pedagógicas cujo matiz esquerdista e relativista contribuiu decisivamente para o sucateamento do ensino brasileiro. Muitos dos adeptos e reprodutores das ideias construtivistas e paulofreireanas se estabeleceram como professores, orientadores educacionais, coordenadores, pedagogos e psicopedagogos, os próprios norteadores da educação no Brasil.
Diante de tal quadro, não é de se estranhar a quantidade de direitos e regalias com os quais cada vez mais passaram a contar os alunos e, por tabela, os pais destes, complacentes com a irresponsabilidade, o desleixo, o deboche, a falta de postura e interesse por parte de seus filhos. Para coroar a falência de um sistema educacional pautado no famoso "jeitinho" brasileiro, a prática dos tais laudos emitidos por "especialistas" de porta de escola coadunados com toda essa situação se tornou absolutamente comum: não falta muito para que cheguemos em uma época na qual o aluno que não tiver laudo será a exceção. Disgrafia, discalculia, dislexia, déficit de atenção, hiperatividade e outras deficiências descobertas e superdimensionadas pela nova "ciência" psicopedagógica relativista constituem o leitmotiv da complacência e da permissividade, pilares sem os quais parece não mais poder haver educação no Brasil.
Longe de mim estar aqui querendo contestar o trabalho de especialistas sérios e comprometidos que contribuíram ao longo dos últimos tempos com o desvendar de situações produzidas pelo cérebro humano que podem afetar o desempenho de alunos ou de qualquer pessoa. A atividade científica idônea é sempre louvável naquilo que descobre e traz como propedêutica. Nesse âmbito, uma vez diagnosticado com algum problema gerador de prejuízos em seu processo de aprendizagem, o aluno se torna merecedor de atenção redobrada por parte de pais e educadores, o que guarda uma distância abissal com relação às práticas que motivam esta crítica. Um laudo psicopedagógico serve para que os educadores elaborem formas diferentes de avaliação e analisem os resultados do portador de forma a considerar as limitações que o problema específico seja capaz de impor. O laudo jamais isenta o aluno portador do cumprimento das exigências e esforços inerentes ao processo de ensino-aprendizagem. O laudo jamais deveria funcionar como indutor do descompromisso, como uma escora de complacência e permissividade, como elemento dispensador de obrigações. Todavia, é exatamente dessa maneira que tem servido esse instrumento: ao invés de ser tratado como um documento que permita interpretar resultados a partir da consideração da deficiência diagnosticada, revela-se uma muleta da desobrigação.
Além de formar mal no que se refere ao quesito estritamente técnico, a educação brasileira, dominada por políticas pedagógicas esquerdistas/relativistas, não cumpre seu principal papel, ou seja, não ajuda a construir um caráter e uma personalidade assentados sobre os princípios éticos e morais da responsabilidade e do sacrifício do ego em prol das virtudes. E antes que algum ideólogo se manifeste, essa deplorável situação anda de mãos dadas com aquela sanha de lucros fáceis e maracutaias que caracteriza certo tipo de capitalismo tupiniquim, não o verdadeiro capitalismo, que não se realiza sem que esteja fundado na teoria que Max Weber propôs há mais de um século.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Ética conservadora e direitos animais


No que se refere às últimas discussões observadas sobre a questão que envolve os direitos dos animais, - e logo de início deve-se deixar claro que tais direitos, sempre que considerados por quem procura respeitá-los, são vistos como uma obrigação da racionalidade humana para com outras criaturas sencientes - é importante derrubar um certo tipo de argumento que, embora rasteiro e totalmente incoerente, aparece de modo recorrente nas discussões acerca do tema.
Todos aqueles que por algum motivo não se importam com a ética em relação aos animais adotam uma postura contraditória sempre que tentam analisar a questão alçando o ser humano a uma condição de suposta superioridade. Estranhamente, essa superioridade assume contornos que muitas vezes desembocam em um rebaixamento do mesmo ser humano que se procurou privilegiar no bojo da argumentação especista. O homem tem direito de fazer o que bem entende com os animais não-humanos? A justificativa dos que respondem positivamente à pergunta tem como cerne a ideia segundo a qual o ser humano, por possuir um cérebro que lhe concede maior capacidade de pensamento racional, é capaz então de dominar a natureza cujas imposições as outras criaturas não conseguem modificar, ao contrário do próprio homem. Nisso a condição humana seria superior e daria direito ao domínio sobre as demais criaturas. Antropológica e biologicamente, é possível contestar esse entendimento: o homem não é o mais forte dentre os animais, nem o mais veloz, nem o melhor nadador, além de não ser capaz de voar. O desenvolvimento da cultura permitiu ao ser humano a capacidade de transformar o ambiente natural, mas a cultura é dinâmica, noção que não se pode perder de vista porque nem sempre as transformações são positivas e também porque a permanente interação do homem com o meio implica na necessidade de mudanças que devemos empreender de acordo com aquilo que a racionalidade e a ética indicam como sendo mais acertado. O homem produz cultura, no entanto, não se situa em um plano externo à natureza, pelo contrário, pertence a ela. Se somos racionais, o que antes de ser um indicativo de superioridade subjetiva é um sinal de diferença objetiva, devemos usar a razão a fim de mantermos uma simbiose com o meio natural e não simplesmente para tratá-lo de maneira irresponsável, ao bel-prazer, sem ética, sem prudência, sem respeito.
Defender uma relação utilitarista sobre a natureza alegando que o estado natural não conhece a ética, como advoga o sr. Luiz Felipe Pondé, além de não enxergar que o atributo ético é uma construção cultural e capaz de oferecer ao homem, nisto sim, um ângulo privilegiado de observação ontológica, peca por ser um raciocínio fortemente incoerente: primeiro coloca o ser humano no pedestal de uma superioridade abstrata e vazia, mas no fim o arrasta para o primitivismo selvagem: o leão caça a zebra, assim como o homem faz testes, confina, mata e come. Afinal, ele considera a espécie humana superior ou igual às demais criaturas? De maneira diferente dos animais não-humanos, entre os quais as ações instintivas excluem a possibilidade de agir fora das determinações do próprio instinto, não possuímos a capacidade de racionalizar, ponderar e fazer escolhas? Lembrando novamente que o dever ético é humano.
Os estudos históricos apontam que muitas vezes, em suas experiências mundanas, o homem relativizou a ética, sendo diametralmente oposta a lição de grandes líderes como Buda ou Jesus Cristo, homens de princípios éticos universais e inabaláveis. O culturalismo relativista, o desprezo para com os padrões acumulados desde os tempos mais remotos, bem como a soberba em relação ao conhecimento do passado, preferindo-se apostar no atípico, no marginal ou no improviso, caracteriza atitude comum de escolas filosóficas que sempre estiveram do lado errado. Ao sr. Luiz Felipe Pondé, que se julga de direita, mas que em se tratando do tema em questão se comporta como um cético esquerdista, afirmo que sou um conservador moral e estou com os animais; quem se contradiz é ele.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Ibi inconstantia


E eis que volto a este espaço após um longo tempo de inatividade. A vontade de escrever esteve em baixa e, ainda permanece, mas talvez hoje tenha havido um laivo suficiente o bastante para me trazer até aqui. Pensei em encerrar com os artigos e deixar que o blog sobrevivesse apenas de seu passado. Vislumbrei que não era o caminho e, logo depois, levantei a possibilidade de acabar em definitivo com o mesmo. Um segundo se passou e refleti que não seria necessário. Não ainda...
Muita coisa errada nesse ínterim, mais do que normalmente já acontece. Só coisa errada, a bem da verdade. Cansa. Não irei me estender e só dividirei com o leitor algumas impressões a respeito do tema da incoerência.
Li um sujeito afirmando que a direita ainda vive a época da Guerra Fria e enxerga o comunismo em tudo que é lugar. Pode ser que ele tenha alguma razão, o que até seria bom. Contudo, onde está a esquerda que, totalmente desprovida de capacidade para erigir qualquer reflexão sobre aspectos verdadeiramente filosóficos, só consegue promover a crítica rasteira de um capitalismo abstrato que nem ela sabe qual é? Se a direita cheira a bolor, a esquerda é farinha de ossos, encerrada não na Guerra Fria, mas no século XIX.
E por falar em aspectos filosóficos, é estranho observar em um país tão repleto de problemas como o Brasil, uma religiosidade predominantemente permeada por aspectos salvacionistas ao invés de servir como instrumento de orientação quanto ao certo e ao errado. E quanto mais preces advindas dessa credulidade vazia, pior fica a nação. Não, não é tão estranho assim...
"Menos prédios e carros, mais parques e bikes". Assim pude ver pichado em muro por aí. Parece bastante justo e "consciente". Mas é possível que não.... A verticalização é um fenômeno derivado do crescimento urbano desordenado, da especulação imobiliária sim, como preferem os esquerdistas "conscientes", - e com quantos cifrões não engordará os cofres da Prefeitura Paulista, uma das cidades com mais especulação imobiliária, o sr. Fernando Haddad, este prefeito de esquerda, prodigamente dotado de "consciência social"?! - mas também, e sobretudo, do crescimento demográfico, ainda alto para um país que deseja sair do lodo do subdesenvolvimento. Engana-se quem pensa que a geração de rebentos é exclusiva dos rincões. Neomalthusianos, uni-vos! Ah..., já ia me esquecendo das bikes que, segundo levantamento do movimento Bicicleta Para Todos, têm 72% de impostos embutidos no valor final ao consumidor, resultando em um sobrepreço de 230% na comparação com outros países. Esquerdistas gostam de bikes, mas também de Estado agigantado e sugador de tributos...
Demografia é um tema interessante, especialmente em época de apoio irrestrito ao movimento gay: perguntam então a um casal de heterossexuais se querem ter filhos, ao que respondem negativamente. E que arregalar de olhos se estampa na face do interlocutor, egrégio paladino da causa homossexual!
E esse capitalismo tupiniquim, entranhado nas práticas econômicas e na mente do povo, é mesmo sui generis. Ouve-se tanto discurso sobre modernização dos clubes, clube empresa, managers, benchmark, marketing e o raio que o parta, porém, é cena corriqueira nos gramados Brasil afora aquela em que se vê um jogador acéfalo comemorar seu gol atirando a camisa pelos ares: no momento em que as câmeras estão todas focadas no sujeito..., cadê os patrocinadores?! Será que nenhum dirigente, nenhum diretor de futebol ou criatura semelhante orienta essa boleirada ignara?!
Bem, talvez seja em função dessas comemorações acima mencionadas que os patrocinadores do futebol estejam se mostrando tão acentuadamente reticentes em oferecer quantias em troca do logotipo estampado nas camisas de times. A estatal Caixa Econômica Federal é quem passou a dominar amplamente o nicho dos patrocínios futebolísticos, desembolsando valores bem acima do mercado e, a despeito de muita gente ser contra tamanha imoralidade, há não poucos que consideram normal ou nem se importam: "não tem problema, é uma verba que seria destinada à propaganda" ou, "que se dane de onde vem o dinheiro, quero ver meu time campeão", como se as verbas de uma instituição pública não devessem ser endereçadas ao público, como se fosse verdade o mantra segundo o qual a CEF concorre normalmente com bancos privados, sem que possuísse monopólio em relação aos direitos do trabalhador. Indigna tanto quanto o próprio fato pensar que grande parte dos que apoiam tal prática vergonhosa sejam defensores do Estado provedor, aquele que funciona como suposto guardião dos bens públicos. É a "esquerda consciente", é a cara do Brasil! Até logo.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Chafurdando no foie gras


O sr. Nirlando Beirão é um jornalista que passa despercebido em todas as esferas, já que não contabiliza nenhum préstimo digno de nota em sua atividade profissional. Ele já circulou pelas redações de certos veículos de imprensa com orientações políticas e ideológicas bastante díspares entre si, o que talvez esteja na raiz do que possa ser apontado como um caso de alma fragmentária, deplorável defeito daqueles que, por desconhecimento, ausência de convicção ou intelecto reduzido, não são capazes de construir uma personalidade sólida e digna de respeito. Se não fosse por um artigo publicado a respeito do foie gras, o sr. Beirão continuaria no limbo da insignificância, mas uma vez que o destino inexorável dos meros escrevinhadores é se destacar apenas pela extrema negatividade, fui obrigado a lhe enviar uma resposta. Segue abaixo:


Devo afirmar que discordo integralmente de V.S.ª com relação ao artigo "Goela abaixo" publicado em O Estado de São Paulo neste domingo (13/10).
De fato, a legislação que proíbe a comercialização do foie gras não protege outros animais, todos eles vítimas de uma pecuária/avicultura e de uma indústria alimentícia cujas considerações éticas em relação aos mesmos se tornou absolutamente nula (basta um mínimo de informação e a leitura de certos autores como Jonathan Safran Foer para saber do que se trata). Contudo, mesmo se fosse de tal modo, o senhor estaria igualmente vociferando. Some-se a isso a constatação óbvia de que a produção do patê envolve uma crueldade ainda mais exacerbada do que comumente se nota nas demais formas de se obter alimento com a criação de animais.
Comer um fígado supersaturado de gordura, um fígado doente, produzido às custas de evidente artificialiadade e brutalidade vai bem além de uma questão de paladar. Liberdade? Seria mais digno, sem dúvida, se a abolição de modos alimentares selvagens e vetores de todo tipo de prejuízo individual e coletivo partisse de um exame de consciência por parte de cada um mas, a começar por suas ideias, é uma utopia das maiores. E não adianta o senhor apelar para artifícios retóricos e falsamente historicistas na tentativa de justificar que um animal seja submetido a extremos de crueldade, pois se formos lançar mão desse tipo de argumento, iremos elencar uma miríade de atos considerados normais em tal ou qual época e sociedade: o que o senhor pensa sobre canibalismo, ordálias ou execuções públicas? Tosco relativismo!
É curioso, inclusive, como o senhor manipula o relativo e o universal sem critério algum, chegando ao cúmulo do ridículo quando afirma ter "visto" gansos "felizes", inferindo tal interpretação a partir do instintivo grasnado desses animais. Ora, a partir de quais categorias chegou a essa conclusão? Categorias humanas desvinculadas da existência fisiológica dos gansos, revelando um argumento filosoficamente vazio. Seria o mesmo se um homem das cavernas visse a senhora sua mãe ou sua irmã sendo estupradas e daí concluísse que elas estivessem se sentindo felizes. Por outro lado, do ponto de vista biológico, já se sabe há um bom tempo que animais dotados de sistema nervoso estão sujeitos ao desconforto, ao medo e à dor, sendo que obviamente não se trata de eles estarem preocupados com o que nós sentimos em relação a eles próprios, mas da compaixão que é devida por nós aos seres sencientes, por uma questão de racionalidade, bom senso e nobreza de espírito, qualidades que devemos sempre almejar e praticar. E voltando ao tema da liberdade, cujo conceito o sr. usa tão mal (tome contato com a reflexão de Irving Babbitt a respeito da liberdade centrípeta e depois ouse refletir algo acerca disso), pesquisas no campo da psicologia e das neurociências têm apontado que seres humanos incapazes de um mínimo de sensibilidade para com os animais, geralmente não carregam a liberdade como valor.
A alimentação vegeteriana/vegana, muito mais rica, variada, econômica e ecologicamente viável e isenta de crueldade não precisa nem do bife do dia a dia, nem de outras nojeiras apontadas como "iguarias". Alimentação que carrega todas as recomendações possíveis, mas que é ridicularizada por formadores de opinião como o senhor, ou até mesmo por comerciais de cerveja dirigidos a jovens de mente vazia, desprovidos de cultura e valores morais.
Por fim, e não menos ridícula, foi a suposição de que o turismo gastronômico em São Paulo estaria ameaçado se legislação parecida se difundisse mais. Fique tranquilo, a proibição da "iguaria" é uma exceção. No mais, é puro preciosismo de um cidadão que parece viver em torre de marfim, chafurdando no foie gras, acreditar que a proibição de comercializar o execrável patê vá comprometer o turismo gastrônomico da metrópole. Problemas graves e que interferem de maneira decisiva na qualidade de vida dos sujeitos, como a péssima mobilidade urbana, a carência de áreas verdes, a poluição dos rios, a insegurança e a violência, estes sim atuam seriamente no comprometimento de qualquer tipo de turismo na cidade, não apenas o gastronômico.
Ao invés de escrever artigos dignos de pasquim, seria mais proveitoso se o sr. se dirigisse a um restaurante vegetariano indiano da região da Paulista para constatar que o mundo possui fronteiras mais amplas do que o limitado e pútrido universo do consumo de carne e derivados.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

O micro e o macro da ilegalidade consentida


A ideia de ilegalidade consentida é cara à obra de pensadores liberais, no mundo e no Brasil, dentre os quais, nesse caso, José Osvaldo de Meira Penna merece ser citado nominalmente devido à qualidade e profundidade das reflexões do mesmo a respeito do tema. A tolerância com relação aos erros repetidos e deliberados é fruto de uma mentalidade histórica tipicamente brasileira que Meira Penna tão bem põe em discussão em muitos de seus escritos. Evidentemente, uma vez que se embrenham por paradigmas interpretativos de fundo mental, cultural e psicanalítico, os estudos do autor fogem completamente às simplificações e delírios esquerdistas, sendo por isso mesmo negligenciados dentro dos círculos intelectualóides.
A ilegalidade consentida pode ser notoriamente observada e experienciada no cotidiano brasileiro. Está presente nas relações de trabalho, entre pais e filhos, no trânsito, na política, na escola, ou em qualquer outro microcosmo. A tolerância com a ilegalidade e, mais do que isso, seu incentivo, embora já francamente latente desde os primórdios da colonização portuguesa, foi ganhando mais forte acentuação ao longo da história do Brasil à medida que certas escolas de pensamento, todas elas de algum modo direta ou indiretamente filiadas ao marxismo, passaram a atribuir a inobservância na maneira correta de agir a uma questão de inferioridade social ou resultado de esquemas de poder que, segundo tais cânones, podem ser desconstruídos a partir do relativismo moral. Quando se confronta a realidade atual do país com o sucesso logrado por esses esquemas de pensamento nas escolas, universidade e em enorme parte da imprensa, não há surpresa na verificação do estado lastimável em que nos encontramos.
Os condomínios residenciais, por reunirem uma considerável quantidade de pessoas, com diferentes formações, visões de mundo, valores, crenças e, em certos casos, até mesmo diferenças socioeconômicas, constituem locais privilegiados na ocorrência diária do fenômeno da ilegalidade consentida, microcosmo bastante adequado, portanto, para ilustrá-lo. Partindo do nível microscópico, torna-se mais fácil exemplificar e comprovar o problema da ilegalidade consentida como mais um aspecto negativo da brasilidade em sua esfera macroscópica, a esfera da "Grande Mãe", parafraseando o próprio Meira Penna. Assim, pais ausentes acreditam que os condôminos devem tolerar tudo aquilo que seus filhos fazem de errado: torneiras abertas no espaço comum, bate-bola em local indevido, correria no hall social, sujeira descartada fora das lixeiras, falta de cuidado com a grama e com o jardim, gritaria e por aí vai. O mau uso do espaço comum não é apanágio somente de crianças sem educação, mas também de adultos desrespeitosos que o tratam como sendo o espaço de ninguém ao invés do espaço de todos. Na entrada e saída da garagem, as normas de segurança são interpretadas como mera formalidade sem nenhuma importância: um condômino entra ou sai no vácuo de outro e jamais aciona o controle remoto para fechar o portão. Mesmo quando em seus espaços privados, em função da ampla dimensão do elemento de coletividade que a vida em condomínio implica, o vizinho é uma categoria inexistente, não havendo preocupação alguma em evitar ruídos fortes, nem mesmo em período noturno. Assim, morar em condomínio é um verdadeiro tour de force para aqueles que não compartilham da ilegalidade consentida.
Tolerar e incentivar o erro é algo que possui dois lados de uma mesma moeda: trata-se, concomitantemente, de uma prática e de uma visão de mundo, sendo que, quase sempre, a ação e a ideia são compartilhadas pelo sujeito que age. Quando se pensa especificamente a respeito da ideia, é possível notar a existência de um grande paradoxo: é corriqueira no âmbito do politicamente correto, também ele um mal disseminado entre o esquerdismo, a noção segundo a qual o individualismo é prejudicial. Já escrevi a respeito da confusão individualismo-egoísmo, quando ambos são tratados indistintamente. No discurso, as pessoas procuram repelir o individualismo sem terem a menor compreensão de seu sentido filosófico. Não querem ser individualistas, incapazes que são de entendê-lo, bem como permanecem imersos na ignorância em relação aos seus benefícios. Por outro lado, se revelam absolutamente egoístas, bastando observar como atuam nos espaços comuns e com relação às obrigações para com outrem, promovendo uma caótica superposição entre público e privado.
No Brasil, ao contrário do que sugerem a sobriedade e a resignação perante diversos aspectos ontológicos, fatores básicos de desenvolvimento, os direitos sempre aparecem antes dos deveres e, são tantos, que as responsabilidades que envolvem todas as relações sociais, ou seja, os próprios deveres, acabam esquecidos. É a cara do Brasil!

domingo, 29 de setembro de 2013

Sinônimos: "esquerdismo" e "manipulação política"


Como sempre afirmo, e não se trata de nada além da mais óbvia e ululante constatação, o pensamento de esquerda jamais está autorizado a fazer uso do conceito de democracia com o objetivo de se contrapor a qualquer tipo de regime autoritário. Isso serve apenas para fazer a cabeça de analfabetos políticos e arrastá-los pelo caminho da mentira e da ditadura. Ser de esquerda é estar exatamente ao lado da ausência de liberdade, noção que o correto entendimento histórico não permite contrariar e, quem quer que tenha se debruçado sobre os textos de Marx e da miríade de discípulos por ele deixados, inclusive considerando-se aí também o keynesianismo, uma espécie de marxismo velado e erigido com vistas a se inserir mais eficazmente nos bastidores da política, sabe muitíssimo bem disso. Existiram ao longo do século XX raríssimas exceções que podem ser apontadas como componentes de uma "esquerda democrática", porém, tornadas ainda mais exíguas após a crise do mundo soviético e do colapso comunista, até porque tal vertente acabou em grande medida absorvida por outras formas de orientação. Quem foi capaz de enxergar as aberrantes falhas do comunismo, dele se desvencilhou.
No Brasil, atolado pela ditadura comunista do PT, o uso mentirosamente deslavado do conceito de democracia pela esquerda se traduz sobretudo na apologia dos regimes cubano, venezuelano e boliviano, coirmãos latino-americanos do marxismo terceiro-mundista. O ex-presidente Lula, e o mentor do mensalão, José Dirceu, além de outros petistas poderosos, sempre se mostraram entusiastas contumazes desses governos. Só mesmo extremos inimagináveis de idiotice podem fazer com que alguém acredite haver democracia nessas ditaduras de esquerda. Também corriqueiras são as análises esquerdistas a respeito do governo militar brasileiro, nas quais invariavelmente se lança mão da democracia com o intuito de defender comunistas. Na mais recente peça de falseamento do passado, Mino Carta, diretor daquela revista de piadas de mau gosto que a tantos idiotas consegue seduzir, teceu loas homéricas ao mensaleiro José Genoíno que, segundo ele, foi uma grande vítima da ditadura militar, alguém que lutou pela democracia e agora sofre as injustiças da burguesia direitista. Carta quer fazer crer que um comunista lutou pela democracia, ideia absolutamente contraditória desde a década de 1840. Um sistema que defende a violência revolucionária, que prega a eliminação de setores da sociedade e que tem na ditadura uma de suas fases mais importantes não pode em hipótese alguma se aproximar de qualquer laivo de democracia.
O regime militar brasileiro cometeu equívocos profundos na condução da política econômica, germe da hiperinflação dos anos 1980, bem como, mais grave ainda, em nome da tecnocracia, deixou de lado a produção cultural e a educação. As lacunas desse sistema foram oportunamente ocupadas pela esquerda e, hoje em dia, filmes nacionais que atribuem aura de heroicidade a ícones sanguinários da esquerda são feitos à custa de dinheiro público, ao mesmo tempo que nas escolas e na universidade, o esquerdismo domina praticamente sozinho o paradigma dos corpos docentes, revelando o nefasto doutrinarismo que dita os rumos educacionais no país. Esses nichos são privilegiados na propagação das mentiras esquerdistas e conseguem cooptar uma quantidade enorme de ingênuos.
Se a ditadura militar foi estatista e desatenta à questão cultural, o que lhe faz ser merecedora de críticas no âmbito de quem adota ideias liberais, no que se refere às análises de esquerda, tem-se mais um caso em que somente a ingenuidade histórica e política podem levar um grande número de pessoas a acreditar nas manipulações que essa ideologia promove com o conceito de democracia. Todas as táticas terroristas e opostas à democracia, típicas da ação da esquerda, como a guerrilha do Araguaia, o MR-8 e os sequestros políticos foram financiados com verba diretamente enviada dos porões da ditadura soviética. Essa gente jamais lutou contra a ditadura militar tentando colocar no lugar dela um sistema democrático, mas sim com o objetivo evidente de implantar o comunismo no Brasil. Na mesma época, sempre que algum dissidente soviético vinha a público para denunciar os crimes e a barbárie do comunismo, tal qual o exemplo cabal de Alexander Soljenítsin, prontamente a esquerda passava a qualificá-lo como um agente a serviço do império capitalista.
Em 31 de março de 1964 os planos da esquerda autoritária foram frustrados pelos militares, apoiados por grande parte da população brasileira, é bom que se destaque. Nos quase cinquenta anos passados desde lá, o regime militar virou peça de museu, ao passo que o esquerdismo recrudesceu com força e distanciou-se da modalidade mais aberta e tradicional que inspirou o castrismo cubano para se transfigurar no gramscianismo, pragmático enquanto oculto aos bastidores sórdidos da politicagem que destrói as instituições, ao mesmo tempo que místico e messiânico no apelo dirigido às massas tomadas pela catarse da ignorância. O perigo hoje é imensuravelmente maior.

sábado, 21 de setembro de 2013

Jovens prisioneiros do rebanho


"Os jovens, por serem mais puros do que os adultos, são mais livres do que estes".
A máxima acima está dentre aquelas que mais são repetidas em nosso tempo sem que uma análise minuciosa seja realizada a fim de verificar se é uma noção que de fato possa ter algum fundo de verdade. Quando se busca um entendimento filosófico, fica fácil concluir que se trata de uma ideia inteiramente falsa, no entanto, como muito do que é falso cada vez mais tem conquistado ares de verdade, o número de pessoas que se deixa levar é enorme.
Acreditar que a liberdade é um sentimento mais forte entre os jovens não passa de rousseauísmo romântico e, como tal, impede totalmente de compreender o significado mais nobre dessa virtude. A liberdade não é um dom gratuito da natureza, mas algo que precisa ser exercido por espíritos responsáveis. A liberdade é construída filosoficamente na interioridade de cada indivíduo, no que então assume sentido oposto à noção de que ser livre está relacionado a realizar desejos e fazer tudo aquilo que se tem vontade, como normalmente os jovens interpretam, incentivados por uma vastidão de adultos.
Há exceções, mas de modo geral, os jovens se rebelam contra a autoridade dos pais, acreditando que assim serão capazes de abrir as portas da liberdade. Esse é um dos maiores autoenganos que atinge o ser humano, de vez que a autoridade paterna é natural, ligada à formação dos filhos e transmissão de experiência aos mesmos, um processo que se completa assim que a maturidade é atingida. Além disso, estar sujeito à autoridade dos pais de modo algum limita a liberdade de um filho, até devido à própria questão da experiência, já que quanto mais ela se acumula, mais apto está um indivíduo a exercer sua liberdade. É claro que algumas experiências são obtidas fora dos limites paternos, o que também faz parte da vivência humana, porém não é por conta disso que se deve descartar totalmente os aconselhamentos emanados dos pais. Pelo contrário, pois somente se forem combinadas com tais aconselhamentos, as experiências poderão ser aproveitadas na formação do caráter e da personalidade.
Sempre que os jovens se rebelam contra a autoridade paterna, o fazem em nome do autoritarismo grupal, relacionado não à formação que uma pessoa carrega para o resto da vida, mas sim a imposições comportamentais efêmeras que funcionam como ingresso para participar do grupo. Trata-se, sem dúvida, de algo prejudicial que, ao invés de promover a liberdade, atua como um sério limite a ela. O indivíduo é obrigado a se despir de certos condicionamentos que acumulou ao longo de anos junto dos pais com vistas ao seu benefício para se coadunar com imposições cujo único objetivo é a rebeldia por si mesma. Troca-se a autoridade benéfica dos pais pelo autoritarismo que faz do indivíduo um membro de rebanho desprovido de qualquer possibilidade de escolha e de manifestação de preferência. Liberdade? Não, sua antítese.
Tem sido corriqueiro nos dias de hoje encontrar jovens que não possuem um mínimo de autodisciplina para realizar deveres simples, que estão muitas vezes mergulhados em crises existenciais porque não conseguem fazer escolhas, que cada vez mais prematuramente se rendem ao álcool e outras drogas na tentativa de subornar a realidade. A realidade, vale salientar, retira o ser humano do centro dos acontecimentos, existe, assim sendo, independente dos anseios egoístas, sem fazer nenhuma concessão a quem quer que seja. Ser livre dentro da realidade exige o self control que só se obtém à medida que o sujeito se curva diante do tipo correto de autoridade, aquele que ajuda a viver experiências e extrair seus significados, aquele que ensina a ser livre sem depender de elementos externos.
Caso o senso comum e a educação atual, amparada nos falsos pressupostos de Rousseau, de Marx e das pseudofilosofias pós-modernas, permaneça dando as cartas, o resultado mais concreto e lamentável disso será a continuidade da má formação de jovens, irresponsáveis e iludidos perante prazeres imediatos e prejudiciais confundidos com a liberdade centrípeta e internamente construída. A responsabilidade no tempo presente cabe aos adultos.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

O que vem por aí?


Chicana sf. 1. Sutileza capciosa em questões judiciais. 2. Ardil, astúcia.
Cf. Dicionário Aurélio, 2008

Depois de quase um ano, depois de novos escândalos de corrupção e depois das ditas "Jornadas de Junho", que agora inclusive correm sério risco de terem servido apenas para, uma vez mais, grudar um nariz de palhaço na cara da população brasileira, as atenções se voltam novamente para o STF e para a votação dos ministros em relação aos tais embargos infringentes.
Pelo andar da carruagem e graças ao que vem divulgando a imprensa domesticada pelo esquerdismo, a votação deverá ser favorável aos mensaleiros, isto é, os embargos serão aceitos. Não há absolutamente nada a discutir quanto ao fato de que a aceitação dos recursos representará uma vitória monumental para os ladrões do erário público, lhes concedendo amplo espaço de manobra. Além das mudanças na presidência do STF, que logo passará às mãos de Lewandowski, e das modificações no quadro de ministros de modo a aprofundar o aparelhamento da Suprema Corte - os novatos, indicados cirurgicamente, e cuja carreira jurídica é pífia ou inexistente, posicionam-se claramente em termos ideológicos ao invés de se pautarem pela justiça, fora o absurdo de estarem participando de um processo que não julgaram - ,qualquer alteração sobre o resultado do julgamento poderá ser explorado fortemente nos meios de comunicação, inclusive nos blogs de esquerda mantidos com pesadas verbas governamentais.
Ninguém sabe ao certo quanto tempo decorrerá até que a revisão das penas seja retomada em caso de decisão favorável à aplicação dos embargos, tampouco quais serão os efeitos das manobras que o poder ditatorial petista e a esquerda certamente colocarão em curso. Não será motivo de surpresa se figuras como José Dirceu e José Genoíno surgirem como mártires "do golpe fascista da elite". A questão é muito mais complexa do que a mera tecnicalidade jurídica, de vez que abarca elementos morais e políticos a se fazerem presentes em um país mergulhado em crise e corrupção. Evidentemente, essa complexidade passa distante da compreensão de "especialistas" como o sr. Luiz Flavio Gomes, o qual se diz manter "apartado das pressões e do alarde midiáticos" (ele parece ter apreciado bastante o discurso do novato Luís Roberto Barroso), escusado o fato do jurista ter feito essa afirmação em um poderoso canal de comunicação televisivo. Que "mídia", sr. Luiz Flávio?! Aquela que não se cansa de lembrar da inclinação do ministro Celso de Mello a favor dos embargos?!
Não existe dúvida alguma que o recurso ora em votação no STF, caso deferido, e a consequente protelação e redução das penas cabíveis aos mensaleiros representarão mais uma derrota do país e de toda sua população perante o avanço galopante da ditadura comunista estabelecida pelo PT. Fugir a esse entendimento contribui ainda mais com as hostes autoritárias. O que vem por aí? Uma vez consolidado o autoritarismo, a etapa seguinte é de cunho totalitário. Falta pouco.
Que responsabilidade, hein ministro Celso de Mello?!

PS(1): Os embargos infringentes não estão previstos no ordenamento jurídico nacional. Os recursos e ações processuais no STF são regulamentados por meio da lei 8.038/1990. O STF, contudo, contempla os embargos infringentes em seu regimento interno, por meio do artigo 333, que foi elaborado antes da Constituição de 1988. A questão que tem dividido os ministros é se essa norma do regimento interno do Supremo, escrita antes da Constituição de 1988, vale mais que uma lei ordinária pós-Constituição. 

Então pergunto: como um artigo do Regimento Interno do STF, instituição que deve se submeter à Constituição, pode se sobrepor a ela?!

PS(2): Pelo que se reflete, a tese dos embargos infringentes, de imediato, corresponde à primeira definição do vocábulo "chicana". Também em vista do que tem se sucedido, a segunda significação lhe cai como uma luva.

No aguardo... 

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Dez motivos para romper com Marx e com o marxismo


Os pontos elencados abaixo expressam alguns dos principais equívocos da teoria elaborada por Marx. Todos eles já foram exaustivamente abordados por inúmeros contestadores do pensador renano e, em sua maioria, se encontram comentados em postagens diversas neste blog. É óbvio que não são os únicos equívocos cometidos na obra marxiana, mas são básicos, suficientes para que, no mínimo, sejam buscadas explicações diferentes das que foram legadas por Marx. Não há outro motivo para sistematizá-los senão pelo fato de que os marxistas, ainda tão presentes na imprensa, nas escolas e na universidade, na produção (in)cultural em geral, bem como em setores chave do (des)governo petista, invariavelmente se utilizam da abrangência dos temas marxianos com o objetivo de tangenciar as argumentações contrárias a Marx; assim, se o crítico refuta a teoria marxiana em seu caráter econômico, o marxista lança mão da filosofia, se a invectiva foca na história, ele usa a sociologia, e assim continuamente, tática que o próprio elaborador do sistema não fazia cerimônia em empreender (o primeiro ponto está diretamente relacionado a isso). Uma vez que o prestígio de Marx e dos marxistas permanece indevidamente em alta, contribuindo para embotar a mente de estudantes ou de qualquer outra pessoa sujeita à sedução do canto de sereia, nunca é demais lutar contra a disseminação de tais ideias.
Se após a reflexão sobre os dez pontos seguintes o leitor se sentir estimulado a buscar contato com pensadores diversos e fora da corrente marxista, terei alcançado sucesso.

1. Extrinsecamente, a teoria de Marx quando interpretada por seus seguidores, os marxistas, é tão amplamente variegada, que chega a ser quase impossível apontar em que aspectos estes seguidores são realmente marxistas. São deturpadores do original, ou apenas determinada corrente captou a verdade suprema do pensamento marxiano, o que invalidaria todas as demais?

2. No âmbito intrínseco, Marx jamais cessou de contradizer seus próprios escritos, assim, a fase madura, em vários elementos importantes, é praticamente uma negação de detalhes igualmente fundamentais da fase jovem. Poderia-se objetar que essa é uma característica de muitos pensadores, senão de todos, contudo, para um corpo de ideias que sempre se pretendeu holístico e baseado em leis históricas, trata-se de fator que denota graves incoerências no pensamento marxiano. Aos seguidores marxistas, é correto perguntar: "qual Marx"?

3. A revolução é um telos inexorável ou depende da práxis humana? No caso da primeira hipótese, não é preciso preocupação alguma com aquilo que se sucederá de qualquer jeito. Por outro lado, se é necessário que o ser humano contribua em algo para a irrupção revolucionária, então tem-se aí um conflito entre necessidade e liberdade que, por sua vez, faz concluir que Marx enxerga o segundo fator como secundário. Assim sendo, não é difícil entender o destino brutalmente autoritário das experiências baseadas na teoria marxiana, bem como a justificativa da eliminação genocida de setores "antirrevolucionários" da sociedade. O banho de sangue está no DNA de Marx e do marxismo.

4. Se, como querem muitos marxistas, todas as tentativas de engenharia social tributárias dos escritos de Marx foram erros de cálculo que acabaram por desvirtuar a teoria original, varrendo-lhe o "horizonte de justiça", estamos diante de uma filosofia que se arraiga nas "leis" da história ao mesmo tempo que as nega. Em outros termos, os marxistas acreditam que uma hora dará certo, sendo somente preciso um crédito a mais. Mais banhos de sangue?! Sem problemas, pois na visão destes o futuro redentor sempre está à espera. Quanto às vítimas ... (este ponto, em certa medida, remete ao primeiro).

5. Marx acreditava que o capitalismo conduzia ao empobrecimento progressivo do proletariado, criando um abismo cada vez maior entre estes e a burguesia, daí o advento revolucionário como imanência do desenvolvimento histórico e o papel prático atribuído aos revolucionários. Este é um mantra repetido até hoje pelo esquerdismo. Completamente falso, como não poderia deixar de ser: estatísticas econômicas colhidas ao longo dos últimos dois séculos mostram que em ambientes nos quais a geração de riqueza é favorecida, a prosperidade atinge a todos de maneira indistinta, bastando estudar a história recente dos países desenvolvidos para notar que a liberdade econômica é decisiva para a ocorrência de desenvolvimento humano e redução de desigualdades.

6. Marx não forneceu quase nenhuma explicação a respeito da sociedade comunista. A resposta para a pergunta "como funciona o comunismo"? não existe nos escritos marxianos. Após a derrubada do capitalismo e do domínio burguês, segundo Marx, instaura-se a ditadura do proletariado e, assim que as condições permitirem, o comunismo se estabelece. Quais condições são essas e quanto tempo leva até que elas surjam, ninguém nunca soube. Pior: há uma incoerência gritante em tal entendimento, de vez que a partir de uma situação ditatorial com concentração máxima de poder, segue-se outra na qual não existe poder. É lógico que o comunismo jamais se concretiza.

7. Sistemas nos quais a propriedade privada e o mercado são abolidos, como no comunismo, atuam como uma cobra que devora o próprio corpo. Ludwig von Mises mostrou que o cálculo não pode ser realizado na sociedade comunista, pois se não há mercado, tampouco há preços; se não é possível precificar, não se calcula e, se não se calcula, não se planifica, pressuposto da economia controlada pelo Estado.

8. A teoria marxiana é nula em termos de psicologia e mentalidade, daí que Marx, cujas pretensões científicas sempre foram absolutas, em momento algum conseguiu provar que as condições materiais definem o sujeito. Por que muitos proletários se tornaram reformistas ou se encontraram dentro do sistema capitalista? O que de fato, é classe social para Marx? Ele não responde. Se a perfeita consciência de classe é apanágio do proletariado devido às condições materiais exploratórias, como é possível que alguém que nunca foi proletário tenha chegado a essa conclusão?!

9. A dialética, processo fundamental para a teoria marxiana, é um mito. Bertrand Russell descartou Marx de modo sumário e categórico afirmando que a dialética é específica do plano lógico, sem qualquer relação com a realidade social (a pobreza e a riqueza são diferentes, mas não contraditórias). Edmund Wilson foi mais além e demonstrou como Engels, parceiro de Marx e do qual ele retirou o conceito de dialética, havia manipulado a Lógica de Hegel: a negação de -a nao é a2, e sim a, sendo que para se obter a2 não é necessário negar, bastando multiplicar axa.

10. No âmbito econômico, a noção segundo a qual o valor dos bens advém inteiramente do trabalho e o lucro ocorre em função do sobretrabalho (mais valia) é central nas análises de Marx. Como tão bem refutaram os economistas austríacos, em especial Eugen von Böhm-Bawerk, Marx errou redondamente ao não considerar elementos importantíssimos em sua teoria da exploração no sistema capitalista: tempo, bens da natureza, recorrência e raridade dos bens, valor de uso. Não é preciso salientar que a negligência de Marx compromete de modo gravíssimo sua compreensão.

PS: Além dos autores críticos de Marx e do marxismo que foram citados acima, recomenda-se a leitura de Raymond Aron, Isaiah Berlin e Leszek Kolakowski. A partir da refutação fundamental de Marx e de seus seguidores, outros autores que discutem aspectos diversos da obra marxiana e de seus discípulos, naturalmente se apresentarão.

sábado, 24 de agosto de 2013

Cubanizando - ou da "democracia" à brasileira


E eis que começam a desembarcar no Brasil os médicos cubanos recrutados pelo governo do PT, em claro conluio com a ditadura castrista. Duas ditaduras esquerdistas em conluio, dois governos autoritários mancomunados, por isso fico estarrecido quando vira e mexe vejo algum sujeito dando declarações impensadas sobre o fato da democracia brasileira estar consolidada. Trata-se de uma típica postura irresponsável, ao léu, sem qualquer confrontação atenta com o se passa por aqui desde 2003. Democracia por quê? Por que existem eleições?! Vão ler Tocqueville, seus imbecis!
O Poder Judiciário, aquele que parecia ser o último bastião do pouco de democracia restante no Brasil, já não dá mostras tão nítidas de tal panorama: Dias Toffoli, Lewandowski, em relação ao qual pululam suspeitas de manipulação de contas do PT e agora também Barroso, que brindou a nação com um discurso vergonhoso, totalmente oposto ao resultado do julgamento da Ação Penal 470 no final de 2012, revelam a paulatina estratégia de submeter a justiça ao Executivo. O mais novo ministro, cirurgicamente indicado com o objetivo de tentar limpar a sujeira petista, independentemente das gritantes evidências contra o partido, mais do que rapidamente tratou de despolitizar o Mensalão e subtrair-lhe o caráter de modus operandi não só relacionado à corrupção em si, mas à aniquilação de uma democracia ainda em estágio inicial de construção e a cooptação dos agentes políticos em nome de um projeto de permanência duradoura no poder. O que justamente diferencia a corrupção petista de outros episódios do tipo, não um agravante do próprio delito, mas uma forma de torná-la muito mais avassaladora enquanto mecanismo de perpetração ditatorial, Barroso procurou descaracterizar desde o primeiro momento.
Voltando aos médicos cubanos, entretanto, que aqui chegam sem a necessidade do Revalida, primeiro grande absurdo que perfaz mais uma ação criminosa do governo petista, fica uma pergunta no ar: quantos destes são realmente médicos? Sim, de vez que pelo que se sabe a respeito da mais do que óbvia intenção do PT de estabelecer o gramscianismo no Brasil, algo que o partido já conseguiu em escala altamente significativa, há fortes suspeitas de que a leva de médicos vinda da ilha dos horrores seja na verdade uma leva de agentes comunistas prontos a fazer com que a disseminação de ideias esquerdistas ganhe ainda mais corpo. No caso de serem realmente médicos, ou pelo menos de haver uma parcela de profissionais da medicina dentre eles, como não ficar chocado diante de uma relação de trabalho como a que se configura neste projeto dos governos do Brasil e de Cuba? O salário será primeiramente repassado aos mandatários castristas e só então pago aos médicos. Onde já se viu coisa dessas?! É uma inversão escabrosa da normalidade, na qual o cidadão paga impostos para o governo, em tese, para ter retorno. O que se apresenta no caso, contudo, nada mais é do que o governo cubano sequestrando o salário dos médicos para depois lhes pagar uma quantia arbitrária, estabelecida sabe-se lá a partir de quais convenções. Trocando em miúdos, o governo do Brasil paga para o governo cubano e este por sua vez paga uma parte do saldo para os médicos, isto é, o PT financia a ditadura cubana às custas do dinheiro do cidadão brasileiro. É para se estranhar ou para considerar trivial em vista dessa mixórdia envolver governos ideologicamente alinhados em torno do comunismo?! Das duas uma: se esses médicos não forem agentes comunistas, são degredados pelo regime cubano que irão trabalhar praticamente como escravos no Brasil. E, na segunda hipótese, se algum deles acreditar ingenuamente que poderá solicitar asilo político em terras tupiniquins, que tire o cavalinho da chuva, pois além de não ser atendido, seria o mesmo que trocar a masmorra pelo calabouço. As palavras do Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, foram categóricas: "o governo irá até o fim, sem retroceder", ou seja, mesmo que a importação desses comunistas, digo, escravos, digo, médicos, forme contornos de conotação inconstitucional, isso é o de menos para o PT. A ditadura gramsciana é absolutamente real!
Antes de dar fim, cabe tecer certas apreciações acerca das denúncias da formação de cartel na ampliação da rede metroviária na cidade de São Paulo, envolvendo o governo do tucano Geraldo Alckmin. Ao contrário do que versa a mentalidade deturpada dos esquerdistas, o PSDB está a léguas de distância de poder ser chamado de "neoliberal", seja lá o que isso queira expressar, mas que na visão pejorativa da esquerda faria do tucanato um partido de direita. O PSDB, exceto em um breve período do início do Plano Real, época de FHC e Gustavo Franco, quando se ensaiaram algumas medidas de cunho liberal, sempre foi uma sigla essencialmente keynesiana, cujo objetivo não é outro senão cada vez mais conferir poder ao governo, bastando analisar os discursos de Serra e Alckmin quando o assunto é privatização para tirar as devidas conclusões. As denúncias de cartelização que atingem o governo paulista constituem mais uma prova do viés burocratizante e centro-esquerdista do PSDB, metido com empresários ávidos pelas benesses governamentais: puro e inconfundível capitalismo de Estado ou, SOCIALISMO. Será que Barroso tem razão?!
Indagado sobre a questão, Alckmin e seus correligionários ofereceram as mesmíssimas lacônicas e tangenciais desculpas esfarrapadas tão caras à ignomínia petista. Só mesmo na mentalidade putrefata de intelectualóides e de seus rebentos produzidos pela (des)educação brasileira, gente sórdida a tal ponto de formular e sair por aí vomitando cretinices como "liberal-fascista" sem dar conta de que a segunda parte da qualificação lhes cai como uma luva, incapazes de diferenciar populismo e democracia, bem como de ir além das referências manjadas (e rigorosamente falhas) que perfazem seus cânones, é que o PSDB pode ser dito liberal. PT e PSDB, duas faces da mesma moeda, a moeda de um Brasil vitimado pelo gramscianismo, agora também estendendo sua perfídia em São Paulo

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

A "mídia" segundo a paralaxe cognitiva esquerdista


Grande parte da sociedade brasileira, enredada pelas pseudofilosofias de esquerda, vive em um estado permanente de paralaxe cognitiva. Esse tipo de distorção da realidade faz com que as pessoas sejam seduzidas por uma miríade de discursos cujo intuito é tornar verdadeiro aquilo que não passa de pura ficção. Não deixa de ser irônico notar que todas essas ideias possuem substrato marxiano, todavia, quando se sabe que a própria teoria de Marx se assenta sobre pressupostos ficcionais, a ironia perde toda a pertinência.
O pensamento de esquerda é desprovido de aparato filosófico-conceitual capaz de organizar argumentação minimamente crível em defesa de seus paradigmas, logo, é muito comum que os arautos esquerdistas lancem mão de invectivas ad hominem ou, quando não existe um alvo específico, as vociferações se dirigem genericamente ad rem, adquirindo viés de culpabilidade depositado na conta de um agente indefinido e supostamente indiferenciado. Nesse último caso, as acusações contra o que eles chamam de "mídia" se tornaram uma regra e uma característica do pensamento de esquerda. O grande problema é que as mentiras deslavadas distribuídas na praça seduzem rapidamente o populacho e, quase de modo instantâneo, são apropriadas pelo senso comum. Assim sendo, pode-se afirmar que o senso comum neste país tem sido mais do que nunca fundamentado em ideias de esquerda, processo no qual os lugares-comuns se revestem também de intenções politicamente corretas. E falsas, inteiramente falsas.
Para a esquerda, em resumo, a "mídia" está a serviço do capital e da "burguesia", uma apreciação que, caso destrinchada, se revela como monumental peça de ficção. Em primeiro lugar, essa ideologia suprime o simples fato de que não existe uma imprensa única e indistinta cuja linha editorial seja idêntica para todos os veículos. Se em relação à imprensa escrita a Veja permanece exclusivamente como um veículo liberal, o mesmo não ocorre com outros semanários de inserção considerável, tais quais Época e Carta Capital, sendo que nessa última as ideias de esquerda encontram meios totais de divulgação. Nos jornais de tiragem diária, tomando apenas o exemplo dos três maiores do país, Estado de São Paulo, Folha de São Paulo e O Globo, em todos, há espaço para o pensamento de esquerda. Mesmo em se tratando do Estado..., dentre esses aquele que mais procura divulgar paradigmas que não são alinhados ao esquerdismo, é possível encontrar, pelo menos três ou quatro vezes por semana, artigos de opinião escritos por pensadores de esquerda: Tales Ab´Saber, Jessé de Souza e Pedro Rocha de Oliveira estiveram ocupando as páginas do veículo recentemente. A cada dois ou três domingos o leitor depara-se com algum esquerdista dando os ares da graça no caderno "Aliás", basta folheá-lo. Uma vez que parcela enorme das pessoas que se dizem de esquerda não conhece nada a respeito do paradigma por elas adotado que vá além dos clichês mais óbvios do marxismo, não há dúvida de que vivem uma completa paralaxe cognitiva. 
Quando se trata da imprensa televisiva, a situação vigente desmente ainda mais o delírio esquerdopata. Exceto pela Cultura, canal de TV que sempre apostou em um perfil diferente do comum, mas ainda assim com espaço para ideias de esquerda, as maiores emissoras de televisão do país constituem veículos com larga predominância do paradigma esquerdista. A Globo, quase uma autarquia nos dias de hoje, historicamente situacionista, está imbuída como jamais visto anteriormente de valores massificados que se combinam perfeitamente com a ditadura gramsciana do PT. No quesito esportivo, tal quadro salta aos olhos e, até mesmo na GloboNews, que por ser um canal de assinatura atinge público mais seleto, sempre que algum fato político ocorre são recrutados "especialistas" para que teçam comentários. "Especialistas" de esquerda..., como Francisco Carlos Teixeira, aquele que mais tem dado as caras por lá. Note-se bem, um esquerdista que é chamado por um canal de notícias para avaliar questões políticas, ou seja, espaço mais amplo para que se divulgue ideias de fundo marxista, não há! Nem é preciso mencionar algumas das entrevistas concedidas por ícones da esquerda que já foram ao ar na GloboNews: Giovanni Arrighi, Eric Hobsbawm, István Mészáros, Zygmunt Bauman, Slavoj Zizek... Já na Band, menos poderosa do que a Globo, mas com capacidade de inserção significativa perante o senso comum, a mesma linha é seguida e, embora a emissora do Morumbi não possua algo como o GloboNews para conferir ares supostamente doutos em temas sociopolíticos, tem Ricardo Boechat, que vira e mexe dá declarações que fariam inveja a Netchaiev ou a Sorel...
Como se pode observar, a dita "mídia", como designada pela esquerda, está recheadíssima com inúmeros exemplos que desmentem categoricamente a noção de que os veículos de imprensa estão a serviço do capital e da "burguesia", uma paralaxe cognitiva tributária das hipérboles e da ficção de Marx.
Em segundo lugar, antes de encerrar o presente artigo, vou explorar um caso não propriamente político-ideológico, mas sim relativo às mentalidades, com o objetivo de mostrar que o senso comum abarcado pela esquerda acompanha o que é divulgado pela "mídia" sem se dar conta, também uma situação notória de paralaxe cognitiva.
O mundo de hoje, especialmente em países subdesenvolvidos como o Brasil, mas sempre pensando em perspectiva global, não indica quase nada que deva incentivar as pessoas a terem filhos: superpopulação, escassez de água e outros recursos, intensa demanda energética, poluição, grande produção de resíduos, trânsito caótico, violência, são aspectos que, no mínimo, servem para pensar em redução do número de filhos por casal. Que fique bem claro: não estou criticando a família, instituição à qual atribuo papel fundamental na formação do sujeito, até porque ter filhos não implica que os pais necessariamente irão cuidar da educação dos mesmos, muito pelo contrário, inclusive, pelo que tem se notado. O que critico é a forma através da qual a paternidade vem sendo tratada em parte considerável da imprensa, panorama gerador de consequências nefastas perante o senso comum.
Exceção feita ao falecido psicólogo José Angelo Gaiarsa, que delirava em certos assuntos, mas que em outros fugia do politicamente correto, a paternidade é frequentemente imbuída de status romântico e paradisíaco. Pelo modo como a questão é vista, tem-se a nítida impressão de que ter filhos - mais de um, preferencialmente - é o caminho mais certo para se seguir, o único, talvez. Uma das cenas mais comuns de nosso cotidiano é ver gente se comprazendo euforicamente quando uma mulher anuncia sua gravidez. Nas novelas, que tanta influência perniciosa oferecem às massas, o último capítulo, quando a audiência sobe aos píncaros, faz aparecer um sem número de grávidas e transmite a mensagem final: "a felicidade chega através dos filhos". Existem poucas ideias com o mesmo poder de convencimento. Na "mídia", em geral, fazer filhos e, quanto mais melhor, é algo amplamente divulgado, uma prescrição que muita gente persegue doentiamente.
Tudo aquilo que atua denunciando a falsidade do pensamento esquerdista, bem como levantando discussões a respeito de pontos de vista cuja base são os pressupostos legados por Marx, - o relativismo pós-moderno, em última análise, é uma derivação marxista das teses marxianas - é associado com a "mídia" direitista e burguesa, pronta a contribuir com um golpe, culpada de divulgar mentiras a respeito da esquerda inocente. Essa "mídia" simplesmente não existe a não ser no universo mental fictício e depravado de todo esquerdista, seja ele um acadêmico, um âncora de TV, um articulista ou um mero partícipe do senso comum engolfado pelo próprio esquerdismo. Vive-se em um estado de total paralaxe cognitiva. Lastimável.

domingo, 11 de agosto de 2013

Dia dos Pais, 19 anos depois


O dia 13/08/1994 foi um domingo de Dia dos Pais, o primeiro que passei sem o meu, que havia falecido em janeiro do mesmo ano. Depois de amanhã, a data completará 19 anos. 
O campeonato Brasileiro de 1994 havia começado no sábado 12/08/1994 e, no domingo, o Palmeiras estrearia jogando em casa contra o Paraná Clube. Com meu avô, fui ao Palestra assistir ao jogo.
Começamos perdendo em um lance fortuito, mas depois... Depois foi um show da Terceira Academia. Um show de Amaral atuando na lateral direita (foi dele o cruzamento preciso para o gol de empate), de Clebão, do sempre lúcido e eficaz Cesar Sampaio, de Evair e de Zinho, principalmente. O centroavante foi o goleador da partida, anotando dois tentos, já o camisa 10 (a 11 passou a ser de Rivaldo), o melhor em campo naquele dia, provou uma vez mais aos imbecis que o chamavam de enceradeira, que era um grande jogador, um meio campista que vem cada vez mais escasseando no futebol atual. Atuando com liberdade para criar, sem ter a obrigação de ficar preso à marcação, como acontecia por ordem do pé de uva na seleção, já degradada naquele período, Zinho regia o meio-campo e ainda aparecia na frente para fazer gols. Edmundo foi discreto no primeiro jogo, mas não faltaram momentos posteriores de pura magia, do mesmo modo que Rivaldo, que envergava pela primeira vez o manto esmeraldino depois de deixar as bandas da Fazendinha, decisão mais acertada de sua vida. Ao longo daquele certame, o rapaz esguio, de bigodinho ralo, humilde e de fala mansa, se mostraria um dos atletas mais decisivos. Que o diga o Branco, jogador medíocre que viu sua carreira se encerrar ao fim da competição, após ser humilhado por Rivaldo.
Como não poderia deixar de ser, com um time recheado de craques, o Palmeiras sobrou no Brasileiro de 1994 e sagrou-se tetracampeão, destruindo na final o rival incolor. Hoje os tempos são outros e a realidade é a Série B. Coincidentemente, ontem batemos o mesmo Paraná, também de virada, na véspera do Dia dos Pais. Apesar de vários momentos para serem esquecidos nos últimos treze anos, o rumo agora está certo. O ano vindouro será de um centenário memorável para o Palmeiras. Tenho certeza. Meu avô e meu pai, que era torcedor incolor, defeito corrigido aos poucos durante a vida, lá de cima, também têm.
Avanti Palestra! Feliz Dia dos Pais!


quarta-feira, 31 de julho de 2013

Iberê Camargo: a antítese da brasilidade


Já usei este espaço anteriormente para escrever sobre a imbecil obsessão de tantos brasileiros, levados de roldão por certas ideias supostamente intelectualizadas, de definir uma identidade nacional. Volto hoje ao assunto, abordando-o de uma forma diferente.
Em seus vários capítulos, a busca patológica e anti-histórica pela identidade nacional teve no Movimento de 1922 sua pedra fundamental, seu ídolo das origens no qual, sempre que manifestada, faz retornar elementos erigidos por aquele grupo de artistas. A partir de então, quase como em um passe de mágica, praticamente todos eles foram imbuídos de uma aura de santidade e adquiriram respeito que não pode ser contestado sob pena de imputação de crime de lesa-pátria ao contestador.
Na esteira do Movimento de 1922, muito bem aproveitado por Getúlio Vargas na conformação da tal identidade brasileira, os traços da chamada brasilidade estabeleceram bases que até hoje se observam largamente recorrentes. Metafórica e sinestesicamente, a brasilidade possui perfumes tropicais, é alegre, alvissareira, quente, musical e radiante; suas cores pulsam vibrantemente e enunciam categoricamente o espírito feliz do povo brasileiro. Mesmo em um Cândido Portinari, onde os temas políticos são bastante nítidos, sempre resta a força dos tipos nacionais como característica redentora. Desconfio que poucas coisas atingem maior grau de pieguice, sentimentalismo barato e efemérides tão enganosas quanto essa brasilidade que emana desde 1922. Nem é preciso ressaltar que à margem do pattern da identidade nacional forjada, sobrevive um certo número de pessoas nada preocupadas com questões identitárias, mas obrigadas a conviver em muitas situações com o falso patriotismo, consequência lamentável desse quadro patológico. Da imposição da brasilidade adveio o ridículo da obrigatoriedade de se valorizar tudo que é nacional. Ao invés do enaltecimento do universal, do sublime, do qualitativo, o nacional se impõe sem ser necessariamente merecedor, pelo contrário. A lógica se inverteu: não que os brasileiros devam produzir cultura de qualidade, mas se é brasileiro, basta para ter qualidade. Cultura, de acordo com essa concepção, passa a ser uma questão telúrica.


Ainda assim, diante de uma brasilidade tão tentacular, não é impossível encontrar manifestações de alta cultura fora de seu círculo. Não, evidentemente, que seja difícil encontrá-la justamente aí, pois é só onde ela tem existido, mas seu espaço fica limitado pela propagação de epígonos: a cultura de massas e a incultura, que lhe é atrelada. Desse modo, é preciso esforço, mas a qualidade hermética daquilo que é confidencial convida as criaturas pensantes ao desvendamento compensador. No campo da pintura, o gaúcho Iberê Camargo (1914-1994) é um representante ímpar de tudo que foge à brasilidade. Iberê, por assim dizer, é disparado o melhor pintor brasileiro de todos os tempos, propiciador de uma obra em que a qualidade é reconhecível por ela própria, sem ter em momento algum que recorrer aos clichês da brasilidade. De modo completamente oposto aos nomes mais cultuados da pintura brasileira, todos eles presos aos elementos característicos da "identidade nacional", a obra de Iberê jamais faz concessões ao observador, como tão bem colocado por Daniel Piza. A pintura do artista gaúcho é densa, sombria, soturna, insondável e misteriosa. Predominam as tonalidades escuras e os temas não são nada afeitos ao clima alegre e redentor. A atmosfera é de inteira sobriedade e introspecção, nada oferecendo ao observador sem que uma reflexão profunda, detida e dolorosa tenha que ser encarada. Entender Iberê Camargo é desafiá-lo em um diálogo socrático que o artista propõe; tudo está ali sem poder ser categorizado em termos apriorísticos, apenas podendo ser decifrado à custa de um exame devastador da consciência e da interioridade.


Uma vez que a pintura de Iberê se caracteriza por elementos diametralmente contrários à brasilidade, torna-se evidente que seu nome e sua obra sejam reconhecidos somente no seio de uma perspectiva de caráter muito mais seleto do que acontece com as manifestações que se coadunam docilmente com o lugar comum da identidade nacional. Em uma cultura de massas marcada pelo progressivo emburrecimento dos espíritos, isso se acentua fortemente. Por um lado, é extremamente difícil deixar de pensar que a confidencialidade de suas telas constitui uma garantia da alta cultura que as mesmas têm como legado artístico, o que de certa maneira é positivo, pois faz com que permaneçam protegidas da massificação. Por outro, todavia, revela que o Brasil é um país cuja mentalidade de seu povo permanece impermeável à cultura de qualidade, já que esta sempre depende de uma atividade intelectual verdadeira, honesta, diligente e paciente, algo raríssimo por aqui.
A valorização do nacional a partir de motivações puramente telúricas é digna de repúdio, uma prática cretina, afeita à necessidade de domesticação sem a qual nenhum autoritarismo deita raízes - não foi por acaso que a construção da brasilidade deu seu passo mais decisivo nas décadas de 1920 e 1930, nesta então já sob a ditadura de Vargas. Na medida em que a pintura de Iberê Camargo é um exemplo incomum de manifestação artística brasileira da mais alta qualidade, ela deve sempre merecer os mais honoráveis louvores.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

A figura dominante e as ideias no claustro - um conto

"A ignorância produz atrevimento, a reflexão, vagar". Péricles

"Nada é mais presunçoso do que a ignorância ligada à convicção de que se possui ciência". - Erasmo de Rotterdam

Augusto chegou e tão logo sentou-se para aguardar o início do curso. Estava ali sem grandes expectativas, pois já sabia mais ou menos com o que se defrontaria, mas no fundo, nutria um pouco de curiosidade com relação aos detalhes discursivos, conceitos e ideias que seriam expostos por aquela cuja posição ocupada era francamente proeminente.
Naquele lugar, caso o sujeito estivesse imbuído do desejo de obter conhecimento com vistas ao enriquecimento cultural e, mais sublimemente, como condição fundamental na construção da personalidade e fortalecimento do domínio moral, o esforço necessário se mostrava tamanho, que facilmente fazia soçobrar os menos persistentes. Somente nas brechas, no silêncio confidencial e nos momentos crepusculares é que se conseguia escapar dos lugares comuns impostos pela brutalidade do patrulhamento. O maior dos louvores é merecido a todas (e poucas) mentes isentas e verdadeiramente compromissadas com o saber que ousaram estabelecer pontos fora da curva. Outros, a maioria, preferiam aderir por comodidade, fraqueza de espírito, ignorância, ou uma combinação de tais fatores, ao catecismo que sempre iam buscar no século XIX, reeditando-o sem critério e escrúpulos, ao bel-prazer da vã ideologia.
A exposição de Veridiana seguiu dentro do que Augusto esperava. Era o mesmo discurso que ele já havia escutado um bom número de vezes desde que frequentava aquele lugar. Não mudava a característica imprecisa, sendo que o receituário era transmitido em bloco, sem quaisquer distinções em termos de fase ou de modo a enfrentar os problemas filosóficos, históricos, sociológicos ou econômicos da coisa toda. Uma questão de incapacidade? Sem dúvida, haja vista que a conformação do tipo de pensamento que ali se disseminava não ia além de uma deformidade daquilo que já havia surgido em suas próprias origens, como uma enorme deformação. Entretanto, era algo além de incapacidade, uma deformação não apenas epistemológica, mas sobretudo moral. Qual nível de degradação se atinge no apego irracional a dogmas tão equivocados? Questão difícil! A um pano de fundo que, ao mesmo tempo que se mostrava encerrado em seu fatalismo, nunca deixava de fazer apelos à necessidade da práxis, maneira ardil na tentativa de descartar todos aqueles que não compunham o perfil do "novo homem", somava-se uma série de erros grotescos, de natureza conceitual, ou até mesmo puramente cronológica, factual, quantitativa. Augusto teve uma vez mais a nítida impressão de que o programa era erigido com clara intenção prescritiva, o que não era, de modo algum, uma novidade. Ele se remoía em suas entranhas mentais buscando uma explicação capaz de indicar o motivo do fascínio exercido pela figura dominante, contudo, como não poderia deixar de ser, retornava aos mestres: Ortega y Gasset, Albert Camus, Hannah Arendt ou Isaiah Berlin já haviam oferecido contribuições profundas acerca do tema. Ao contrário do que versava o próprio catecismo transmitido por Veridiana e seus pares, cada vez mais percebia a força das ideias! Para o bem, mas infelizmente, mais para o mal, pois o pensamento dominante é pródigo em verbalizar e adotar a sumária estratégia do descarte de tudo o que não tem explicação no seio de sua rigidez paradigmática. Vem daí sua força sedutora, porque ele simplifica a complexidade do real, cria campos opostos, angeliza e demoniza, recorrendo a um suposto curso histórico como forma de ameaçar quem resiste à sedução. O grande Eugen Von Böhm-Bawerk não pensou em outra coisa quando declarou que "as massas não buscam a reflexão crítica: simplesmente, seguem suas próprias emoções; acreditam na teoria (...) porque a teoria lhes agrada".
Houve uma ocasião em que Augusto se utilizou de Tocqueville e de François Furet para argumentar sobre a Revolução Francesa. Pensadores contrários à corrente dominante. Veridiana iria replicar? Não houve réplica alguma. Polidez por parte dela, ou falta de interesse em promover a discussão? Augusto tentou pensar diferentemente, mas o desinteresse era uma evidência. Veridiana dominava burocracias, gerenciava e atuava no que, cinicamente, designava-se por "produção do conhecimento". A tal ponto sua figura estava cristalizada como dominante, que nada precisava desenvolver como contribuição. Raízes se fincavam desde muito tempo e o domínio era não só pragmático como mental, o pior e mais tenebroso de todos os domínios. Uma grande horda de coadjutores cativos estava sempre pronta a defender a figura dominante de Veridiana. Eles se encarregavam de manter vivas as ideias da doutrinadora, mais ainda do que as ideias dela, as ideias daquele catecismo mundano continuamente reproduzido desde que surgiu e se apossou das mentes da multidão. Todos têm alguma noção do legado concreto da doutrina, mas o legado epistemológico é o mais sombrio, aquele que justifica as consequências passadas e presentes em nome de um futuro falso e inatingível. Figura de força, ideias dominantes. Ideias no claustro. Até quando?

terça-feira, 16 de julho de 2013

Cidades históricas de Minas Gerais: breve memorando turístico

Igreja de São Francisco de Assis, em São João Del Rei

Juntamente com minha esposa, estive passando alguns dias nas cidades históricas de Minas Gerais. Fomos para São João Del Rei, cidade na qual ficamos hospedados, Tiradentes, Congonhas e Ouro Preto, além de termos passado por Bichinho, Coronel Xavier Chaves, Prados, Resende Costa e Santa Cruz de Minas, povoados menores da região. Por questões logísticas, não foi possível visitar Mariana.
É sempre bom conhecer lugares diferentes e, de uma maneira geral, pudemos descansar e ter contato com a arte, a cultura, a história e a natureza que permeiam o chamado Circuito do Ouro. Por outro lado, é evidente que em se tratando de Brasil, acaba-se também enfrentando certos problemas que prejudicam o turismo no país, prova de que falta uma ampla quantidade de investimentos essenciais para tornar a atividade turística sólida e geradora de divisas nestas terras. Nenhum evento sazonal ou esporádico pode suprir tal carência, pois é algo que está relacionado com planejamento, manutenção e fiscalização, elementos que só são possíveis e eficazes caso se façam permanentemente e em diálogo com a sociedade e a iniciativa privada. O enorme potencial turístico brasileiro é inversamente proporcional às precárias políticas que o gerenciam. Mais um ponto no qual há muito tempo os governos no Brasil deixam de atuar devidamente.
Em termos específicos, a cidade de São João Del Rei, dotada de grande riqueza cultural, faz saltar aos olhos a deficiência do turismo brasileiro. A localidade conta com cinco igrejas principais que se dispõem no espaço de modo a formar o desenho de uma cruz: São Francisco de Assis, a que apresenta maior tesouro artístico, Nossa Senhora das Mercês, simples, porém muito charmosa, Nossa Senhora do Rosário, a mais antiga da cidade e quase sempre fechada à visitação, Nossa Senhora do Carmo, marco do Rococó mineiro e, finalmente, a Matriz de Nossa Senhora do Pilar, de exterior carrancudo e sem graça, mas cheia de ouro na parte interna. Além das igrejas, há museus, memoriais, solares e outras construções históricas que poderiam atrair bem mais turistas do que a cidade hoje tem como capacidade e vocação. O número de pousadas não chega a ser ínfimo, mas em termos gastronômicos, comer uma pizza de mussarela minimamente aceitável, pode exigir um esforço hercúleo, a não ser que o turista se satisfaça com massa de pão e salsa desidratada no lugar de orégano ou manjericão fresco, artigo quase de luxo. Não demora muito para notar que a mão de obra na cidade é escassa, fato que faz o comércio sofrer, especialmente o comércio de artigos típicos, que tem mais dificuldade de contratar, exatamente porque falta estrutura turística. Mesmo sendo uma cidade relativamente pequena, São João Del Rei possui trânsito um tanto quanto bagunçado e a sinalização é ruim, quando não inexistente, sobretudo nas saídas para estradas, onde se torna ainda mais necessária (em termos gerais, a precariedade se faz presente em vários trechos rodoviários). O problema maior, no entanto, é a ocupação desenfreada nos morros que cercam a cidade, tornando-a desagradável no que tange ao aspecto urbanístico. Não há uma lei que proíba ou sequer restrinja a construção fora dos padrões históricos e arquitetônicos, tampouco uma delimitação quanto às áreas nas quais construir é permitido. Nesse caso, o argumento esquerdista e politicamente correto aponta para a especulação imobiliária como responsável, sem se dar conta da completa ausência de planejamento familiar no Brasil, grave lacuna que deveria ter sido preenchida há pelo menos quarenta anos. Pudemos reparar inúmeras mães portando crianças de colo, com mais um ou dois filhos pequenos a pé, indo na direção de algum lugar. Mães muitas vezes bastante jovens, ainda longevas em termos de período fértil. Vale ressaltar que dentre as cidades que visitamos, somente Tiradentes escapa do crescimento urbano desenfreado. O centro histórico é muito mais preservado arquitetonicamente, de modo que o casario colonial típico se harmoniza com a Matriz de Santo Antonio, também recheada de ouro, no alto da cidade. A gastronomia de Tiradentes igualmente se mostra mais sofisticada e variada do que na vizinha São João Del Rei, inclusive para quem não quer chegar nem perto de carne. Se irá se manter assim, não se sabe.

Tiradentes e a Matriz de Santo Antonio ao fundo

Em Congonhas, o conjunto artístico da Basílica de Nosso Senhor Bom Jesus de Matosinhos é sem dúvida o ponto alto da viagem às cidades históricas mineiras. Apesar de alguns argumentos bastante convincentes que retiram de Aleijadinho a aura de mestre, as cenas do calvário de Cristo, talhadas em cedro, e principalmente as estátuas dos doze profetas em pedra sabão, conferem ao local uma característica pitoresca, mais pela atmosfera do que pela arte de Antonio Francisco Lisboa, indubitavelmente grosseira em certos detalhes. De um lado uma Congonhas desfigurada pelo mesmo problema que São João Del Rei, do outro, no alto da colina, com as estátuas quase flutuando no céu junto à Basílica, a impressão de que o santuário religioso se isola do resto do mundo, mantendo resguardados a paz e o silêncio, é nítida e quase palpável. O senão fica por conta dos anos e anos de vandalismo, cujas marcas inscritas perduram no macio da pedra sabão. Felizmente, hoje em dia, a vigilância é bem mais atenta.

 
A Basílica de Nosso Senhor Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas

Em Ouro Preto a visita teve que transcorrer rápida, sendo que o tempo foi suficiente somente para que visitássemos as atrações mais icônicas da cidade: a Igreja de São Francisco de Assis, cuja fachada é considerada a mais grandiosa do barroco mineiro e o teto, pintado por mestre Ataíde, o segundo mais bonito do mundo, ficando atrás da Capela Sistina, a Matriz de Nossa Senhora do Pilar, cuja quantidade de ouro no interior é uma das maiores no Brasil e a Nossa Senhora do Carmo, que cativa o turista devido aos azulejos portugueses junto à capela-mor, além do adro panorâmico. Se a riqueza artística, cultural e histórica de Ouro Preto faz com que a cidade lidere em importância o Circuito do Ouro, conferindo-lhe o justo título de patrimônio histórico da humanidade, a desatenção urbanística das últimas décadas, também com justiça, poderá subtrair a conquista.

O rebuscamento barroco na Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto

As cidades menores e os povoados que citei no início não nos chamaram muito a atenção. Em teoria, o artesanato é o forte em todos esses lugares, mas falta criatividade para variar o repertório das peças, demasiadamente similares e que podem ser encontradas aos borbotões nas lojas de Tiradentes sem que o preço varie tanto. Fica algum destaque para Resende Costa, que apresenta leque mais amplo de peças em tear.
A viagem às cidades históricas de Minas Gerais, como qualquer outro destino brasileiro, certamente proporciona prazer ao turista, tanto culturalmente, quanto em relação à beleza natural, que se pode desfrutar em uma caminhada por trechos preservados de vegetação nativa, observando fauna, flora e respirando ar puro. Em sentido oposto, é preciso paciência para driblar os problemas típicos de um país que não explora corretamente a atividade turística. Pelo bem e pelo mal, é a cara do Brasil.